Cidades

ONU espera que, até 2020, as mortes em decorrência de acidentes caiam 50%

Adriana Bernardes
postado em 20/09/2011 08:21
Até 2020, o Departamento de Trânsito pretende reduzir de 461 (dados de 2010) para 230 o número de mortos por ano nas vias do Distrito Federal. Se conseguir, terá atingido a meta da Organização das Nações Unidas (ONU), que proclamou o período de 2011 a 2020 a década de ações para a segurança no trânsito. O intuito é cortar em 50% as mortes em todos os países-membros, inclusive no Brasil. Um desafio difícil de ser vencido, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. O dado mais recente do governo federal é de 2008, quando 38.273 pessoas morreram no país em acidentes de trânsito.

O diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, considera o DF a unidade da federação com as maiores chances de atingir a meta da ONU. ;Temos 3,7 mortes para cada grupo de 10 mil veículos. O índice considerado aceitável é de três óbitos por 10 mil carros. Nosso território é pequeno, a malha viária está saturada, mas, de forma geral, tem boas pavimentação, iluminação e sinalização;, enumera. Além disso, acrescenta Bezerra, o respeito à faixa de pedestre é uma ferramenta importante, além da formação dos futuros condutores nas escolas ; em cursos com seis meses de duração. ;Acabamos de formar a primeira turma (em um colégio privado). As próximas serão em escolas públicas do Gama e de São Sebastião. Não haverá em todas as instituições porque a Secretaria de Educação disse que não pode liberar os professores para a capacitação;, ressalta Bezerra (veja plano de ações na matéria abaixo).

Na avaliação do superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTT), Marcos Pimentel Bicalho, o Brasil tem capacidade para cumprir a meta no prazo estipulado. Mas isso exigirá decisões políticas fortes que os governantes, os parlamentares e o Judiciário têm evitado tomar, especialmente em relação a uma punição mais rigorosa dos infratores. Para ele, a palavra-chave é o fim da impunidade. ;No Brasil, é como se um Boeing lotado caísse todos os dias. Quando isso acontece, há uma comoção geral. No entanto, se as vítimas são no trânsito, ninguém se importa, acha normal. Mas as pessoas não têm o direito de matar ao volante e sair impunes;, defende.

Ações pontuais
Doutor em engenharia de transportes e presidente do Instituto de Certificação e Estudos de Trânsito e Transporte, José Leles de Souza acha pouco provável que se consiga reduzir as mortes pela metade até 2020. ;Já estamos atrasados. Até agora não temos uma política global nem ações concretas e coordenadas, mas, somente, campanhas pontuais;, analisa. Para Leles, a coordenação da meta teria que estar subordinada diretamente aos chefes do Executivo em todas as esferas da administração pública (Presidência da República ou Casa Civil, no governo federal; governadores, nos estados; e gabinete do prefeito, nos municípios). ;Assim, teríamos mais agilidade e efetividade nas ações. Sem um plano geral de gestão de trânsito, a próxima década servirá apenas para darmos um grande passo rumo à redução das mortes. Talvez, atinjamos o resultado almejado apenas em 2030;, acredita.

Em curto prazo, os órgãos de trânsito devem atuar com prioridade na fiscalização e na punição dos condutores, defende Dirceu Rodrigues Alves, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional e diretor de comunicação da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Em longo prazo, ele cita a necessidade de investimento pesado na educação dos futuros condutores, como preconiza o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). ;As regras de circulação, cidadania e as leis de trânsito devem ser ensinadas desde a pré-escola até o jovem completar 18 anos. Precisamos de uma mudança radical na cultura da população. O Estado deve exigir o cumprimento do CTB. Se a lei estivesse sendo respeitada, teríamos tempo suficiente para atingir a meta;, ressalta Alves.

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