Antonio Temóteo, Adriana Bernardes
postado em 11/10/2011 06:12
Desde 2003, o trânsito do Distrito Federal não matava tanto. Entre janeiro e setembro, 360 vítimas morreram nas vias da capital do país, segundo levantamento do Departamento de Trânsito (Detran). Isso significa que, a cada 18 horas uma pessoa perde a vida em acidentes fatais. Entre as possíveis causas estão a imprudência de motoristas e de pedestres, além da ineficiência do Estado em fiscalizar, punir e educar os condutores.Levantamento feito pelo Correio revela que só nos 10 primeiros dias de outubro pelo menos 12 pessoas morreram em colisões e atropelamentos no DF. No último domingo, foram seis. Uma única colisão resultou em quatro mortes. O acidente aconteceu na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), perto da Candangolândia. ;É uma situação dolorida para toda a família. Ele (o sobrinho) era muito animado e trabalhador;, afirmou o policial civil José Jair Marinho de Oliveira, tio de Esonilson Clemente Marinho de Oliveira.
A maioria das ocorrências foi registrada em rodovias distritais e federais, justamente onde a fiscalização é mais precária e os acidentes tendem a ser mais violentos por conta da alta velocidade. As estatísticas do Detran revelam que a quantidade de vítimas saltou de 357 nos primeiros nove meses de 2010 para 360 neste ano. A análise histórica revela que o total de fatalidades em 2011 só não é maior do que em 2003, quando 366 perderam a vida no mesmo período (leia arte). Os acidentes, no entanto, estão em queda ; uma ocorrência pode ter mais de uma morte. Entre janeiro e setembro deste ano, houve 323 registros, contra 334 no mesmo período de 2010.
Procurados pela reportagem, nem o diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, ou o superintendente de Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Murilo de Melo Santos, souberam explicar por que tanta gente morre nas pistas da capital do país. Os dois citaram a imprudência dos condutores como provável causa das últimos batidas registradas no DF. Citaram a destruição das duas últimas colisões fatais registradas na Epia.
Tanto Bezerra quanto Santos descartaram a pista molhada e o asfalto escorregadio como possíveis causas para as últimas ocorrências. ;A gente não identificou nenhuma causa determinante e, por isso, fica até difícil de atuar. Os números de agosto e de setembro estavam bons e, repentinamente, subiram no fim de setembro e no início de outubro;, disse Santos. ;É um fato que não conseguimos entender ainda. Seguramente, em alguns casos houve abusos do condutor em relação à velocidade, ingestão de álcool e fadiga;, avaliou Bezerra.
Em alta
As estatísticas revelaram que a maior quantidade de acidentes e de mortos ocorre nas rodovias distritais. Apesar de os números de janeiro a setembro deste ano terem caído em relação a 2010, nos últimos anos o DER não tem obtido sucesso em fazer os dados recuarem. A Estrada Parque Taguatinga (EPTG) está entre as vias mais perigosas. Inaugurada há cerca de um ano, ainda não há sinalização. Foi nela que, em 11 de agosto, a publicitária Thaisa de Sousa Londe, 22 anos, e as amigas Carolina Liete Lemos, de mesma idade, e Patrícia de Magalhães Pessoa de Albuquerque, 18, se envolveram em um acidente. Thaisa não resistiu.
O risco não é diferente nas rodovias federais. Nos primeiros nove meses do ano, o número de acidentes aumentou 21,4% e o de mortes, 36,2%. Na avaliação do professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques, a redução das batidas não reflete a queda do número de vítimas porque elas têm sido mais violentas. ;Faz pouco tempo que as barreiras nas rodovias do DF ficaram desligadas por falta de contrato. Considero esse tipo de fiscalização importante, mas a presença do agente e do policial rodoviário é fundamental, porque constrange o condutor e tem efeito educativo e punitivo;, defendeu.
Coincidência ou não, há problemas de fiscalização nas DFs e nas BRs. O DER só conseguiu colocar agentes nas pistas a partir de junho deste ano. Até então, somente a Polícia Militar, por meio da Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv), monitorava as pistas. Os planos do órgão é aumentar o número de pardais e de barreiras eletrônicas a médio e a longo prazos. O Detran espera ampliar a fiscalização com a realização de concurso público para agentes de trânsito.
Vítimas
Em 28 de maio deste ano, cinco estudantes de pedagogia morreram depois de o carro em que estavam invadir a faixa contrária e colidir com o veículo que vinha no outro sentido. O acidente ocorreu no Km 85 da DF-001. O enterro comoveu Brazlândia, onde todas as vítimas moravam, e atraiu mais de mil pessoas.
Flagrados sem o licenciamento
O Departamento de Trânsito (Detran) e a Polícia Militar começaram a cobrar o licenciamento de 2011. De sexta-feira até ontem, 38 motoristas foram flagrados sem o documento obrigatório do veículo. Durante as operações, 11 carros foram apreendidos e levados ao depósito. Desses, 33 eram motocicletas. No sábado, os condutores correram aos postos do Na Hora para resgatar o licenciamento. Eles alegam que a greve dos Correios e dos bancos atrapalhou o recebimento. A multa para quem estiver circulando irregularmente pelas pistas do Distrito Federal é de R$ 191,54. Além disso, o motorista ganha sete pontos na Carteira de Habilitação. Quem já recolheu todas as taxas, mas não recebeu o documento, será multado em R$ 53,20 e o carro ficará retido.