As vendas de carros novos despencaram no Distrito Federal. Os pátios nunca estiveram tão cheios de veículos e as lojas, vazias de clientes. A queda no movimento preocupa os empresários do setor, acostumados a recordes consecutivos. Em setembro, de acordo com o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv-DF), foram comercializadas 9.225 unidades, recuo de 8,10% em relação a agosto e de 13,73% na comparação com o mesmo mês de 2010.
O sindicato divulgou, ontem, os números mais atualizados, após quase dois meses sem dar visibilidade aos dados. As concessionárias amargam três meses seguidos de retração nas vendas frente ao ano anterior, com percentuais cada vez mais elevados: 5,61% (julho), 11,07% (agosto) e 13,73% (setembro). O último resultado foi o pior para o mês desde 2008. Na análise de 2011, as vendas só não foram piores do que em janeiro, mês tradicionalmente fraco.
Mesmo com a queda, o acumulado do ano soma 86.570 automóveis vendidos, a melhor marca desde 2003. No entanto, o tamanho do aumento em relação a 2010 vem diminuindo desde julho. Até setembro, o total de unidades comercializadas avançou somente 0,80% ante os 10 primeiros meses de 2010. Diante desse cenário, os lojistas repensam as estimativas e consideram muito difícil ultrapassar o número de carros vendidos no ano passado: 120.457.
As estatísticas nacionais também indicam tendência de queda, mas de maneira mais tímida do que no DF. No país, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) registrou recuo de 4,79% em relação a agosto, quase metade do observado na capital federal. Na comparação com setembro do ano anterior, as vendas nacionais tiveram leve aumento de 1,51%. No acumulado de 2011, o crescimento chegou a 7,22%.
Mudança
O aperto na concessão de crédito para compradores de veículos novos é apontado como principal motivo para a virada no desempenho das concessionárias. A era dos financiamentos sem entrada e em até 72 parcelas ; facilidades responsáveis pelos recordes históricos em 2010 ; chegou ao fim. Para andar de carro 0km, agora é preciso desembolsar, de imediato, pelo menos 30% do valor do carro. A mudança afugentou a clientela. Além disso, o parcelamento não passa de 60 vezes.
Em média, os bancos têm reprovado metade das propostas apresentadas pelas concessionárias. Cerca de 75% dos carros vendidos no DF são financiados. Na tarde de ontem, a auxiliar de enfermagem Jacira Souza, 59 anos, aguardava para saber se poderia levar um carro 1.0 para casa sem precisar dar R$ 1 mil de entrada. ;Pensei que fosse mais fácil. Tomara que dê certo, porque é assim que posso pagar;, comentou ela, que presenteou a filha mais velha com o automóvel antigo.
Nem nos fins de semana, quando o movimento costuma ser grande nas concessionárias, o fluxo de clientes se manteve. Em uma loja da Fiat no Setor de Indústria de Abastecimento (SIA), a venda aos sábados e domingos caiu pela metade em setembro. O gerente comercial, Rafael Costa, diz que o desempenho só não foi pior por conta da alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados. ;Os clientes temeram o aumento do preço e se apressaram em comprar;, explicou.
A expectativa dos lojistas é que até dezembro, o resultado melhore. Com o 13; salário, eles acreditam que ficará mais fácil limpar o pátio. ;Nunca tive um estoque tão grande. Estou tendo que segurar a fábrica;, disse Costa. Para o diretor do Sincodiv-DF, Alessandro Soldi, o cenário atual reflete a retração do crédito provocada pela crise financeira mundial. ;Não faltam clientes. Ocorre que as instituições financeiras estão mais prudentes;, afirmou ele. Por ora, as concessionárias não falam em demissão.
Frota
Mesmo com a queda, o número equivale a 307 carros vendidos por dia, quase 13 por hora ; se as concessionárias funcionassem todos os dias e ficassem abertas 24 horas. A frota de veículos do DF, segundo o Departamento de Trânsito (Detran), já ultrapassa 1,2 milhão.
Importados
Em 15 de setembro, o governo federal anunciou aumento de 30 pontos percentuais no IPI para carros, caminhões e motos produzidos fora do Brasil. A medida tem a intenção de favorecer a indústria automobilística nacional e não vale para veículos fabricados no Mercosul e no México. A regra ficará em vigor até 31 de dezembro de 2012. Algumas montadoras conseguiram na Justiça a suspensão do aumento do tributo.
Comércio de motos em queda
A venda de motos também vem caindo no Distrito Federal, segundo os dados do Sincodiv-DF. Em setembro, deixaram os pátios 1.389 unidades, redução de 16,07% em relação a agosto e de 10,79% na comparação com o mesmo mês de 2010. As três marcas mais vendidas foram Honda (986 motos), Kasinski (129) e Yamaha (108). No acumulado de 2011, as lojas venderam 13.457, aumento de 2,16% ante os primeiros 10 meses do ano passado. O motivo da queda, segundo os empresários do setor, também é a retração do crédito por parte dos bancos.
Movimento do mercado
Confira o desempenho das vendas de carros novos no DF em 2011:
Mês - Unidades - Comparação com mês anterior - Comparação com 2010
Janeiro - 8.861 -36,84% - 31,22%
Fevereiro - 9.611 - - 8,46% 26,98%
Março - 9.862 - 2,61% - -20,33%
Abril - 9.691 - -1,73% - -6,98%
Maio - 10.268 - 5,95% - 26,48%
Junho - 9.574 - -6,76% - 10,38%
Julho - 9.440 - -1,40% - -5,61%
Agosto - 10.038 - 6,33% - -11,07%
Setembro - 9.225 - -8,10% - -13,73%
Fonte: Sincodiv-DF
As 10 mais em setembro
Marca - Unidades vendidas
Fiat - 2.233
Volkswagen - 1.924
General Motors - 955
Renault - 663
Ford - 554
Hyundai - 356
Honda - 327
Kia - 300
Toyota - 291
Citro;n - 235
Fonte: Sincodiv-DF