Cidades

Mortes levantam suspeitas de bactéria mutante em circulação no DF

Helena Mader
postado em 07/10/2011 06:59
As mortes por infecções de Streptococcus pyogenes levantam suspeitas sobre a circulação de bactérias mutantes na cidade. O micro-organismo que já matou duas pessoas do sexo feminino em Brasília não é considerado complexo e resistente.

Atinge principalmente crianças e é um dos causadores de faringites. Investigações da Vigilância Epidemiológica vão mostrar se há alterações nas cepas das bactérias que infectaram as vítimas recentes. Especialistas explicam que é muito difícil prevenir as contaminações por essa bactéria, já que ela tem grande circulação: cerca de 15% da população possui o micro-organismo no sistema respiratório, mas não manifesta qualquer infecção ou sintoma.

O diretor científico da Sociedade Brasiliense de Infectologia, Henrique Pinhati, diz que as mortes, ocorridas entre agosto e setembro, causam estranhamento. ;Sem dúvidas, há uma cepa diferente circulando pela cidade. De repente, começou a haver óbitos de forma incomum. Isso pode ser atribuído à presença de uma bactéria com maior produção de toxinas;, justifica Pinhati. Mesmo se houver eventuais mutações, o especialista garante que não se trata de um micro-organismo resistente a antibióticos. ;O tratamento normalmente é feito com penicilina, da forma mais tradicional. O problema é que essa bactéria tem uma agressividade intrínseca;, comenta o infectologista.

Henrique Pinhati garante, entretanto, que a população não precisa ficar em pânico. Na opinião do especialista, quem deve se manter alerta é a comunidade médica. ;Os profissionais que atenderem pessoas com os sintomas de infecção nas emergências dos hospitais devem prestar atenção para fazer esse diagnóstico. O surgimento de variantes mais agressivas de uma bactéria não é um fenômeno incomum, mas normalmente esses agentes infecciosos muito severos com os hospedeiros desaparecem rapidamente. Isso aconteceu na Europa, no caso da chamada bactéria carnívora;, diz Pinhati.

Se na maioria das vezes a Streptococcus pyogenes não causa danos, algumas infecções podem ser graves e letais. Um exemplo do que o micro-organismo pode provocar é a escarlatina ; uma manifestação dessa bactéria que causa vermelhidão na pele por conta de toxinas mais fortes. A doença normalmente começa com uma faringite e evolui para sintomas mais severos. Nas complicações graves, a escarlatina causa até problemas renais.

Variações

O professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Antônio Carlos Pignatari assegura que a Streptococcus pyogenes normalmente não apresenta resistência contra antibióticos, mas ele destaca o perigo que representam algumas variações da bactéria. ;Algumas cepas podem produzir toxinas e acarretar casos muito graves, até com óbito. Essa bactéria pode ter transmissão entre pessoas, particularmente em crianças, pelo contato das mãos, e podem acontecer pequenos surtos;, afirma.

Pignatari também acredita na possibilidade de bactérias diferentes estarem em circulação. ;O que poderia justificar esses casos mais graves e os óbitos é a disseminação de cepas toxigênicas, produtoras de toxinas.

Elas têm potencial de provocar manifestações mais graves. Mas não se trata de cepas resistentes a antibióticos;, acrescenta o infectologista da Unifesp. ;Os laboratórios clínicos identificam com facilidade essa bactéria com a realização de culturas e também de um teste rápido, que consiste na coleta de material da garganta. Isso pode ser feito no próprio pronto-socorro;, finaliza Pignatari.

O infectologista Alexandre Cunha, que preside a Sociedade Brasiliense de Infectologia, afirma que não há estatísticas sobre a ocorrência de infecções e de óbitos por Streptococcus pyogenes. ;Essa não é uma infecção de notificação compulsória, então não sabemos a real frequência. Podem ter havido dezenas de registros, ou apenas os dois citados.

Mas como os médicos começaram a comentar esses casos, a Secretaria de Saúde divulgou a nota técnica;, explica Cunha. Ele não classifica os casos como um surto de Streptococcus pyogenes. ;Do ponto de vista de saúde pública, é mais importante fazer uma investigação individual dos registros, até porque não há como prevenir a transmissão;, comenta.

Ação rápida

As bactérias carnívoras são um tipo grave de micro-organismo, que receberam esse nome por conta do efeito sobre o corpo humano. Elas agem sobre a pele e depois sobre os músculos com um efeito de necrose, como se estivessem ;comendo; a carne humana. A ação da bactéria carnívora é extremamente rápida e ela pode levar a óbito em grande parte das infecções.

Perigosa

Ao contrário da Streptococcus pyogenes, que não é resistente a antibióticos, outra bactéria se transformou em ameaça nos hospitais públicos e particulares de Brasília. No ano passado, um surto de Klebsiella pneumoniae carbapenemase colocou médicos e pacientes em alerta. Conhecida como KPC, a bactéria era extremamente resistente aos antibióticos e fez pelo menos 25 vítimas somente entre outubro e dezembro do ano passado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação