O Banco de Brasília (BRB) registrou um lucro líquido recorde de R$ 111 milhões nos primeiro semestre deste ano. Na comparação com o mesmo período do ano passado, ocorreu um crescimento de 11%. Além do foco no servidor público, a instituição busca novos caminhos para atrair clientes do setor produtivo. Projetos direcionados às áreas rural, industrial e imobiliária diversificaram a carteira da instituição e surtiram efeito. Ocorreu um aumento do desempenho nesses segmentos nos últimos seis meses em 63%, 65% e 26%, respectivamente.
Outros fatores considerados fundamentais para sustentar o ganho no semestre foram a busca pela renegociação de dívidas e a recuperação de valores que haviam sido deixados de lado; o tratamento mais rigoroso durante a análise de contratos, a fim de evitar prejuízos ou desvios; e ainda o crescimento no volume das concessões de crédito, totalizando R$ 4,1 bilhões este ano, contra R$ 3,3 bilhões no primeiro semestre de 2010, uma expansão de 24,8%.
A falta de pessoal qualificado, principalmente para aprimorar a área de tecnologia, a necessidade de ampliar os pontos de atendimento ao cliente e de levar a rede para fora do Distrito Federal estão entre alguns dos desafios a serem enfrentados neste semestre e ao longo de 2012. Mas nem de perto eles chegam a lembrar a situação pela qual o banco passou nos últimos anos, quando a instituição estava praticamente falida e lidava com fortes pressões para ser privatizada. Em meados de 2007, o assunto foi levado adiante. A opinião pública e o Sindicato dos Bancários questionaram a posição do governo, que deixou o projeto de lado.
Ainda no ano passado, o BRB sofreu com a perda de clientes. Foram 19 mil contas desativadas. No entanto, neste semestre, outros 12,3 mil correntistas foram conquistados. O aumento de 23,9% no valor do patrimônio líquido do banco ; R$ 795, 8 milhões ; aponta para uma situação mais confortável (veja Quadro). Os ativos também cresceram 21,7%, passando de R$ 7,1 bilhões para R$ 8,7 bilhões na comparação entre junho de 2010 e igual mês deste ano. Os novos indicadores são vistos como um exemplo de que a instituição está sólida, preocupada apenas com os desdobramentos da crise no mercado internacional, mas bastante confiante de que não haverá efeitos diretos nos resultados obtidos até agora.
Entrevista
Guilherme Fernando Scandelai
Como o senhor avalia o resultado obtido neste primeiro semestre?
De forma muito positiva. O objetivo do banco é crescer, nós estamos preparados para isso. Desenvolvemos diversas ações nos primeiros seis meses, organizamos as atividades, revisamos o planejamento, ajustamos o foco. Além disso, nos aproximamos do setor produtivo e ampliamos o número de contas ativas. Em 2010, houve uma perda de 19 mil clientes. Porém ,apenas de janeiro a junho, registramos um crescimento de 12,3 mil contas. Também tínhamos a previsão de alcançar um lucro de R$ 101 milhões neste primeiro semestre e superamos esse valor. Chegamos a R$ 111 milhões, 11% acima de igual período do ano passado.
Qual foi o suporte criado pelo banco para permitir que houvesse lucro neste primeiro semestre?
Fizemos uma grande modificação na estrutura de governança do banco. Isso significa que projetos, como havia no passado e que são hoje questionados pelo Ministério Público, por exemplo, não podem mais passar. Houve uma transformação na estrutura de controle. Agora, a análise de um contrato deve passar por diversas áreas e cada uma delas possui um papel muito bem definido. Arrisco dizer que é impossível ter novamente o mesmo tipo de problemas como aqueles do passado.
Quais são os objetivos da atual gestão?
Nosso foco sempre foi a pessoa física. Mas, desde o início do ano, começamos a expandir o leque, levar opções vantajosas para as pessoas jurídicas. Para conquistá-las, estamos ampliando nossos pontos de atendimento, nos aproximando dos clientes, dos centros de produção, das indústrias e do setor agrícola. Queremos ser a principal instituição financeira do Centro-Oeste.
O banco pretende se aproximar do setor privado, mas as pessoas
físicas são as que mais abrem contas. Como explicar esse fato?
O nosso público preferencial não mudou: é o servidor público. Foi para ele que criamos o contra-cheque eletrônico e é para que ele que vamos oferecer, a partir deste mês, uma família de produtos específicos, que vai facilitar, por exemplo, o financiamento imobiliário a juros muito competitivos. Estamos mudando o nosso atendimento fisicamente também pensando nessas pessoas. Claro que estamos empenhados em nos aproximar do setor privado, mas os investimentos no atendimento pessoal continuam, inclusive abriremos uma agência específica, até o fim do ano, apenas para receber aqueles que têm débitos com o banco.
Como essa agência vai funcionar?
Temos um passivo muito grande para recuperar. São dívidas abertas com o banco que não foram pagas em um período superior a seis meses. Recentemente, fizemos um mutirão e mais de 780 processos pendentes foram analisados. Fizemos acordo em 77% dos casos, com isso, R$ 7 milhões foram recuperados. O que vamos oferecer é um espaço mais discreto, com uma estrutura mais eficiente para essas pessoas. A nossa previsão é ter esse lugar até o fim do ano e vamos fazer um uso dele mais intenso a partir de 2012.
Qual pode ser apontada como a principal carência do banco?
Havia uma carência enorme na área de tecnologia da informação. Digo havia porque foi feito um grande investimento nesse setor no primeiro semestre. Hoje, estamos praticamente no mesmo nível das outras instituições financeiras do mercado. Mas ainda pretendemos estender a aplicação de recursos nessa área neste segundo semestre e no ano que vem. Ter problemas em T.I. significa atrasar os trabalhos ou não conseguir sequer concluir uma operação. Vamos olhar esse problema com lupa e estamos com um concurso aberto para repor o nosso efetivo. Serão mais 110 profissionais para integrar este quadro.