Cidades

Parceria entre escola e fazenda oferece aulas de educação ambiental in loco

postado em 10/09/2011 08:00
Uma volta de barco no rio que corta a fazenda visitada foi um dos programas que prenderam a atenção dos estudantes
Na fazenda Ver de Perto, a cerca de 35km de Luziânia (GO) , tudo parecia diferente para uma turma de crianças habituadas à vida cercada por concreto, em frente à tela da televisão ou do computador. A fazenda é um dos nove empreendimentos do projeto Turismo Rural e Escola Fazendo Eco, cujo objetivo é levar a experiência do campo e a história e vida no cerrado a alunos de escolas públicas e particulares do DF e do Entorno. Na última quinta-feira, alunos do 3; ao 5; ano do Centro Municipal de Educação Básica (Cmeb) Maria de Nondas, de Luziânia, fizeram uma visita ao empreendimento Ver de Perto ; a primeira de uma escola ao local este ano.

Era uma aula sobre meio ambiente fora do comum. As crianças, com idade entre 9 e 11 anos, caminharam sobre uma pequena trilha descalças e com os olhos vendados. Guiadas por uma corda, elas experimentaram sentir o mundo usando olfato, tato, paladar e audição ; nada de olhar durante a trilha, que representava a evolução do homem. Além da vegetação natural, havia areia, água, estátuas, pedras, pedaços de ferro, pneus, pratos, comida, frutas, sinos, doces, livros e pessoas.

O passeio, que durou o dia todo, mistura o aprendizado com brincadeiras e momentos de lazer para os alunos. A fazenda é uma imensa sala de aula ao ar livre. Nas árvores, há placas com informações sobre as características e o nome científico. No passeio à nascente dentro do terreno da fazenda, a professora Maria de Souza Duarte, proprietária do local, explicava: ;Nós ensinamos como o cerrado pode ser produtivo, se tiver os cuidados certos;.

O programa é baseado no projeto de classes transplantadas, que funciona há mais de 40 anos na França. ;Toda criança francesa passa de 10 a 14 dias num empreendimento rural e aprende de forma lúdica com um conteúdo curricular;, resume Maria, que presenciou as visitas quando morou naquele país, na década de 1970. Cada empreendimento tem um plano pedagógico próprio, de acordo com as características do local. Dentro da proposta de destacar a necessidade de preservar o meio ambiente, são abordados temas assuntos como a história do cerrado e o manuseio de plantas típicas deste bioma, entre outros.

Interesse aumenta
Antes e depois da visita, os professores discorrem, na escola, sobre os temas que serão discutidos durante o passeio. Até agora, o método tem dado certo. ;Percebemos mais interesse dos alunos em sala de aula. Até os pais têm interesse em vir quando as crianças contam o que viram na excursão;, conta Ana Lúcia Teodoro, professora do Cmeb Maria de Nondas.

As crianças confirmam as palavras da professora. ;Aprendi que a terra é uma coisa especial, que todo mundo tem que respeitar e cuidar das árvores;, disse Brunna Martins Rodrigues, 9 anos. E tudo isso sem deixar de se divertir. ;Gostei do trator e de tomar banho de cachoeira. Achei bom ter essa aula aqui;, comemorou Eduardo de Matos Bezerra, da mesma idade.

Parcerias
O Fazendo Eco é um projeto do Sindicato de Turismo Rural e Pedagógico de Brasília (Ruraltur), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com o Sindicato das Escolas Particulares do Distrito Federal (Sinep-DF). Segundo a presidente do Ruraltur, Maria Inês Ávila, o projeto com as escolas públicas depende de negociações com a Secretaria da Educação. ;Eles ainda devem trabalhar a programação do próximo ano para obter o recurso e viabilizar as visitas;, afirma.

Para Maria Duarte, que foi secretária de Cultura em 1995, no governo de Cristovam Buarque, um dos principais empecilhos para a implantação do projeto no DF é a falta de permanência dos secretários no cargo. ;Nos últimos 10 anos, houve nove secretários de Educação;, lembra. Segundo ela, o Ruraltur iniciou um novo processo de implementação das classes transplantadas, mas a mudança no comando da Secretaria de Educação atrasou os planos.

As escolas públicas de Luziânia participam do projeto desde 2006, após uma sanção de lei que determina este tipo de atividade. No DF, a Lei n; 3.664/2005 também prevê a implantação de classes transplantadas no sistema de ensino público, para proporcionar o aprendizado no campo e a convivência com o meio rural. De acordo com Maria Duarte, entretanto, o projeto não saiu do papel, ;apesar dos muitos entendimentos entre sindicatos e a Secretaria de Educação;. Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação do DF, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que os funcionários habilitados a comentar o assunto não estavam presentes. Até o fechamento desta edição, não houve retorno.

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