Cidades

Acidente com Caravelle levantou suspeita de atentado

postado em 25/09/2011 08:33

Assim que se espalhou a notícia do acidente com o Caravelle, no qual o governador Leonel Brizola era um dos passageiros, surgiu imediatamente a suspeita da possibilidade de um atentado. Hoje, isso pode parecer fantasioso, mas o ambiente político radicalizado na época justificava qualquer desconfiança.

Durante 14 dias, de 25 de agosto a 7 de setembro de 1961, Brizola havia desafiado os ministros militares liderando a Campanha da Legalidade para garantir a posse de João Goulart na presidência da República. No decorrer do episódio, os ministros chegaram a determinar o bombardeio do Palácio Piratini, em Porto Alegre, para liquidar o governador. Além disso, quando João Goulart estava por viajar para Brasília, a fim de assumir a Presidência da República, foi descoberto um plano de oficiais para derrubar o avião que o transportaria (por coincidência, o mesmo Caravelle PP-VJD).

Com Goulart já empossado, na véspera de vir a Brasília, Brizola participou de manifestações no Rio de Janeiro e anunciou que pediria ao Congresso Nacional uma investigação ;para apurar responsabilidades dos golpistas;.

Não foi por acaso, portanto, que um repórter do jornal Última Hora, de Porto Alegre, perguntou ao governador se o acidente na chegada à capital podia ser resultado de uma conspiração. Ele não confirmou nem negou, mas a resposta deu manchete do jornal: ;Só um inquérito esclarecerá se houve sabotagem;.

O inquérito foi de fato realizado pela Guarnição da Aeronáutica de Brasília e concluiu, um mês depois, que ocorrera uma falha humana e não sabotagem. Mas a presença do governador gaúcho e de diversos outros personagens importantes até hoje chama a atenção para as inevitáveis repercussões políticas de um acidente como o do Caravelle, caso tivesse ido além do enorme prejuízo material.

Alto escalão

Estavam também no avião, entre os 63 passageiros, o ministro da Saúde, Estácio Souto Maior; de Minas e Energia, Gabriel Passos; e da Educação, Oliveira Brito; além dos deputados federais Josué de Castro, Rubens Berardo, Giordano Alves e Nelson Omegna e diversos integrantes do governo gaúcho e do PTB do Rio Grande do Sul. Havia também jornalistas, entre eles o ex-secretário de imprensa de Jânio Quadros Carlos Castello Branco; o então superintendente dos Diários Associados no Distrito Federal, Edilson Varela; e o repórter Elton Campos.

]Porém, na noite do acidente, apesar das suspeitas e da tensão vivida pouco antes, Brizola não decepcionou os que o esperavam em Brasília. Esteve por aproximadamente uma hora no Palácio da Alvorada conversando com o presidente João Goulart e depois foi para a Praça dos Três Poderes, onde, do alto de um caminhão improvisado como palanque, fez um discurso emocionado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação