Cidades

Brasilienses aderem a campanha por penas mais severas em mortes no trânsito

Adriana Bernardes
postado em 20/10/2011 06:40
A contadora Fernanda Butitiere esperou dois anos, 10 meses e cinco dias por justiça, que chegou na tarde da última segunda-feira, mas não trouxe alívio. O homem alcoolizado que atropelou e matou a filha dela, Giovanna, 5 anos, em cima de uma faixa de pedestres em Planaltina, foi condenado a cinco anos, 10 meses e seis dias de detenção, em regime inicialmente semiaberto. Ele teve, ainda, o direito de dirigir suspenso por quatro anos e 10 meses.

Butitiere, 29 anos, que, no auge da dor, só clamava por justiça, esperava uma resposta mais acalentadora do Poder Judiciário. ;O que eu posso dizer? Vai fazer três anos que eu estou sem minha filhinha. As pessoas não se comovem mais com o caso. Só quem sofre com isso todos os dias, a cada data comemorativa, somos nós, da família;, lamenta. A contadora se pergunta quem vai fiscalizar se o professor David Silva da Rocha, o motorista responsável pela morte de sua única filha em 2008, está cumprindo a sentença. ;Os assassinos do índio Galdino foram flagrados se divertindo enquanto deveriam estar em casa;, relembra.

Movidos pela dor de ter perdido alguém querido ou pelo simples desejo por uma punição mais rigorosa para quem dirige alcoolizado e mata no trânsito, brasilienses, como Butitiere, estão aderindo a um abaixo-assinado para mudar o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A iniciativa partiu de um jovem de São Paulo, que lançou no último sábado o site www.naofoiacidente.com.br. Em quatro dias, ele conseguiu assinaturas de 43 mil pessoas em todo o país. A proposta, encabeçada pelo engenheiro eletricista Rafael Baltresca, 31 anos, prevê o aumento da pena de motoristas alcoolizados que matam no trânsito, torna crime dirigir alcoolizado ; independentemente da quantidade que o condutor tenha bebido ; e acaba com a necessidade de aferição por bafômetro ou exame de sangue para que o infrator seja processado criminalmente.

Órfão de pai aos 24 anos, Rafael perdeu a mãe e a irmã, em 7 de setembro deste ano. Míriam Asise José Baltresca, 58 anos, e a filha, Bruna, 28, foram atropeladas e mortas em cima da calçada, por Marcos Alexandre Martins, 33, na capital paulista. O motorista se negou a fazer o teste do bafômetro, mas o bombeiro que atendeu a ocorrência narrou no inquérito que ele apresentava forte odor etílico e claros sinais de embriaguez. O exame feito no Instituto de Medicina Legal (IML), no entanto, ainda não ficou pronto. ;Sou movido por uma tristeza e angústia muito grandes. Não quero que a morte delas seja esquecida e que isso continue acontecendo com outras pessoas;, defende Rafael (leia entrevista ao lado).

Desejo de mudança
Na tarde de ontem, a assistente técnica Ângela Maria Rocha da Silveira, 33 anos, aderiu ao abaixo-assinado porque quer mudanças. Pela primeira vez desde a morte do marido, o motorista da Câmara dos Deputados Marcos André Torres, 37 anos, ela falou ao Correio sobre a tragédia. ;Sei que essa proposta não vai mudar a minha vida porque, se forem aprovadas, as mudanças não vão retroagir para punir o motorista que atropelou e matou meu marido. Mas pelo menos os parentes das próximas vítimas poderão ter esperança de que realmente eles (motoristas) serão punidos;, defende.

O acidente que matou Marcos ocorreu em 12 de agosto deste ano no Buraco do Tatu, na área central do Plano Piloto. O motorista que o atropelou ; o estudante Gustavo Henrique Bittencourt Silva, 26 anos, ;estava sob efeito de álcool, segundo exame do IML. Ele não poderia dirigir, pois estava com a Carteira de Motorista cassada por dirigir alcoolizado. O Correio apurou que ele foi flagrado pelo menos cinco vezes pelo Detran. ;A vida fica tão confusa. O tempo passa muito rápido e muito devagar ao mesmo tempo. O Davi vai fazer três anos em dezembro e não para de perguntar pelo pai. Eu expliquei que ele foi morar com o papai do céu. Dia desses ele olhou para cima e disse: ;Mamãe, eu vou subir no céu para buscar o papai;. O que você faz diante disso?;, indaga, emocionada.

Fácil participar
Para aderir ao abaixo-assinado, o interessado precisa fornecer dados pessoais. As informações são mantidas em sigilo. Também é possível imprimir a proposta e colher assinaturas no papel.

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