Cidades

Escritores locais apostam em livros que exploram a culinária da capital

postado em 03/09/2011 15:37

Raimundo de Oliveira reuniu causos de sua terra natal e as receitas da família para compor o primeiro livro, Coisas de Minas
Por morarem em uma cidade nova e pequena, quando comparada a grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, os brasilienses costumam reclamar da oferta de serviços de qualidade em várias áreas. No setor da gastronomia, porém, os motivos para insatisfação são cada vez menores. A todo instante, casas dos mais variados estilos e preços são inauguradas na tentativa de agradar um público cada vez mais informado e exigente. De olho nessa tendência, editoras da cidade tiram do forno livros sobre a culinária da capital na mesma velocidade em que surgem novos bares e restaurantes, dando origem a alguns best sellers locais.

Chama a atenção a variedade de temas dessas publicações. São homenagens às tradicionais casas da cidade, pesquisas acadêmicas sobre técnicas ou ingredientes típicos, livros técnicos voltados para estudantes e até a reunião de receitas e contos de famílias. Cada uma contribuindo de forma significativa para a consolidação de Brasília no ramo da literatura gastronômica.

De acordo com Bete Bheringer, editora chefe da Editora Senac-DF, o público de Brasília tem alto poder aquisitivo e, por isso, pode gastar mais com as boas coisas da vida, inclusive alimentação. Os donos de restaurantes já perceberam esse perfil da capital e buscam transformá-la em um centro de referência gastronômica. ;Já temos chefs importantes e casas premiadas. Isso aumenta o interesse do público da capital pelo tema;, analisa. Além disso, Brasília tem um público diversificado, formado por pessoas de várias origens, o que estimula a curiosidade sobre a origem dos diversos pratos.

Na opinião da especialista, para que uma obra faça sucesso é preciso trazer algo novo, que desperte o interesse das pessoas. ;Estamos editando um livro sobre sushi que vai dar o que falar. Trata-se de uma publicação completa sobre o assunto, sendo esse o diferencial, pois os outros livros sobre o tema são fragmentados;, antecipa.

A produção dos livros às vezes nasce para atender as necessidades do público ou simplesmente do próprio escritor. Depois de passar anos procurando material didático apropriado para ensinar a seus alunos os segredos das bebidas e coquetéis, a professora de turismo, hotelaria e gastronomia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Luli Neri Riccetto resolveu reunir seu conhecimento em uma obra que servisse de referência aos aprendizes. Segundo ela, nas livrarias só era possível encontrar títulos sobre bebidas específicas, como vodca ou uísque.

;Como eu já tinha montado apostilas para os cursos e o material estava bem completo, resolvi publicá-lo;, conta. Assim nasceu Uma dose de conhecimento sobre bebidas alcoólicas (Senac-DF). Luli explica que tentou fazer um material com linguagem mais universal, para que todas as pessoas pudessem apreciá-lo. O livro, que terá noite de autógrafos em 13 de setembro, na Fnac do ParkShopping, passou a fazer parte do plano de ensino da UCB. Para a especialistas, o crescimento das produções literárias se dá não só em Brasília, mas em todo o Brasil. ;O setor gastronômico só cresce;, diz.

Confraternizações
Para Íris Borges, proprietária da distribuidora Arco-íris, Brasília virou um centro gastronômico que só perde ; mantidas as devidas proporções ; para São Paulo. Ela também vê o alto poder aquisitivo como a razão de um mercado tão fértil. Outra característica da cidade que colabora para o grande interesse do público pelo comer bem é o costume, já arraigado à cultura do brasiliense, de organizar confraternizações ao redor da mesa. ;Os encontros de trabalho ou entre amigos sempre giram em torno de um menu, e é muito legal mesmo fazer algo gostoso para alguém comer e depois receber os elogios;, avalia.

Todo esse interesse movimenta a produção dos livros. ;As pessoas buscam mais informações e, percebendo esse nicho, os escritores colocam a criatividade em prática;, afirma Íris, que mantém em casa um fogão à lenha todo decorado com poesias escritas à mão, numa união perfeita entre literatura e culinária. A empresária considera que as obras que mais agradam os leitores são aquelas que aliam histórias com receitas. ;A descrição do lugar em que aquela determinada comida foi preparada, a contextualização do prato e a receita dão asas à imaginação. É uma delícia viajar com tudo isso;, alegra-se.

