postado em 24/09/2011 11:37
A demolição do painel de Athos Bulcão no posto de combustíveis da concessionária Disbrave, na 503 Norte, além das inúmeras obras do artista degradadas no Distrito Federal, despertou a preocupação daqueles que defendem a preservação do patrimônio artístico e cultural de Brasília. Oscar Niemeyer, o arquiteto que emoldurou com monumentos a capital do país e trabalhou diretamente com o artista plástico, lamentou a derrubada ocorrida na última quarta-feira. Ele compôs muitos prédios com as cores, as formas e a iluminação pensadas por Bulcão. ;É uma pena, uma perda para a história de Brasília;, disse (leia entrevista ao lado). O Correio visitou ontem 10 trabalhos de Athos no DF e averiguou que pelo menos sete revelam os sinais do descaso.Azulejos quebrados e sujos e desenhos desfigurados fazem parte desse cenário. Na Escola Classe da 407 Norte, além da ferrugem e do mato que cresce no meio dos painéis de cor branca e azul, um varal foi estendido em frente à obra do artista. No interior da instituição de ensino, panos de chão e camisetas concorrem com o legado tombado pelo Governo do Distrito Federal, em 2009. No Mercado das Flores, nas proximidades do Cemitério Campo da Esperança, o painel está com os azulejos arrebentados. Na antiga Rodoferroviária de Brasília, cimento, gordura, peças brancas e até um ar-condicionado se misturam à criação de Athos.
Os outros locais visitados pela reportagem, como a área externa do Teatro Nacional, o Parque da Cidade, a Secretaria de Saúde e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), apresentam problemas semelhantes. Na Emater, que funciona hoje no antigo prédio da Câmara Legislativa, cadeiras velhas e móveis usados escondem a beleza do azul, do verde e do branco de Bulcão. Somente na área interna da Disbrave, no Setor Hospitalar Sul e no foyer do Teatro Nacional, os trabalhos apresentam perfeitas condições de preservação.
Desvalorização
A diretora executiva da Fundação Athos Bulcão (Fundathos), Valéria Cabral, conhece o desrespeito que atinge o legado do artista. Segundo ela, se Athos Bulcão estivesse vivo, não gostaria de ver que os 50 anos dedicados à cidade não são valorizados. ;Existe o descaso em muitas obras. Falta manutenção e educação. Se as pessoas cuidassem, não seria necessário reformar completamente os locais;, advertiu. Exemplo de que bons modos podem dar certo são os lugares que mantêm os projetos originais. ;São 261 criações e existem diversas em bom estado. O Congresso Nacional e o Palácio do Itamaraty estão nesta lista.;
Para ela, um currículo diferenciado nas escolas brasilienses poderia ajudar a resolver parte do problema. A sugestão é que os alunos das redes pública e privada conheçam a história cultural da cidade e desenvolvam apreço pelos artistas que fizeram parte dela. ;A educação patrimonial tem que ser uma matéria prioritária nas escolas. O cuidado só pode ser conquistado a partir do conhecimento;, analisou Valéria.
Reformas
Como a fundação não tem recursos para reformar tudo o que deseja, Valéria contou que a entidade tenta conseguir apoio por meio de concursos. No último de que a Fundathos participou ;do Conselho Federal de Direitos do Difusor ;, ela ganhou o direito de reformar três locais deteriorados: o Mercado das Flores, a Escola Classe 407 Norte e o Instituto de Saúde Mental do Riacho Fundo. Agora é necessário esperar a liberação do dinheiro para iniciar a restauração.
Antiga Câmara Legislativa
No plenário, há dois painéis internos criados em 1991. O prédio agora é da Emater, e o auditório está desativado. As obras escoram cadeiras e móveis velhos.
Antiga Rodoferroviária
Em 1972, parte da Rodoferroviária foi construída com painéis de Athos Bulcão. Os azulejos estão esquecidos. Aparecem engordurados e quebrados.
Mercado das flores
A obra, erguida em 1989, representa uma composição geométrica abstrata que faz alusão às flores.
Hoje, está suja e com muitos azulejos quebrados.
Escola Classe 407 Norte
Fundada em 1965, a escola tem um painel que remete à azulejaria portuguesa. Hoje, mal se percebe a cor azul. As peças estão pretas, com ferrugem e mato.