Cidades

Advogado pede prisão domiciliar de padre acusado de pedofilia

Renato Alves
postado em 02/10/2011 08:42

O advogado do padre Edson, Valdivino Clarindo Lima, pediu, há 30 dias, a prisão domiciliar para o cliente. Baseado em parecer contrário do Ministério Público de Goiás, um juiz substituto negou o benefício. O defensor, então, entrou com agravo no Tribunal de Justiça goiano. ;O estado de saúde do padre é grave. E tenho certeza de que os agentes penitenciários só o levarão ao hospital em caso de morte;, afirma.

O sacerdote não quis dar entrevista. Além da comida das beatas, recebe a visita de uma sobrinha e da filha dela toda quinta-feira. Elas também se recusaram a falar com o Correio, diferentemente de muitos moradores da cidade, que fizeram questão de abordar a equipe do jornal para defender o pároco. Gente como o comerciante Edval Monteiro, 51 anos, pai de quatro filhos, de 14, 19, 23 e 28 anos, todos batizados pelo padre Edson. ;Tenho total confiança nele (o padre). Caso contrário, não iria à missa mais. Não há uma prova cabal;, ressaltou.

Edval, no entanto, admitiu desconhecer as provas levantadas pela polícia, como os exames médicos e psicológicos do coroinha de 10 anos. ;Nunca vi nada.; O comerciante visitou o religioso na cadeia. ;Ele não gosta de falar do caso. Diz apenas que estava tudo escrito, como se fosse o seu destino, o seu calvário;, contou. Edval é um dos que reclamam do tratamento dispensado ao padre pedófilo na cadeia, mesmo sabendo que ele não convive com os demais presos nem fica em cela. ;A gente não pode mais ir lá conversar com ele, os guardas não deixam;, queixou-se o homem.

Abaixo-assinado
Os frequentadores da Igreja do Imaculado Coração de Maria organizam um abaixo-assinado para endossar o pedido de prisão domiciliar do advogado do padre Edson. Querem ver o sacerdote cumprindo a pena de pedofilia na casa paroquial. Desejam voltar a se confessar e a tomar a bênção dele. Mas nenhum dos quatro párocos da cidade fala sobre tal iniciativa nem das acusações ao colega de batina. Eles, assim como qualquer funcionário da paróquia, não aceitam dar entrevista. Já entre aqueles que acreditam nas denúncias, poucos se manifestam.

A comerciante Ana de Fátima Dutra Silva, 53 anos, é uma das exceções. ;Se não tivessem provas, você acha que uma delegada e uma juíza iam conseguir condenar um padre numa cidade tão conservadora como essa?;, questionou. Ela se lembra do preconceito que sofreu do pároco pedófilo. ;Eu era uma das que não podia frequentar a igreja dele, porque havia me separado. Tanto que o padre não batizou o meu filho. Só consegui isso após ele ser afastado. Hoje, toda a minha família vai à missa;, contou.

[SAIBAMAIS]Em meio à pressão popular para aumentar as regalias do padre, o diretor da cadeia de Alexânia, Carlos Rodrigues, tenta organizar a unidade destruída em uma rebelião há três meses. ;Conseguimos transferir detentos e acabar com a superlotação. Em breve, o padre estará em outro espaço, uma sala perto dos outros. Mas não posso deixá-lo no mesmo pátio nem cela. Os detentos não aceitam alguém condenado por tal crime (pedofilia);, observou.

Enquanto isso, o delegado Carlos Antônio da Silveira disse dar continuidade aos três inquéritos abertos para investigar os casos dos outros três coroinhas supostamente abusados pelo padre. ;Nem as vítimas têm mais interesse. É mais traumático para elas serem expostas. Um casou e teve filho, e a nova família nem sequer sabe do passado;, justificou

Feridos à bala
Uma rebelião na cadeia de Alexânia (GO) deixou cinco pessoas feridas na noite de 23 junho. Seis presos conseguiram fugir, mas três foram recapturados na mesma semana. Cinco pessoas acabaram baleadas durante a rebelião: dois agentes prisionais, dois detentos e um policial militar.
Privilégio: o condenado circula livremente, fica sozinho em uma cela e recebe comida das beatas

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