Seguindo essa linha, Raimundo de Oliveira botou no papel os ensinamentos e delícias de sua família e terra natal em Coisas de Minas (Senac -DF). A ideia, ele conta, surgiu quando sua mãe ficou doente. ;Ela reclamava da comida do hospital e passávamos a noite lembrando os pratos da família. Iniciei as pesquisas, coloquei no papel e procurei a editora. Já estamos na segunda edição;, ressalta. Oliveira, que é de Juiz de Fora, adicionou ainda no livro informações sobre os escritores mineiros, brincadeiras e causos, uma forma de exaltar a ;terra do trem bão;.

;É sim um livro de gastronomia, mas, sobretudo, sobre coisas mineiras;, explica. Na publicação, Oliveira adicionou ainda explicações passo a passo de receitas que têm tudo para agradar o público masculino, como a cerveja artesanal, a linguiça caseira e o vinho. ;Cerca de 90% das receitas são da minha família;, salienta. O gosto pela pesquisa foi tanto que Oliveira entrou na faculdade de história e já escreveu mais dois livros, ainda não editados, sobre a Bahia e o Centro-Oeste. ;Meus trabalhos têm cunho didático e isso interessa a muitas pessoas;, avalia.
Íris Borges, ao lado de seu fogão adornado de poemas: literatura gastronômica é nicho promissor

Praticidade à mesa
Um dos livros sobre gastronomia mais bem-sucedidos do mercado editorial brasiliense é Nunca mais pergunte o que fazer para o almoço (LGE), de Maria Alice Bittencourt e Vânia Monteiro Vilalva. A obra apresenta técnicas do preparo de pratos e sugere menus completos para cada dia da semana, com direito a lista de compras. ;Testamos tudo, daí a certeza de que as receitas vão dar certo;, explica Maria Alice. ;Às vezes, pela rotina, esquecemos de receitas práticas e gostosas e o livro está aí para isso, para relembrar esse pratos e facilitar a vida das pessoas;, completa. O livro vendeu tanto que atualmente não é encontrado nas prateleiras de nenhuma livraria e ganhará nova edição em breve, dessa vez pela Senac.

Para ler e cozinhar
Alquimia dos alimentos
; Wilma Maria Coelho Araújo, Raquel Braz Assunção Botelho, Nancy de Pilla Montebello e Luiz Antônio Borgo
; Editora: Senac-DF

; Já na segunda edição, que foi revisada e ampliada, a obra mostra que a ciência dos alimentos é surpreendente, e que conhecê-la e entendê-la é fundamental para quem deseja desenvolver técnicas e habilidades ligadas à transformação dos alimentos na sua preparação. Algumas das informações apresentadas podem ser aplicadas no dia a dia da cozinha e despertar curiosidade para realizar pesquisas mais detalhadas sobre outros tópicos

Brasil Sabor Brasília ; Segredo dos chefs 2011
; Editora: Senac-DF / Abrasel

; Com 87 receitas inéditas, o livro prova o crescimento quantitativo e qualitativo do setor gastronômico no Distrito Federal. Organizada pela Associação brasileira de bares e restaurante do Distrito Federal, a publicação traz receitas como as do Espaghetti al Burro, do Babel; do Croque Monsieur, da Confeitaria Francesa; do Peito de Frango à Kiev, do Fred; e do Tibornada de Bacalhau à Lusitana, do Norton Grill.

O dom de Francisco
; André Ramos e Marta Moares (coordenadores), Jaime Sautchuk (texto)
; Editora: Senac ; DF

; O livro mostra como pode ser servida uma comida simples e de qualidade, que traz lembranças da infância, num clima de restaurante sofisticado. Francisco Ansiliero, o personagem principal da obra, é dono e chef do restaurante Dom Francisco, inaugurado em 1998. Além de receitas do restaurante, o livro está recheado de fotos, histórias e orientações sobre os pratos que fazem sucesso com o público brasiliense. O volume faz parte de uma coleção que já revelou os segredos de outras casas da cidade, como Beirute e Carpe Diem.

Receita

Pãezinhos de milho, do livro Coisas de Minas

Ingredientes
2 claras de ovos batidas em neve
1 xícara de chá de farinha de trigo
1 xícara de chá de fubá mimoso
1 xícara de chá de leite
2 colheres de sopa de fermento em pó
1 colher de sopa de manteiga, margarina ou banha
1/2 colher de sopa de sal

Modo de preparo
Misturar rapidamente os ingredientes. Colocar pequenas porções em um tabuleiro untado e polvilhado com fubá. Assar em forno quente. Muito bom se servido quente com manteiga.

Dica: se quiser, coloque cubinhos de queijo minas ou parmesão ralado a gosto.

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