Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pedestres no DF estão mais vulneráveis, com 86 mortes em apenas sete meses

Os pedestres representam mais de um terço dos mortos no trânsito do Distrito Federal. E os casos não param de crescer nas rodovias distritais e federais que cortam a capital do país. Até julho, 86 pessoas acabaram atropeladas e mortas, número 17,8% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Trata-se de um alerta para a capital que um dia respeitou quem anda a pé e, agora, parece assistir de braços cruzados o aumento das colisões e dos atropelamentos. É uma guerra difícil de ser vencida, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. Faltam investimentos públicos em educação, a fiscalização é ineficiente e a punição demora a chegar.

Para quem convive com a perda, resta aprender a suportar a dor. Há quase dois meses, a tristeza invadiu a vida da dona de casa Ana Maria de Souza, 32 anos. O marido dela, o pedreiro Alan Jones Oliveira, 30, morreu atropelado por um ônibus ao atravessar uma faixa de pedestre em Sobradinho. Viúva e com uma filha de 1 ano e 7 meses para criar, a mulher revela indignação. ;Ele fez a parte dele, atravessou na faixa, mas morreu mesmo assim;, revoltou-se. Até agora, o único apoio recebido vem da Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), que oferece acompanhamento psicológico. ;A nossa filha chama o tempo todo pelo pai. Eles eram muito próximos;, relatou.

O acidente que tirou a vida de Alan também resultou na morte de três pessoas. O motorista do ônibus perdeu o controle do veículo, tentou desviar de pedestres que atravessavam a faixa ; entre eles Alan ; e só parou após atingir um Corsa e uma moto, na Quadra 11, em frente à Caesb. O casal que estava no carro e o motociclista morreram. À época, o condutor do coletivo informou que a barra de direção quebrou. O ônibus tinha 11 anos de uso. Por lei, deveria ter saído das ruas há pelo menos quatro anos.

Acidente
A análise das estatísticas revela queda nos atropelamentos nas vias urbanas. Mas os números não param de crescer nas rodovias distritais e federais. Nas DFs, houve aumento de 37% nos registros. Nas BRs, 25% (leia arte). A quantidade de mortos segue a mesma tendência. Enquanto os dados se mantêm estáveis nas vias urbanas, observa-se a elevação em 31% nas rodovias distritais e 36,3% nas federais.

A situação por si só é preocupante. E merece ainda mais atenção do Poder Público quando se observa os dados globais. Reportagem publicada ontem no Correio, por exemplo, revelou que entre janeiro e setembro as colisões e os atropelamentos mataram 360 pessoas ; em média, uma morte a cada 18 horas. O número só não é pior que os registros de 2003, quando houve 366 vítimas.

Quem escapa da morte dificilmente apaga da memória as imagens do acidente. Aos 51 anos, a doméstica Maria Arlinda da Silva Ramos evita conversar sobre os momentos que viveu na manhã de 30 de maio, quando o ônibus em que estava perdeu o freio ; foi essa a alegação do condutor ; e invadiu uma parada na Ponte do Braguetto, matando duas pessoas. ;Olha, minha filha, eu não gostaria nem de lembrar disso. Nunca vi nada tão feio. Só agradeço a Deus e ao motorista que não deixou o ônibus tombar nem bateu no outro, que estava na frente. Senão, muito mais gente teria morrido;, disse.

Desgovernado, o veículo em que Maria Arlinda seguia atingiu pelo menos quatro pessoas. Lucimar Silvestre de Jesus, 35 anos, e José de Jesus Oliveira, 38, morreram na hora. Após perder a mulher, o marido de Lucimar se mudou para o interior da Bahia com os filhos. Até hoje, a autônoma Auricélia Leite Pereira, 29, não sabe como escapou com vida. ;Eu só senti a pancada e caí. A sensação que eu tive era de que estava embaixo do ônibus e, a qualquer momento, ele tombaria em cima de mim. Olha, é muito bom estar viva. Viver um dia depois do outro é a melhor coisa do mundo;, finaliza.

O caso é apurado pela 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte). No último dia 5, o delegado-chefe, Silvério Antônio Moita de Andrade, enviou o inquérito à Justiça pedindo mais tempo para concluir a investigação.

Mutirão
O Secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, convocou para amanhã uma reunião com as direções do Departamento de Trânsito (Detran) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) ; os dois órgãos são subordinados ao GDF ; e representantes da Polícia Rodoviária Federal. A ordem é reduzir a quantidade de acidentes e de vítimas.

Apesar de os números nas vias urbanas estarem em queda, o diretor do Detran, José Alves Bezerra, disse não haver motivo para comemorar ;se mais pessoas estão morrendo nas DFs e nas BRs;. Um dos caminhos para melhorar a situação poderá ser a realização de blitzes conjuntas em vários pontos ao mesmo tempo.

Atribuições
A responsabilidade pelo que ocorre nas rodovias distritais é do DER. Quem responde pelas vias federais é a Polícia Rodoviária Federal. O Detran responde pelas vias urbanas.