Cidades

Arrastões frequentes assustam o comércio do Distrito Federal

Nos primeiros sete meses deste ano, 223 restaurantes, bares e lanchonetes foram assaltados ou furtados no Distrito Federal. Na sexta-feira, um estabelecimento na Asa Norte foi vítima de três criminosos armados, que acabaram presos após a ação

postado em 18/09/2011 08:53
Na noite de sexta-feira, o restaurante Ninny, na 309 Norte, foi assaltado: 20 clientes tiveram carteiras, celulares e outros pertences roubados
Todos os dias, pelo menos um estabelecimento do ramo alimentício é alvo de bandidos no Distrito Federal. Levantamento do Departamento de Atividades Especiais (DPE) da Polícia Civil mostra que, nos primeiros sete meses de 2011, 223 bares, restaurantes, lanchonetes e pizzarias foram roubados ou furtados. O Plano Piloto lidera esse ranking. Somente nas asas Sul e Norte, 53 (23,4%) donos de comércios do gênero tiveram prejuízos com a ação de marginais (Veja O mapa do medo). Na última sexta-feira, 20 clientes do restaurante Ninny, na 309Norte, sofreram um arrastão. Por volta das 22h30, três homens armados, entre eles um adolescente de 17 anos, invadiram o local e levaram o dinheiro do caixa, relógios, aparelhos celulares e outros pertences. Segundo as vítimas, a ação durou cerca de cinco minutos. Os assaltantes fugiram em seguida rumo ao Paranoá. Após perseguição, policiais militares conseguiram prendê-los na entrada do Varjão.

Mas não é apenas no Plano Piloto que os assaltos assustam os comerciantes. Taguatinga ocupa o segundo lugar na lista de cidades mais visadas, com 34 ocorrências este ano. A maior e mais populosa cidade do DF, Ceilândia, figura na terceira posição, com 26 casos.

Os números são apenas uma amostra da transformação pela qual a capital passou nos últimos anos. O aumento da população trouxe, a reboque, uma série de problemas relacionados à segurança. Se por um lado a grande concentração de moradores impulsionou as vendas do comércio, por outro, os empresários do setor sentem falta de uma política pública voltada para proteger as lojas, vulneráveis principalmente no período noturno, quando o policiamento ostensivo fica mais desfalcado.

A facilidade para roubar e furtar estabelecimentos do ramo tem feito com que bandidos comecem a ensaiar a formação de quadrilhas especializadas. Em junho, três adolescentes e um homem assaltaram, à mão armada, três casas de refeições em menos de uma semana, sendo duas delas no mesmo dia. A primeira vítima foi uma lanchonete na 106 Sul, que voltou a ser atacada pelos mesmos marginais cinco dias depois. ;Eles chegaram e um deles colocou a arma em cima do balcão. Um outro pegou tudo o que tinha no caixa. Cinco dias depois, eles voltaram. Parece que a polícia ainda não percebeu que essa é uma área muito visada;, conta um funcionário, que preferiu não se identificar.

Recorrente
No mesmo dia, a Pizzaria Fornalha, na 307 Sul, foi assaltada pela segunda vez no ano. O trio de jovens, acompanhado de um homem, não foi tão discreto quanto no roubo à lanchonete. Com três revólveres, o grupo ordenou que os seis clientes e os sete funcionários do estabelecimento se deitassem no chão. Em menos de cinco minutos, eles levaram celulares, bolsas, relógios e outros pertences dos frequentadores. Antes de fugir, ainda esvaziaram o caixa da loja, que tinha cerca de R$ 2 mil. Agentes da 1; DP conseguiram prender os quatro algumas semanas depois. Dois meses antes, o restaurante, que hoje funciona com outro nome, foi roubado de maneira semelhante. O dono do estabelecimento ficou impressionado com a ousadia dos bandidos e já cogita a possibilidade de contratar segurança particular. ;Temos câmeras e alarme, o que não tem inibido a ação deles. Já comecei a avaliar a possibilidade de contratar um segurança particular. Vou ter um gasto exorbitante simplesmente porque o Estado não consegue fazer o papel dele;, reclama Roberto Anhezini.

O medo também ronda os trabalhadores de lojas de Taguatinga. A gerente do restaurante Barriga Cheia, localizado no centro da cidade, Edna Saiki, coleciona ocorrências de arrombamentos. Foram oito em menos de dois anos. ;Muitos bandidos que entram à noite na loja são moradores de rua que ficam durante o dia pedindo esmola. Nós já pegamos um deles tentando entrar aqui na madrugada, reconhecemos o rapaz, mas a polícia faz pouca coisa;, protesta.
Colaboraram Mara Puljz e Diego Abreu




Promessão de reforço
O presidente do Conselho de Segurança de Brasília, Saulo Santiago, preocupa-se com a recorrência de crimes como arrastões em bares e restaurantes da cidade. Para ele, se não houver uma mudança de postura tanto dos empresários quanto das forças de segurança, a tendência é que, em longo prazo, haja um esvaziamento desses comércios. ;A situação está ficando cada vez mais séria, uma vez que muitos desses crimes giram em torno da droga. Muitos usuários arrombam e até roubam lugares onde existe grande movimentação de dinheiro para comprar crack e outros entorpecentes. Deve haver a união entre comerciantes, policiamento e comunidade para tornar o combate à criminalidade eficaz;, analisou Saulo.

Mais PMs
O chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do DF, coronel Sebastião Gouveia, avalia que as estatísticas não estão fora dos padrões aceitáveis. ;Existe a tendência de aumentar a criminalidade onde há maior concentração de renda. Isso ocorre no mundo todo. O que estamos fazendo é nos adaptar e nos antecipar aos criminosos. Estamos intensificando o policiamento motorizado, colocando mais duplas Cosme e Damião rondando as quadras, além de fazer grandes operações visando dar mais segurança aos moradores dessas regiões;, afirmou Gouveia.

O oficial disse ainda que, em breve, a população do Plano Piloto sentirá mudanças nas ruas. Segundo ele, 80% dos 640 PMs aprovados no último concurso público para o cargo de soldado estão em treinamento e devem servir em batalhões do centro da capital. ;Hoje, mais de mil policiais atuam diariamente na área central de Brasília. Esse número deve aumentar substancialmente com a chegada dos novos policiais;, garantiu o coronel da Polícia Militar.(SA)




Palavra de especialista//
Capacidade de resposta
;O mercado de Brasília é propício a crimes como o arrastão, que antes não era visto por aqui. São práticas que se repetem e começam a demandar uma atenção especial das forças de segurança. Acredito que delitos como esse só podem ser evitados com um policiamento preventivo mais eficaz. A Secretaria de Segurança tem feito esforços para melhorar, mas algumas coisas têm de ser mudadas, como a escala da Polícia Militar (a maioria dos militares folga três dias e trabalha um). O DF é a unidade da Federação com mais policiais em relação ao número de habitantes, mas, devido à jornada, trabalhando todos os dias nas ruas, são poucos. A polícia precisa ter capacidade de resposta e antecipação, mas não é isso que está ocorrendo no momento.;
Antônio Testa, sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB)

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