postado em 29/09/2011 08:04
Nos últimos sete meses, a Corregedoria da Secretaria de Saúde instaurou 154 procedimentos de investigação em relação à conduta dos servidores. Do total, 80 referem-se a médicos acusados das mais variadas irregularidades, como faltas sem justificativa. A falha aparece como recordista no número de casos, com 13 apurações em aberto entre fevereiro e abril. O órgão também propôs recentemente a demissão de um funcionário por improbidade administrativa. Ele teria entrado com pedido de aposentadoria por tempo de serviço no INSS, mas apresentado documentos falsos. A decisão de demiti-lo fica sob responsabilidade do governador do DF, Agnelo Queiroz.Devido à quantidade de denúncias de faltas injustificadas contra médicos, enfermeiros e demais servidores, a Secretaria de Saúde estuda implantar nos próximos meses um moderno sistema de controle de frequência. Será usada a biometria, ou seja, a identificação de uma pessoa por meio da impressão digital. O aparelho deverá ser instalado em todos os hospitais públicos e centros de saúde do DF. ;As faltas não são um problema pontual, mas sistêmico. Precisamos criar formas de controle para inibir a incidência dessas irregularidades. Temos ainda vários casos de abandono de plantão e de descumprimento de escala. Com esse sistema, nós vamos reduzir ao máximo esses problemas;, afirmou o corregedor da Secretaria de Saúde, Maurício de Melo Passos.
A partir da identificação dos profissionais que faltam ao serviço para trabalhar em outros locais, a corregedoria poderá iniciar um processo de demissão dos maus servidores. ;O profissional que dá atenção à iniciativa privada está ocupando uma vaga de outro que poderia estar prestando um serviço de qualidade;, avaliou Passos.
O corregedor disse que as denúncias feitas pela população serão apuradas. Entre as irregularidades mais graves a serem investigadas, está a conduta de cinco servidores do Centro de Saúde n; 6 do Gama, como denunciou o Correio com exclusividade há dois dias. Na última sexta-feira, o pediatra Fernando Gonçalves Pinheiro, o técnico em enfermagem Adilson Araújo Botelho e o clínico Paulo Monteiro acabaram afastados das atividades por suspeitas de maltratar pacientes (leia Depoimento). Eles também são acusados de faltar ao trabalho, desrespeitar horários e combinar depoimentos para atrapalhar as investigações.
Ministério Público
O clínico Marcos César Wanderley e a auxiliar de enfermagem Maria Irani Silva Dias também são investigados, mas não foram afastados das funções. ;A quantidade de denúncias neste caso (Centro de Saúde n; 6 do Gama) foi muito grande e realmente chamou a atenção. Aqueles que não tiverem responsabilidade serão absolvidos, mesmo porque eles têm o direito de se defender. Mas aqueles que forem responsabilizados serão punidos na medida da sua culpabilidade e na dos prejuízos causados. A população não pode ficar sem assistência por conta de maus profissionais;, explicou Passos.
Por causa das denúncias que incluem a realização de procedimentos cirúrgicos em outros hospitais, em horário de expediente, o sumiço de prontuários e ameaças, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) decidiu investigar a história na perspectiva criminal.
[SAIBAMAIS]Segundo Marli Rodrigues, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde do DF (Sindsaúde), a história está encoberta por ;uma cortina de fumaça;. Ela disse que as acusações contra os dois técnicos em enfermagem ; Irani e Adilson ; foram motivadas por questões envolvendo ex-dirigentes do centro clínico do Gama. ;Não há nenhuma prova contra esses servidores e não vamos aceitar que os nomes deles fiquem manchados por perseguição política;, ressaltou.
Depoimento
;Minha mãe é diabética, e eu tenho o aparelho de medir a taxa de glicose (no sangue) em casa. No início do ano passado, eu passei mal e medi a minha, que deu muito alta. Resolvi marcar uma consulta no Centro de Saúde n; 6. O médico me perguntou qual era o problema, e eu contei que tinha ficado assustado com o resultado da glicose. O médico não me pediu exame e disse que eu era diabético. Mandou eu tomar insulina. Fiquei impressionado. Como ele consegue fazer isso? Desse jeito, eu também sou médico.;
Bruno, 43 anos
* Nome fictícios a pedido do entrevistado