postado em 12/10/2011 13:28
Davi Pereira Gomes Severo, 7 anos, pode ser a quarta vítima da bactéria Streptococcus pyogenes. O garoto morreu no sábado, no Hospital Regional do Guará (HRGu), e foi sepultado no Cemitério de Taguatinga na segunda-feira. A Secretaria de Saúde investiga o caso e confirmará se houve infecção pela bactéria em até 10 dias, prazo para a conclusão dos exames laboratoriais feitos com material colhido no paciente.A Escola Classe da 305 Sul, onde Davi estudava, passou por ampla esterilização das instalações na manhã de ontem para minimizar as chances de contágio dos demais alunos. A Direção Regional de Ensino do Plano Piloto não cogita, por enquanto, a interrupção das aulas. Até agora, três mortes pela bactéria foram confirmadas no Distrito Federal.
Davi teria dado entrada no HRGu no último dia 7, sexta-feira, com sintomas de catapora e virose. No dia seguinte, morreu. Apesar de confirmar a investigação sobre o caso, a Secretaria de Saúde não divulgou detalhes da evolução clínica do menino. De acordo com a diretora da Regional de Ensino do Plano Piloto, Roberta Callaça, Davi frequentou as aulas até a quarta-feira da semana passada. Faltou nos dois dias seguintes, quando a família entrou em contato com a escola para informar que ele estava doente. Durante o enterro, os pais do garoto teriam dito apenas que a morte foi causada por uma complicação da catapora. A família vive no Recanto das Emas e não foi localizada pela reportagem. Ninguém no HRGu quis comentar o caso.
Ontem, a Escola Classe da 305 Sul recebeu a visita de técnicos da Gerência de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação. Professores, alunos e funcionários receberam informações sobre higienização no manuseio de alimentos.
Especialistas da Secretaria de Saúde também estiveram na escola para coordenar a esterilização das instalações, inclusive dos utensílios de cozinha. O cuidado com a higiene pessoal será redobrado, a exemplo do que aconteceu quando houve surto da gripe H1N1. ;Estamos aguardando uma resposta da Secretaria de Saúde. Não queremos provocar pânico e mexer com o calendário escolar;, afirmou Roberta Callaça. Entretanto, ela afirmou que, se houver necessidade, as aulas podem ser suspensas no colégio.
A Nota Técnica n;11, emitida pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica em 27 de setembro ; quando duas pessoas já tinham morrido em decorrência do streptococcus pyogenes ;, estabelece que todas as pessoas que tiveram contato com as vítimas da bactéria devem ter o sangue colhido e, se necessário, receber doses de penicilina. A orientação da escola aos pais é que procurem atendimento médico caso os filhos manifestem alguns dos sintomas relacionados a infecções provocadas pela bactéria (veja quadro).
Sem alarde
Mesmo com fortes indícios de uma quarta morte ; a segunda em duas semanas ;, o infectologista Julival Ribeiro, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que não há motivos para alarde. Segundo ele, apesar de a bactéria ser responsável por milhões de quadros infecciosos em todo o mundo, o número de mortes é relacionados a ela é pequeno. ;A maioria das infecções é considerada leve. Mas essa mesma bactéria pode ter cepas mais virulentas. O que a Vigilância Epidemiológica está fazendo é salutar, no intuito de alertar a população e os médicos;, afirma o especialista.
Ele frisa que, por enquanto, não há relação entre as vítimas, por isso acredita ainda se tratar de casos isolados. ;Se houvesse uma explosão de casos de crianças da mesma escola, aí sim poderíamos considerar surto;, avalia. Para evitar o contágio, é fundamental fazer corretamente a higienização pessoal, de alimentos e de locais públicos. A bactéria pode ser transmitida pelo contato com lesões de pele infeccionada ou gotículas de saliva expelidas pela boca ou nariz. A ação preventiva e a atuação médica correta podem impedir que casos de contaminação terminem em tragédias como a das famílias das três vítimas confirmadas. Em todos os casos, os estragos da bactéria evoluíram brutalmente em apenas 24 horas.
A agressividade do micro-organismo obrigou a Secretaria de Saúde a encaminhar amostras do material colhido nas três vítimas para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para verificar se a Streptococcus pyogenes sofreu alguma mutação. O resultado dos testes deve sair até o início do próximo mês. Ainda assim, o infectologista Julival Ribeiro garante que a literatura médica nunca registrou uma variação dessa bactéria que fosse resistente à penicilina.
Cepas agressivas
É uma bactéria encontrada em até 15% da população, sem causar sintomas ou infecções. Ela é uma das responsáveis por dores de garganta e amigdalites e responde bem ao tratamento com penicilina. Entretanto, algumas cepas da Streptococcus pyogenes são mais agressivas e podem causar infecções mais graves, principalmente quando o micro-organismo atinge a corrente sanguínea. A bactéria também pode causar meningite e pneumonia.
Fique atento
Sintomas suspeitos
; Febre
; Faringite (dor de garganta)
; Dores musculares
; Falta de ar leve, moderada ou grave
; Artrite e dores nas articulações
; Lesões na pele
; Diarreia e vômito
A Nota Técnica n; 11, da Secretaria de Saúde, estabelece o seguinte protocolo a ser seguido pelos hospitais em caso de pacientes com esses sintomas
; Exame de sangue com sorologia para hantavírus, leptospirose e dengue
; Coleta de material do fundo da boca (orofaringe)
; Indicação de medicação específica em caso de meningite ou de dor de garganta e febre
; Notificação imediata ao núcleo de vigilância epidemiológica