Juscelino Kubitschek será sempre lembrado como o criador de Brasília. Um chefe de Estado arrojado, político habilidoso, franco defensor da liberdade e da democracia. A história imortalizou seu apelido, ;Presidente Bossa Nova;. Mas difícil mesmo era JK resistir às canções reproduzidas pelos violões dos seresteiros. Ele não fugiria à tradição de Diamantina, cidade mineira onde nasceu, em 12 de setembro de 1902. E é com essas baladas que o Clube dos Pioneiros de Brasília vai homenagear os 109 anos de nascimento do mais querido ex-presidente brasileiro. Amanhã, no espaço da futura sede do clube, sob a luz da lua cheia, convidados dançarão as baladas preferidas de JK, interpretadas pelo grupo de seresta Peixe Vivo. É a Noite Mineira.
A participação desses seresteiros é especial por vários motivos. O grupo foi fundado em 1950 pelo próprio JK, então governador de Minas Gerais. A escolha do nome se deu por esta ser uma das canções prediletas do político. Até um disco com os seresteiros o ex-presidente chegou a gravar. Muitos dos músicos que compuseram a formação original da banda ainda tocam. ;Juscelino iria gostar de estar nessa festa;, aposta Roosevelt Dias Beltrão, presidente do Clube dos Pioneiros.
Depoimentos atestam a opinião de Beltrão. Uma das figuras políticas mais memoráveis e queridas da história brasileira caminhava para cima e para baixo da capital em obras com legítimos pés de valsa. ;Ele gostava demais de dançar. E dançava muito bem;, conta Jupyra Ghedini, vice-presidente da congregação de pioneiros. A relação de JK com a música ultrapassava a cadência dos passos. Diversos compositores escreveram músicas sobre ele. A expectativa é de que a maioria dessas canções seja recriada nos acordes dos 17 seresteiros do Peixe Vivo.
Tradição
O espírito da celebração pode se traduzir nos primeiros versos da música Saudade de JK, de Moacyr Bueno. Diz assim: ;Hoje acordei com saudades daquele menino/Que ao nascer Diamantina chamou Juscelino/Homem de pulso tão firme e de fala tão mansa/Um presidente candango de um povo esperança;. Para o presidente do Clube dos Pioneiros, esta é a missão primordial da congregação. ;Nosso dever é preservar a memória de JK. Ele pensou em tudo. Criou o clube para não deixar a história de Brasília;, avalia.
Esta será a quarta edição da festa. A Noite Mineira foi concebida para rememorar o lado divertido, sem cerimônia, de JK. ;Nossa celebração mais tradicional é a de 21 de abril. Já faz parte da agenda oficial da cidade. Mas é uma festa cerimoniosa. Quisemos trazer também esse lado de descontração. Essa é a festa mais autêntica em homenagem a JK;, emenda Jupyra. No ano passado, 300 pessoas compareceram. A expectativa é a mesma para este ano. No cardápio, delícias de Minas e quitutes adorados por JK: leitoa à pururuca, lombinho de porco e caldos. E, claro, em festa mineira a cachaça não pode faltar.
A música e a comida típica são ótimos motivos para participar da homenagem a JK. A neta do presidente, Anna Christina Kubitschek Pereira, deve prestigiar o evento. Mas a ocasião é também uma oportunidade para velhos amigos se reverem. É talvez o momento para atualizar as novidades e recontar anedotas que jamais perderão o encanto de uma geração sui generis. ;Há quem chore;, garante Jupyra. ;Juscelino foi o maior presidente do Brasil. Diria até do mundo. Ele comandou o país, criou uma cidade inteira em cinco anos, acompanhou obras, dirigiu operários ao mesmo tempo. Tudo com uma simplicidade extraordinária;, completa.
Data nacional
Tão notório foi o apreço de Juscelino pelas linhas melódicas românticas, suaves e envolventes, que a data de seu aniversário passou a ser também o Dia da Seresta.