Cidades

Alunos do CEM 12 são os primeiros beneficiados pelo projeto Rap hour

postado em 20/09/2011 13:00

O rapper Nego Joe (E) na sala de aula:


A presença de traficantes próximo à escola incomoda a direção e assusta alunos que não são usuários de drogas. Quando soa o sinal da saída, à luz do dia, os bandidos estão preparados para oferecer
crack, maconha, cocaína e muito mais a crianças e adolescentes. A cena ocorre diariamente em colégios de todo o Distrito Federal. Em um deles, o Centro de Ensino Médio 12 de Ceilândia, na QNP 13, a batalha diária contra o vício ganhou aliado poderoso na manhã de ontem: a arte.

De surpresa, alunos receberam a visita de integrantes da banda Racionais MC;s, além do cantor e compositor carioca Mongol, o rapper e produtor cultural Marquim (Tropa de Elite), o DJ Jamaica e o campeão mundial de vale-tudo Marcelo Tigre. A turma se reuniu para falar sobre drogas e bullying. ;Os dois problemas andam juntos. Quando o jovem é valorizado, ele não escolhe usar drogas;, explicou o organizador do evento, Valdemar Cunha, do Instituto Caminho das Artes (ICA).

Ontem, estudantes empolgados tomaram conta do pátio do CEM 12 para assistir à apresentação. O encontro faz parte do projeto Rap hour, que preenche com atividades diversificadas um espaço de 60 minutos nas escolas ; um intervalo cultural, estrategicamente criado com essa finalidade. Nos próximos dias, 25 escolas públicas de Ceilândia receberão a visita de famosos. A verba para promover a mobilização veio de emenda parlamentar da Câmara Legislativa. A expectativa dos organizadores é a de receber mais dinheiro e levar artistas a outros centros de ensino localizados em cidades de baixa renda.

Obrigação social
O rap foi o ritmo escolhido por agradar a maioria dos jovens envolvidos no projeto. ;Estamos aqui para cumprir uma obrigação social. A gente vê de perto da realidade das ruas e não pode fechar os olhos para isso;, afirmou o músico Nego Joe. Os integrantes do Racionais MC;s KL Jay e Edy Rock também deram seu recado. ;Uma grande nação se faz com educação. Educação é autoestima e não está só na escola, precisa existir em casa, na rua. O cantor de rap, muitas vezes, é tido como herói, alguém que não precisou ir pelo caminho errado para se dar bem, por isso somos espelho;, disse KL Jay.

Os meninos e meninas captaram a mensagem, entre uma música e outra. A estudante do 2; ano Raylliane Cunha, 17 anos, aprovou a iniciativa. ;Cresci ouvindo Racionais. Quando eles falam, a galera escuta com atenção porque se identifica com eles;, observou. As amigas Paula Alves, Aline Santos e Giselle de Castro, todas de 16, concordam. ;Com um show desses, estão incentivando os jovens a procurarem outra saída, o caminho certo;, destacou Aline, em referência à campanha antidrogas veiculada durante essas visitas.

O diretor do CEM 12, Edson Castro, aproveitou a oportunidade para pedir o apoio na luta contra as drogas: ;A gente faz o possível para afastar essa realidade do colégio. Mas, sem o apoio de toda sociedade fica difícil. O vício é muito cruel;.

Experiência
Os adolescentes escutaram com atenção o relato de Marcelo Tigre. O lutador sofreu bullying na adolescência. ;Todos os dias, um cara ficava parado na frente da escola e me dava tapas. Comecei a treinar para combatê-lo. O meu agressor se afundou nas drogas, enquanto eu só pensava em esportes. Aprendi com as artes marciais que você não deve lutar com os mais fracos. Eu ganhei o mundo, ele está na cadeia;, relatou, aplaudido pela plateia.

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2009 apontou que Brasília é capital do país com mais vítimas de bullying. Cerca de 35,6% dos estudantes sofreram esse tipo de violência. Logo em seguida, aparecem Belo Horizonte, com 35,3%, e Curitiba, com 35,2%. Uma pesquisa do consultor educacional Ricardo Chagas, publicada em maio desse ano, apontou também que a cada grupo de 10 estudantes, três sofrem bullying nas escolas do DF.

Além de pesquisar o problema em Brasília, Chagas percorreu Belém, Fortaleza, Rio de Janeiro e Macapá para ouvir alunos, pais, professores e profissionais da área. Na capital federal, visitou cinco colégios e entrevistou 700 alunos entre o oitavo ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio. A intenção é colocar em prática um projeto para combater a humilhação.

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