Cidades

Criança de 14 anos é a primeira a se submeter a um transplante de rim no DF

postado em 02/09/2011 08:00
O estudante Mateus Oliveira comemorou ontem os 14 anos de vida em um quarto no terceiro andar do Hospital Universitário de Brasília (HUB), na Asa Norte. A internação, contudo, não é motivo de tristeza para o garoto de poucas palavras. O presente de aniversário veio antecipadamente: um rim. Doente desde 2008, o menino viu-se livre das diálises semanais, das dores e do cansaço permanentes. Em 13 de agosto, Mateus foi a primeira criança a receber o órgão no Distrito Federal.

O menino sofre de síndrome de Berger. A doença é caracterizada pela presença de anticorpos que se assentam nos rins, causando infecção e, posteriormente, insuficiência (veja infográfico acima). O pai, o paramédico do Corpo de Bombeiros José Agmar de Matos, 43 anos, incansável ao lado da cama de Mateus, conta que, no começo de 2008, Mateus percebeu inchaço nas pernas e sangue na urina. Os sintomas foram associados a um problema renal, mas o diagnóstico só foi feito no fim daquele ano, depois de uma biópsia. ;Nós não sabíamos que o caso era tão grave e o transplante seria necessário;, lembra. ;Mas o Mateus foi piorando, os rins falharam e nós não tivemos outra saída a não ser começar a hemodiálise no início de 2011;, acrescenta.
Mateus, ao lado do pai, sonha em voltar à escola no ano que vem
As sessões eram feitas três vezes por semana. Primeiramente, no HUB ; onde Mateus ficou internado por três meses ; e, depois, no Instituto Nephron, no Gama, onde o menino vive. O estudante mora com o pai, a mãe, Simone Helena, 43 anos, e o irmão, Gabriel, de 17. Ninguém na família havia apresentado, até então, qualquer tipo de problema renal. Simone já tinha feito o exame para detectar se poderia doar o rim ao filho, mas foi considerada incompatível.

O tratamento deixava o garoto fraco e com fadiga constante. A doença chegou a atrapalhar os estudos. Mateus abandonou a escola no início do ano. ;Todo o tempo dele era ocupado com as diálises e a recuperação. Sempre voltava muito cansado do hospital;, conta José Agmar. O pai garante que, em 2012, Mateus volta para a escola, a fim de terminar a 7; série do ensino fundamental. ;Ele é inteligentíssimo. Quando descobrimos a doença, já havia pesquisado tudo e conversava com os médicos;, orgulha-se o paramédico.

Batalha
As perspectivas de transplante eram baixas para o garoto. Até então, nenhum hospital do DF realizava esse tipo de cirurgia em crianças. ;O corpo de um menino ou uma menina é menor, mais frágil e, por isso, exige muito cuidado. A cirurgia é resultado de anos de trabalho e estudo de uma equipe de cirurgiões e pediatras;, explica o nefrologista e coordenador de Transplante Renal do HUB, Giusepe Cesare Gatto, responsável pela cirurgia.

Na cama do hospital, Mateus se diverte com a forma como descobriu que receberia o órgão. ;A gente estava em Caldas Novas (GO) quando o médico ligou e falou que um doador havia morrido e tinha um rim para mim;, conta o garoto. ;Foi uma correria. Nós fomos avisados às 23h e tínhamos que estar aqui para a cirurgia às 6h do dia seguinte;, completa o pai.

Giusepe Gatto contatou a família assim que descobriu que o doador era compatível com o estudante. ;Menos de 12 horas após o rim ter sido extraído, nós já estávamos colocando-o no Mateus.; O garoto se recupera bem da cirurgia e já havia recebido alta, mas voltou ao hospital no último dia 22 por conta de uma infecção urinária. ;Nesse tipo de processo cirúrgico, nós temos que reduzir a imunidade do transplantado para impedir que o corpo rejeite o órgão, o que facilita a ocorrência de infecções desse tipo;, justifica o nefrologista.

A síndrome de Berger não tem cura. Mateus pode desenvolver a doença outra vez e, por isso, precisa estar sempre alerta a qualquer alteração no organismo, como febres e infecções. ;Ele vai ter uma vida normal, mas com limites. Nós vamos ter de acompanhar o Mateus constantemente. Ainda assim, é um alívio para a gente ver nosso filho livre desse sofrimento;, conta José Agmar.

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