Cidades

Prática de oferecer prêmios de valor aos alunos aprovados é questionada

postado em 19/10/2011 07:48
Para incentivar a participação dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre neste fim de semana, algumas escolas têm oferecido prêmios àqueles que apresentarem bom desempenho na prova. A medida causa controvérsia entre os educadores. Para uns, o agrado servirá como uma recompensa aos estudantes que se dedicaram ao teste, mas, para outros, pode provocar uma competição que não é saudável e desestimular os jovens. Mesmo assim, alguns colégios no Distrito Federal já adotam a prática para o Enem, para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e para o vestibular tradicional.

No Centro Educacional Sigma, na 912 Sul, os 20 primeiros colocados ganharão um tablet cada um. A escola tem o maior número de inscritos e quer motivar ainda mais a participação dos estudantes. ;É uma forma de incentivo para que os alunos não façam a prova apenas como participantes, mas como competidores;, avalia o professor de matemática José de Sousa França. Para os jovens, a atitude agrada e motiva os estudos. ;A UnB não usa a nota do Enem, então, essa premiação ajuda a termos uma competição saudável por uma nota maior;, analisa o estudante do 3; ano do ensino médio Paulo Asafe Campos, 17.

Por meio de nota, a direção do Centro Educacional Leonardo da Vinci informou que criou em 2010 o prêmio Estudante 1; Lugar como um incentivo para que os alunos alcancem os objetivos. Quem conquistar o primeiro lugar da lista no PAS, Enem ou vestibular ganha um carro zero quilômetro. Segundo a professora Stella Bortoni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), não há problema em a escola oferecer um prêmio para aqueles que se saírem bem nos exames. ;Isso pode ser um incentivo a mais para estudar, o aluno pode se sentir estimulado. Não há problemas em haver uma competição saudável;, sugere.

Camila Jreige (E) e Ana Luiza Feitosa estudam em uma escola cuja direção prefere estimular de outras formas

O diretor acadêmico do Colégio Galois, Marcelo Lasneaux, é contra recompensas. ;Preferimos seduzir o aluno e chamar a atenção para a importância dos exames que eles estão fazendo, seja o Enem, o PAS ou o vestibular.;

O Mackenzie segue a mesma linha. ;Trabalhamos a conscientização com os alunos por meio de palestras, simulados e tivemos a adesão de 90% do 3; ano;, explicou o coordenador de vestibular Bernardo Verano. Camila Jreige, 18 anos, e Ana Luiza Feitosa, 17, farão a prova do Enem. ;Esse incentivo é algo a mais do que eu já pretendia fazer;, contou Camila.

De acordo com o coordenador pedagógico do ensino regular noturno da Regional de Ensino do Plano Piloto, Cláudio Passos, o incentivo aos alunos é voltado para a conscientização sobre a importância do exame. ;Nosso incentivo vai além do ponto de vista social da educação. A gente quer despertar a importância da educação de fora para dentro, o que motiva o aluno é interno;, defendeu. Por meio de nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC) disse que não vai se pronunciar a respeito do assunto.

Palavra de especialista
Motivação interna


;Essa questão da recompensa é complexa e oriunda da tradição comportamentalista, essa tradição via incentivo de fora para dentro. A punição é uma forma clássica de motivação externa. O incentivo do ponto de vista educacional tem função, mas a médio e longo prazo estudos indicam que pode provocar uma espécie de dependência do fator motivacional.

O incentivo tem lugar e pode apresentar resultados positivos num primeiro momento, porém pode ser deprimente e oferecer prejuízo à aprendizagem. Não sustenta processos profundos de aprendizagem. A melhor recompensa vem da motivação interna, quando se desenvolve um vínculo profundo, quase emotivo com o objeto de aprendizagem.

Isso pode ser desenvolvido por professores, mas evidentemente tem a ver com a própria história de vida daquele aprendiz. Esse tipo de motivação não é atingido com nenhum tipo de recompensa.;

Afonso Galvão, professor do programa de mestrado e doutorado em educação e psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB).

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