Cidades

Indústria espera que Programa de Desenvolvimento Industrial saia do papel

postado em 27/09/2011 08:00
Aumenta a expectativa para que o Programa de Desenvolvimento Industrial (PDI), elaborado há 10 anos e apreciado por pelo menos três governos, saia do papel. Para Antônio Rocha, presidente do Sistema Federação das Indústrias do DF (Fibra), implementar o projeto seria uma forma de aumentar a competitividade das empresas locais diante das concorrentes que chegam dos outros estados e países. Segundo ele, o governador Agnelo Queiroz, apesar de não poder confirmar quando dará o aval ao documento, terá ;a sorte; de poder inaugurar o plano. Todo o trâmite burocrático está pronto e aguarda apenas decisão final do executivo.

A balança comercial do DF mostra que a exportação local ainda é muito tímida. Como explicar essa situação?
Quando comparamos o Distrito Federal com outros estados, é claro que a nossa exportação ainda é pequena. Mas há um fato curioso: de 2004 em diante, a exportação do DF cresceu bastante. Exportávamos US$ 12 milhões e, na última análise de junho, ultrapassamos a casa dos US$ 80 milhões. Este ano, também tivemos outro fato curioso: como o dólar caiu, as pessoas decidiram viajar mais e o abastecimento das aeronaves passou a ser feito aqui. A venda de combustível e lubrificantes para aviões cresceu muito e puxou as exportações para cima. Um crescimento de quase 15% apenas nesse item, entre 2010 e 2011.

O que impede as empresas do DF de se lançarem hoje no mercado internacional?
Hoje, todos nós sabemos que os chineses fabricam de tudo e são grandes concorrentes para as empresas de qualquer parte do mundo. Uma verdadeira ameaça a muitos segmentos. Eles têm custos mais baixos, mão de obra especializada e são agressivos. Essa concorrência é desestimulante. Assim, muitas empresas apostam no mercado interno.

Qual é o tipo de incentivo que poderia mudar esse cenário?
Fizemos um estudo denominado Programa de Desenvolvimento Industrial (PDI) justamente com esse objetivo. Ele vem sendo discutido, pelo menos, ao longo de três governos e foi apresentado também para o governador Agnelo Queiroz. O PDI é um mecanismo para aumentar a participação das indústrias no PIB do DF. Além disso, temos o projeto da Cidade Digital, para acolher diversas empresas da área de tecnologia da informação e fortalecer a cadeia produtiva em outros setores. Todos esses projetos estão finalizados e aguardam apenas a decisão do governo.

Se os projetos são antigos, porque nunca saíram do papel?
Bom, todos os governadores anteriores toparam, mas tudo depende de decisão. Se não bater o martelo, acaba o mandato, muda o governo e fica como está. O Agnelo deu uma sorte danada. Ele está com tudo na mão e poderá inaugurar esse espaço importante para a cidade. Mas ele ainda não disse quanto tempo vai levar para aprovar o projeto.

Se as empresas forem mesmo atraídas por esse projeto, não teremos uma situação ainda mais difícil com relação a mão de obra?
Mão de obra é um problema no Brasil todo e não apenas na indústria. A qualificação não leva apenas dois ou três meses. É um processo que demora até dois anos. É preciso um ensino articulado, o estudo básico ao lado do curso de especialização. Na construção civil e na área de tecnologia principalmente. Não faz sentido ter desemprego e, ao mesmo tempo, haver demanda por pessoas capacitadas. Nosso gargalo ocorre praticamente em todos os setores, como tecnologia, panificação, alimentação e construção civil.

Quanto à Copa do Mundo, o senhor considera que a cidade estará preparada até 2014?
A Copa força o governo a investir em questões que são necessárias. Melhorar rodovias, ampliar as ruas, os estacionamentos e melhorar o transporte. A cidade precisa disso tudo, independentemente da Copa, mas as ações serão feitas com mais agilidade por causa dela. Caso contrário, vai ser vergonhoso.

E a carga tributária, continua sendo um entrave para o crescimento do setor?
Sim, ela afeta toda a competitvidade e não é só em Brasília. A medida que o custo de produção sobe, fica cada vez mais difícil vender fora país e também há uma ameaça: os produtos que chegam do exterior são oferecidos por preços mais baixos que os nossos. Como as nossas indústrias não conseguem competir, passaram a se associar às chinesas, para produzir lá e vender no Brasil. Ou seja, para vender para os brasileiros estamos gerando emprego na China. É a maneira de manter empresa viva e competitiva, mas isso tem reflexos, inclusive em Brasília. Algumas empresas já descobriram esse novo caminho e se não fosse assim, a concorrência iria matar essas empresas.

Quais foram os setores mais afetados por essa nova realidade de produção?
No Brasil, como um todo, certamente foi a indústria de brinquedos e de vestuário, que vem sofrendo bastante concorrência desses produtos. Até mesmo o setor gráfico foi abalado. Na verdade, acho que só a construção civil não foi afetada, apesar dos insumos também virem de lá, ainda não encontraram uma maneira de importar o prédio pronto. Se soubessem fazer isso, tenho certeza de que o fariam. (brinca)

O governo federal deu, recentemente, uma mostra de que está preocupado com esta situação e aumentou o IPI para carros importados. Foi uma decisão acertada?
A medida serviu para tentar proteger a indústria nacional, mas ainda não sei se é acertada. Vamos ter de deixar acontecer. Estão falando que a produção nacional vai subir, ou seja, vai ficar elas por elas. A coisa tem que acontecer para ver se vai funcionar. A medida pode ser bem-intencionada, mas pode não dar certo. Seguir de forma diferente.

Para proteger as indústrias locais, o que deveria ser feito?
O GDF é o nosso grande cliente, em todos os segmentos. Quando ele começa a demandar das indústrias, projeta mais criação de empregos e estimula as diferentes cadeias produtivas. No início de 2009, fizemos uma pesquisa sobre a importância das compras do GDF no faturamento local e vimos que 28% estavam ligadom ao que foi negociado com o governo. O novo governo vem se reestruturando, mas ainda não chegou ao potencial de demandar a mesma quantidade de obras, por exemplo. É importante que haja essa procura pelo governo, pois quando ele para de investir, a economia desaquece.

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