postado em 16/09/2011 07:41
Quem vê a égua brincar e correr com o filhote dentro do cercado de grama não imagina o sofrimento vivido por ela. A mãe, que hoje tem pelo vistoso e aparência feliz, há três meses caiu de um caminhão em movimento. Foi arrastada sobre o asfalto durante metros, por estar presa pelo pescoço a uma corda. Outro motorista fez o flagrante com câmera de celular, em 17 de junho, na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB). A imagem circulou nos principais veículos de comunicação do país. O vídeo motivou a abertura de inquérito na Delegacia de Meio Ambiente de Brasília (Dema) para apurar a responsabilidade pelo crime ambiental. O dono do animal e o do caminhão, atualmente, respondem por maus-tratos, na Justiça.
Em julho, a égua foi encaminhada ao Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (Hvet). Lá, recebeu cuidados médicos, carinho e atenção. Ganhou um nome: Aparecida. Foi batizada por causa de sua complicada chegada ao centro de saúde. ;Ligaram dizendo que iriam trazê-la para o Hvet. Duas semanas depois, ela não havia chegado. Sumiu. No dia em que a égua chegou, alguém deu a ideia de chamá-la de Aparecida, porque ela apareceu;, explicou o vice-diretor do Hvet, o professor Raphael Teixeira.
Aparecida teve luxação no ombro e ferimentos na pata dianteira esquerda e no pescoço. Sentia dor e não conseguia andar. Pouco depois da entrada do animal no Hvet, os veterinários descobriram que Aparecida esperava um bebê. A gestação da égua dura 11 meses, aproximadamente. ;Ela é uma guerreira. Foi um milagre não ter perdido o filho na queda. Quando Aparecida chegou ao hospital, recebeu carinho ainda mais especial do que o dedicado a todos aqui;, contou a residente em veterinária Martha Bravo, 24 anos. A égua pariu na madrugada do dia 7 deste mês. Deu à luz uma fêmea. O filhote ainda não tem nome. A direção do Hvet convida os leitores do Correio a votarem para escolher entre as opções: Pátria (por ter nascido no Dia da Independência), Brasília ou Cidinha.
Conforto
Ao saber da gravidez, os médicos foram ainda mais atenciosos com Aparecida, na tentativa de amenizar a dor do animal. Deixaram a fêmea em um cercado individual. Desde o início, prepararam cama farta e confortável para ela, feita de palha e capim. Medicaram-na com anti-inflamatórios e analgésicos. Deram-lhe água, sal mineral e capim à vontade. A égua engordou e já pesa 350kg. Agora, depois de uma temporada de maus-tratos, Aparecida vive dias de rainha.
Depois da divulgação do vídeo, a polícia deu início às buscas pelo animal. Encontrou Aparecida por meio de uma denúncia anônima, em 14 de julho deste ano. A Pró-Anima, uma organização não governamental (ONG), ofereceu R$ 300 a quem trouxesse informações. A égua vivia em uma chácara perto de Brasília. O dono, um carroceiro, a vendera a um comerciante.
O novo proprietário pagou R$ 150 pelo frete. ;O carroceiro, então, procurou um transporte com a carroceria fechada, mas o frete custava R$ 200. Ele contratou um frete de R$ 100, em um carro aberto, amarrando o animal com uma corda, e o resultado foi a queda;, informou o delegado-chefe adjunto da Dema, Richard Moreira. Em uma curva para a esquerda, Aparecida despencou do carro. Os responsáveis podem ter como pena detenção de 3 meses a 1 ano e multa estipulada pelo juiz.
Sem nome
Aparecida não vive sozinha. Há uma semana, ganhou a companhia de outra égua adulta, chamada Delicinha. Esta chegou ao Hvet depois de ser atropelada. Também estava prenhe. Agora, as duas são chamadas de comadres pelos médicos e passam os dias juntas, ao lado de seus filhotes. O bebê de Delicinha também não ganhou nome ainda.
O Hvet recebe animais de grande porte do DF e do Entorno. Por lá passam equídeos, suínos, bovinos, ovinos e caprinos. Esse é um hospital escola, utilizado por alunos da UnB e de outras universidades federais do Brasil. Diariamente, em média, 100 estudantes fazem uso das instalações, na Granja do Torto.
O hospital foi inaugurado há 10 anos. Nesse tempo, registrou quase 4 mil atendimentos. Com a mesma atenção, os médicos cuidam de animais de raça e dos bichos de rua ou que foram apreendidos pela polícia após denúncias de maus-tratos. O atendimento à população carente é gratuito.