Cidades

Instituições de ensino superior investem pesado fora do Plano Piloto

Antonio Temóteo
postado em 05/09/2011 07:17
A saturação no Plano Piloto e a ascensão de milhares de brasilienses para a classe média fizeram as instituições de ensino superior se proliferarem pelas cidades do Distrito Federal. Ao longo dos últimos quatros anos, em especial, os empresários da educação descobriram o potencial dessas regiões. Levantamento feito pelo Correio com base em dados do Ministério da Educação comprava a descentralização: quase 60% do total de câmpus universitários do DF estão localizados fora de Brasília, incluídos o Plano Piloto, os lagos Sul e Norte e o Sudoeste.

O avanço da economia mexeu com o sistema de ensino em todo o país. Com o aumento da renda, os brasileiros passaram a frequentar os bancos escolares por mais tempo e provocaram uma demanda até então inexistente. A descentralização do acesso aos cursos superiores no DF ocorre de maneira tão intensa quanto, por exemplo, a expansão do mercado imobiliário. Das 98 unidades de ensino cadastradas no MEC, 57 funcionam em cidades fora do Plano Piloto.

Desde 2007, após 10 anos de crescimento a taxas exponenciais, a procura por ensino superior nos grandes centros se estabilizou, forçando novas estratégias educacionais. Tornou-se necessário migrar para outras regiões e conquistar públicos diferentes. Taguatinga virou o principal alvo. Hoje, a cidade concentra 18 instituições, seguida de Ceilândia e Gama, ambas com sete. Guará e Águas Claras oferecem seis opções cada. Na área central, onde ficam quatro em cada dez faculdades, a Asa Sul abriga o maior número de unidades de ensino: 25. Há um ano e meio, o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), já consolidado nas asas Sul e Norte, inaugurou a unidade de Ceilândia. Os cursos contam com praticamente a mesma infraestrutura e o mesmo corpo docente, mas com preços até 40% inferiores.

O investimento na cidade mais populosa do DF é considerado um estudo de caso por consultorias de educação. Em Ceilândia, somente o curso de administração do Iesb possui 1,2 mil alunos, 500 a mais do que o total de matriculados na mesma graduação no Plano Piloto. ;Foi uma aposta acertada. Estamos exercendo um papel social extremamente importante;, afirma a diretora do Iesb, Eda Coutinho. De acordo com ela, muitos estudantes gostariam de dar continuidade aos estudos, mas não tinham condições de se deslocar até Brasília para frequentar as aulas.

Novos alvos
Os planos de expansão das universidades não incluem mais o Plano Piloto. E o motivo não é apenas a falta de espaço. ;A tendência do ensino superior é a descentralização. Temos que caminhar para as regiões periféricas, onde há um deficit histórico de acesso ao ensino;, diz Gustavo Castro, um dos diretores do Instituto Processus. Em dois anos de funcionamento, o total de alunos na unidade de Águas Claras cresceu 146%: de 264, em 2009, para 650 neste segundo semestre de 2011.

A oportunidade de estudar perto de casa mudou os planos profissionais de Luiz Cláudio Matias de Sousa, 44 anos. Ele largou a iniciativa privada para cursar gestão financeira e se preparar para concursos públicos. ;Como não preciso ir mais até o Plano, tomei a decisão de voltar a estudar;, diz Sousa, que mora em Samambaia e está matriculado em uma faculdade em Águas Claras. Os dois filhos fazem o mesmo curso que ele. A família tem desconto de 20%: cada mensalidade sai por R$ 309.

Os preços mais acessíveis e a proximidade de casa também seduziram Jordano Domingos Gonçalves, 21 anos, morador de Taguatinga. Ele paga cerca de R$ 400 no curso de secretariado. ;Pago mais barato do que em muitos cursos do Plano e não preciso ir tão longe;, afirma o jovem, que cursa sua primeira graduação. ;Estou buscando uma melhor qualificação para enfrentar o mercado de trabalho.;

As instituições perceberam a necessidade de se aproximar de uma clientela de renda inferior a que estavam acostumadas a tratar como público-alvo. Ryon Braga, presidente da Hoper Consultoria, especializada em educação, avalia que, ao se instalarem nas demais cidades do DF, as universidades cumprem um importante papel de inserção social. No entanto, ele estima que em cinco anos pelo menos 10 escolas não consigam se manter no mercado. ;Algumas crescerão muito, mas outras desaparecerão.;

No caso do Centro Universitário Unieuro, o salto fora do Plano surpreende. O câmpus de Águas Claras abriu as primeiras turmas em 2005. Na época, 320 moradores da região sul do DF garantiram vagas. O semestre iniciado no mês passado começou com 3 mil alunos: um crescimento, no período, superior a nove vezes. ;O crescimento era esperado, mas não imaginávamos que ele ocorreria tão rapidamente;, conta o diretor da unidade, João Bacelar.

Confiante em uma demanda aquecida nos próximos anos, a Unieuro está construindo mais um prédio com dois andares e capacidade para 16 salas em Águas Claras. A intenção é atingir a meta de 5 mil matriculados. No ano que vem, deve ser inaugurada a unidade de Sobradinho. ;As novas classes C e D estão tendo a possibilidade de fazer boas faculdades fora do Plano. Essa expansão é uma tendência;, afirma.

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