Adriana Bernardes
postado em 12/10/2011 07:10
Os pedestres representam mais de um terço dos mortos no trânsito do Distrito Federal. E os casos não param de crescer nas rodovias distritais e federais que cortam a capital do país. Até julho, 86 pessoas acabaram atropeladas e mortas, número 17,8% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Trata-se de um alerta para a capital que um dia respeitou quem anda a pé e, agora, parece assistir de braços cruzados o aumento das colisões e dos atropelamentos. É uma guerra difícil de ser vencida, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. Faltam investimentos públicos em educação, a fiscalização é ineficiente e a punição demora a chegar.Para quem convive com a perda, resta aprender a suportar a dor. Há quase dois meses, a tristeza invadiu a vida da dona de casa Ana Maria de Souza, 32 anos. O marido dela, o pedreiro Alan Jones Oliveira, 30, morreu atropelado por um ônibus ao atravessar uma faixa de pedestre em Sobradinho. Viúva e com uma filha de 1 ano e 7 meses para criar, a mulher revela indignação. ;Ele fez a parte dele, atravessou na faixa, mas morreu mesmo assim;, revoltou-se. Até agora, o único apoio recebido vem da Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima), que oferece acompanhamento psicológico. ;A nossa filha chama o tempo todo pelo pai. Eles eram muito próximos;, relatou.
O acidente que tirou a vida de Alan também resultou na morte de três pessoas. O motorista do ônibus perdeu o controle do veículo, tentou desviar de pedestres que atravessavam a faixa ; entre eles Alan ; e só parou após atingir um Corsa e uma moto, na Quadra 11, em frente à Caesb. O casal que estava no carro e o motociclista morreram. À época, o condutor do coletivo informou que a barra de direção quebrou. O ônibus tinha 11 anos de uso. Por lei, deveria ter saído das ruas há pelo menos quatro anos.
Acidente
A análise das estatísticas revela queda nos atropelamentos nas vias urbanas. Mas os números não param de crescer nas rodovias distritais e federais. Nas DFs, houve aumento de 37% nos registros. Nas BRs, 25% (leia arte). A quantidade de mortos segue a mesma tendência. Enquanto os dados se mantêm estáveis nas vias urbanas, observa-se a elevação em 31% nas rodovias distritais e 36,3% nas federais.
A situação por si só é preocupante. E merece ainda mais atenção do Poder Público quando se observa os dados globais. Reportagem publicada ontem no Correio, por exemplo, revelou que entre janeiro e setembro as colisões e os atropelamentos mataram 360 pessoas ; em média, uma morte a cada 18 horas. O número só não é pior que os registros de 2003, quando houve 366 vítimas.
Quem escapa da morte dificilmente apaga da memória as imagens do acidente. Aos 51 anos, a doméstica Maria Arlinda da Silva Ramos evita conversar sobre os momentos que viveu na manhã de 30 de maio, quando o ônibus em que estava perdeu o freio ; foi essa a alegação do condutor ; e invadiu uma parada na Ponte do Braguetto, matando duas pessoas. ;Olha, minha filha, eu não gostaria nem de lembrar disso. Nunca vi nada tão feio. Só agradeço a Deus e ao motorista que não deixou o ônibus tombar nem bateu no outro, que estava na frente. Senão, muito mais gente teria morrido;, disse.
Desgovernado, o veículo em que Maria Arlinda seguia atingiu pelo menos quatro pessoas. Lucimar Silvestre de Jesus, 35 anos, e José de Jesus Oliveira, 38, morreram na hora. Após perder a mulher, o marido de Lucimar se mudou para o interior da Bahia com os filhos. Até hoje, a autônoma Auricélia Leite Pereira, 29, não sabe como escapou com vida. ;Eu só senti a pancada e caí. A sensação que eu tive era de que estava embaixo do ônibus e, a qualquer momento, ele tombaria em cima de mim. Olha, é muito bom estar viva. Viver um dia depois do outro é a melhor coisa do mundo;, finaliza.
O caso é apurado pela 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte). No último dia 5, o delegado-chefe, Silvério Antônio Moita de Andrade, enviou o inquérito à Justiça pedindo mais tempo para concluir a investigação.
Mutirão
O Secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, convocou para amanhã uma reunião com as direções do Departamento de Trânsito (Detran) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) ; os dois órgãos são subordinados ao GDF ; e representantes da Polícia Rodoviária Federal. A ordem é reduzir a quantidade de acidentes e de vítimas.
Apesar de os números nas vias urbanas estarem em queda, o diretor do Detran, José Alves Bezerra, disse não haver motivo para comemorar ;se mais pessoas estão morrendo nas DFs e nas BRs;. Um dos caminhos para melhorar a situação poderá ser a realização de blitzes conjuntas em vários pontos ao mesmo tempo.
Atribuições
A responsabilidade pelo que ocorre nas rodovias distritais é do DER. Quem responde pelas vias federais é a Polícia Rodoviária Federal. O Detran responde pelas vias urbanas.