Guilherme Goulart
postado em 22/10/2011 09:00
A próxima edição do Calendário Ilustrado ; Obras de Athos Bulcão contará com a participação popular. Até 30 de outubro, a Fundação Athos Bulcão (Fundathos) recebe fotografias produzidas por profissionais e amadores a partir de um olhar pessoal sobre os trabalhos do artista plástico. Para os admiradores do legado, é a chance de contribuir com a publicação anual, distribuída gratuitamente na sede da entidade (208 Norte). O catálogo existe desde 2000 e tem como principal função divulgar a memória deixada pelo multiartista.Trata-se também da primeira vez que o calendário da Fundathos será organizado apenas com imagens feitas pela sociedade brasiliense. ;Vamos avaliar a qualidade da fotografia e a forma com que o trabalho está sendo representado, se há uma releitura ou um olhar diferente e especial sobre determinada obra do professor (Athos Bulcão);, explicou a diretora executiva da entidade, Valéria Cabral. Ela é a principal responsável pela conservação, manutenção e proteção do acervo deixado pelo artista na capital do país.
Vários temas figuraram nas publicações da última década. Em 2009, por exemplo, fotomontagens, expressão pouco conhecida de Athos, ilustraram os meses do ano. O catálogo de 2010, produzido para o cinquentenário de Brasília, homenageou o aniversário da cidade com fotografias em preto e branco de algumas criações do artista plástico. Na última edição, foram mostradas as plantas de vários trabalhos dele, além de apresentado o projeto do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, para a futura sede da instituição.
A deixa da participação popular passa por ensaios há quatro anos. Desde o calendário ilustrado de 2008, a Fundathos reserva o espaço de janeiro para publicar trabalhos produzidos por estudantes de escolas públicas do DF ; cada aluno do colégio que recebeu uma exposição de Athos Bulcão recebe a tarefa de desenhar uma das obras do artista plástico. A melhor interpretação ou releitura acaba escolhida pela entidade para aparecer no catálogo do ano seguinte. ;A gente normalmente privilegia o lado lúdico, bastante presente na obra de Athos;, contou Valéria Cabral.
Desrespeito
A ideia da Fundathos para o calendário ilustrado de 2011 aparece também como uma maneira de chamar a atenção e aproximar o brasiliense do artista que escolheu Brasília como referência de vida e obra (leia Para saber mais). Nos últimos anos, o legado sofre com o descaso da população, dos empresários e dos governantes locais. Desde a derrubada do painel de azulejos erguido na concessionária Disbrave, em setembro, caiu para 261 a quantidade de trabalhos assinados por Athos Bulcão na capital do país.
Antes disso, pelo menos duas obras acabaram perdidas. A demolição do prédio do Clube do Congresso, na 902 Sul, destruiu três painéis, um deles em gesso. A reforma no Palácio do Planalto incluiu a remoção de três paredes de azulejos, antes integradas a um jardim de inverno de um dos andares do edifício sede da Presidência da República. Foram reconstruídas em outro piso do prédio, mas a Fundathos não as considera mais como obra de autoria de Athos. Com o calendário de 2012, a entidade espera reforçar a memória deixada pelo artista plástico.
Espaço cultural
A Fundathos aguarda a liberação do terreno concedido pelo GDF em 2009 para começar as obras do prédio que dará abrigo à sede da entidade. O local funcionará como espaço cultural multidisciplinar, com galerias para exposições de arte, museu, salas de oficinas, auditório, jardins e café. Por enquanto, a Fundathos funciona de forma improvisada na 208 Norte. A futura sede ficará no Eixo Monumental e ocupará um terreno de 1,3 mil metros quadrados.
Polêmica recente
Na noite de 21 de setembro, mais uma obra do artista plástico Athos Bulcão foi destruída no Distrito Federal. O trabalho erguido no posto de combustíveis da concessionária Disbrave, na 503 Norte, acabou no chão por conta de obras para a ampliação do espaço.
Quem foi Athos?
Athos Bulcão nasceu no Catete, no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918. Foi criado em Teresópolis, na região serrana. Durante a infância, misturava fantasia e realidade. Um dos momentos cruciais para a definição de sua carreira artística ocorreu aos 21 anos, quando trabalhou como assistente de Cândido Portinari. Foi nessa época que conheceu o arquiteto Oscar Niemeyer. Atuou como desenhista, pintor, arquiteto, mosaicista. Aventurou- se por máscaras, por madeira, pela superfície que se apresentava. Em Brasília, deu vida ao concreto de Niemeyer. Também espalhou obras pelo Brasil e pelo mundo. Há trabalhos na Bahia, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, além de na Itália e na França. Morreu aos 90 anos, em 31 de julho de 2008, por complicações decorrentes do mal de Parkinson.
Como participar
Os interessados em integrar o Calendário 2012 deverão postar fotos (em resolução de no mínimo 300 dpi e, de preferência, horizontais) no site de hospedagem de imagens www.sendspace.com e enviar os links, com nome e telefone, para o e-mail: fundathos@fundathos.org.br. Mais informações: (61) 3322-7801. Falar com Gabriela.