Cidades

Taxa de mortalidade no trânsito entre os homens é 158% superior à feminina

Adriana Bernardes
postado em 24/09/2011 08:27
Infelizmente, o último ano da vida do meu irmão foi assim: bebia muito, dirigia alcoolizado e em alta velocidade

A chance de um homem perder a vida em um acidente de trânsito no Distrito Federal é maior do que a das mulheres. Para cada grupo de 100 mil motoristas habilitados, acontecem 22,75 mortes. Já entre elas, o índice é de 8,79. A agressividade masculina ao volante, associada a fatores de risco, como o excesso de velocidade e a combinação de álcool e volante, estão entre as possíveis causas de a taxa de letalidade no trânsito ser 158,8% superior à feminina.

Entre janeiro e junho deste ano, 193 homens e 43 mulheres perderam a vida em colisões nas vias da capital. Em termos absolutos, eles representaram 81,7% das mortes, enquanto elas, 18,2% dos casos. Há um ano e quatro meses, uma família de Taguatinga sentiu o peso dessa estatística. Em 22 de maio de 2010, o policial militar Anderson da Silva Rodrigues morreu em um violento acidente automobilístico, aos 28 anos. ;Com ele, se foi a metade da nossa vida. Minha mãe adoeceu. Meus mais se separaram. Fiquei sem ninguém para dividir a responsabilidade da casa e com uma tristeza enorme. Hoje, sou só eu para cuidar de todos;, desabafa a assistente de departamento pessoal Andressa da Silva Rodrigues, 28, irmã do militar.

O inquérito das causas do acidente indicou que Anderson estava alcoolizado e sem o cinto de segurança. Segundo Andressa, o irmão perdeu o controle do veículo, subiu no canteiro central e bateu em um ônibus que trafegava no sentido contrário. Com a batida, ele foi arremessado para fora do veículo. ;Infelizmente, o último ano da vida do meu irmão foi assim: bebia muito, dirigia alcoolizado e em alta velocidade. Era capaz de chamar a minha atenção quando eu corria, mas não conseguia enxergar o próprio erro;, lamenta.

Baseada na experiência pessoal e em observações diárias, Andressa se arrisca a dizer que os homens morrem mais por acharem ser muito autossuficientes. ;Eles acreditam ter maior controle da situação, independentemente de estarem passando por algum problema, andarem embriagados ou em alta velocidade. Essa confiança extremada é decisiva;, acredita. Segundo especialistas, Andressa tem razão.

Exposição
Coordenadora de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde, Marta Maria Alves da Silva ressalta que um dos principais motivos é a exposição do homem no trânsito. ;A maioria dos motofretistas são do sexo masculino. A quantidade de homens dirigindo caminhões, ônibus, táxis e conduzindo bicicletas é muito maior;, observa. Mas não é só isso. O comportamento masculino tem influência direta nas tragédias.

Segundo Marta Silva, de forma geral, eles dirigem de forma mais agressiva, enquanto a mulher se porta de forma defensiva. ;Até as seguradoras já descobriram isso e cobram mais barato pela apólice quando a mulher é a proprietária do veículo;, lembra. A associação de fatores de risco que levam à ocorrência de acidentes aparece como o terceiro motivo para o alto índice de mortalidade masculina. ;A mistura de álcool e direção e o excesso de velocidade são os dois principais fatores para a ocorrência de acidentes no Brasil. No DF, não é diferente;, analisa.

Na opinião do professor Harmut Günther, do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília, os números servem de alerta e devem motivar um estudo de caso por parte das autoridades de trânsito. É preciso saber se os homens perderam a vida ao provocar um acidente ou se foram apenas vítima, se eles são condutores ou pedestres. Só então, segundo Harmut Günther, será possível fazer intervenções com resultados concretos na redução das estatísticas.

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