postado em 20/09/2011 09:34
Sérgio Porto*Falar do "Guimarães", como era conhecido, e especialmente para os habitantes de Brasília, me leva a destacar um pequeno trecho que escrevi na introdução ao seu livro sobre a sua atuação como chefe da divisão de urbanismo da Novacap durante o desenvolvimento do Plano Piloto de Lucio Costa.
"Só definiu a Estaca Zero, o ponto de encontro dos dois Eixos Principais de Brasília, depois de interpretar com bastante rigor as plantas topográficas do levantamento aerofotogramétrico restituído na escala 1:2000, isto debaixo de enorme pressão exercida pela obra que precisava dar início imediato aos trabalhos em atraso, pois já decorriam seis meses do período de quatro anos restantes do mandato do oresidente Juscelino, tempo este gasto na definição da estrutura técnica que viria compor a Novacap, companhia criada com a finalidade de executar as obras da cidade, nisto compreendido o desenvolvimento do projeto vencedor do concurso do Plano Piloto da capital.Era, portanto, muito natural o empenho de se dar inicio, prontamente e sem delongas, a terraplanagem dos eixos principais da cidade.
A demora na análise do levantamento topográfico restituído, assumida pessoalmente pelo então recém-empossado chefe do urbanismo, era por ele considerado o ponto inicial para a implantação da cidade e merecia estudo minucioso que, ao contrário de aumentar o atraso já em curso, resultaria no acerto da cuidadosa escolha eleita, como, aliás, se constatou mais tarde, evitando-se inevitáveis e sérias dificuldades, em especial as decorrentes dos movimentos de terra previstos na composição do futuro Eixo Monumental. Como em outros trabalhos em que participamos juntos, foi, também, com um livro francês de matemática adquirido por ele que se efetuaram os cálculos absolutamente precisos das coordenadas geodésicas de todos os pontos notáveis que constituíram a estrutura urbana da cidade. E isto com valores altíssimos, com quatro casas decimais depois da vírgula, e com a ajuda de uma única e simples máquina manual de cálculo, da marca Facit.
Guimarães foi o único colaborador indicado por Lucio Costa para compor a pequena equipe que com ele trabalhou. Do início dos trabalhos, em abril de 1957 até a inauguração da capital, decorreram 1112 dias, sendo gastos no desenvolvimento do projeto urbanístico pouco menos de 700 dias úteis de trabalho, descontados os dias de descanso (sábados, domingos e feriados).
Trabalho sem atropelos, em meio expediente, de meio-dia às 18 horas, tudo em clima de absoluta descontração e dedicação séria aos trabalhos dos membros da enxuta equipe de trabalho. Um verdadeiro feito!
*Arquiteto que participou da equipe que ajudou Augusto Guimarães Filho a desenvolver o projeto do Plano Piloto