Os integrantes mais novos e mais velhos de famílias de baixa renda do Distrito Federal estão em situação particularmente vulnerável. Essa é a constatação dos pesquisadores da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Ao analisar as condições de estudo e emprego de homens e mulheres entre 15 e 29 anos, constatou-se que eles passam pouco tempo na escola e têm dificuldades para arrumar emprego. Como consequência, 58,4% dos 72,3 mil jovens não desenvolvem atividades remuneradas. A falta de oportunidades dificulta a escalada social.
A situação é pior para aqueles com mais de 20 anos. Para se ter ideia, entre os jovens de 20 a 24 anos, apenas 22,9% concluíram o ensino médio e 7%, o nível superior. Na mesma faixa etária, 49% não trabalham. Desses, 38,2% estão fora das salas de aula. Na faixa de 25 a 29 anos, a situação é semelhante: 58,4% estão sem ocupação, mas, 27% deles fazem algum tipo de curso e 1,9% tem diploma de ensino superior. ;É preocupante a acentuada parcela de jovens que não estuda ou trabalha. É uma situação que pode favorecer o aumento da delinquência;, aponta a pesquisadora Miriam Ferreira.
Entre a população jovem inserida no mercado de trabalho, 58,4% têm carteira assinada e 20,2% não são registrados. A pesquisa aponta que 17,4% de trabalhadores mais novos são autônomos. ;O baixo poder aquisitivo das famílias apressa a inserção no mercado de trabalho e, em geral, a juventude se submete a condições precárias e baixos salários;, analisa Ferreira.
Educação
Contornar as visíveis implicações à qualidade de vida do idoso de baixa renda é talvez uma das missões mais difíceis para os gestores públicos. Como no restante do Brasil, no DF, as mulheres de baixa renda têm expectativa de ganho maior, sendo, portanto, dominantes (57%)entre as pessoas acima de 60 anos. A renda média do idoso no Distrito Federal é R$ 632 e esse montante é responsável por 38% da renda domiciliar em que vive o idoso. Mas, assim como com os jovens, a questão de educação é a que mais preocupa.
[SAIBAMAIS]Em um universo de 16.676 idosos com menor poder aquisitivo, 20,2% são analfabetos ; número razoavelmente superior ao índice geral do DF, que é de 15,7% para a população dessa faixa etária. Entre os iletrados, apenas 1,4% estão matriculados em algum curso de educação para adultos. Mas a baiana Joana Pereira, 60 anos, não entrou nessa estatística. Quando chegou a Brasília, em 1983, o único conhecimento que tinha era o da lavoura, que vivenciou ao longo dos 30 anos vividos ao lado dos seus pais, antes de abandonar a terra onde nasceu. Na capital federal, Joana resolveu estudar para se ocupar. ;Já rodei todos os colégios de Ceilândia e de Samambaia, até que acabei o ensino médio no Centro de Ensino Médio 03 de Ceilândia;, relembra.
O desejo não surgiu somente pela vontade de aprender. A escola era o local onde ela se alimentava. ;Eu não tinha dinheiro para comer e, lá, minhas amigas e professores me ajudavam com trocados, além da merenda que eu sempre tinha lá;, lembra, sem esconder que já passou fome. Apesar do apoio, ainda hoje, ela passa dificuldades. ;A única renda que eu recebo é R$ 130 do Bolsa Família e a ajuda de irmãos da igreja e de amigas que me dão cesta básica. Agora, só quero me aposentar.; A renda média em Ceilândia, onde ela vive em uma casa construída pelos familiares e pelos amigos, é de R$ 796, bem acima da realidade de Joana.
Alerta
A pesquisadora Iraci Peixoto, responsável pela fatia da pesquisa sobre idosos, alerta que a população do DF está envelhecendo e, por isso, é imperativo o desenvolvimento de programas sociais mais eficazes para atender a essa população. ;É preciso investir em educação e, principalmente, em qualificação profissional para contribuir com a qualidade de vida, especificamente para os moradores de baixa renda;, avalia.