Cidades

"A ausência deles será para sempre", dizem pais que perderam dois filhos

postado em 23/10/2011 08:00
Desde que souberam da gravidez, Marcos e Vyviane alternam momentos de euforia pelo futuro que se apresenta e de profunda tristeza pela dor lancinante de perdas irreparáveis. Eles mantêm o quarto que foi das crianças com os brinquedos prediletos dos meninos. Recentemente, Vyviane descobriu um esconderijo de João Marcos, que dividia tudo com Pedro: os brinquedos, as risadas, os doces, as férias, a atenção dos pais. Mas no armário, atrás das gavetas, havia uma capanga ; bolsa de pano que a mãe de Vyviane fez para o neto ; cheia de playmobil. ;Ele não queria que o menor mexesse;, diz Vyviane, entre risos e lágrimas.

;As pessoas pensam que o tempo passa e a saudade também. A cada dia, sinto mais a falta deles. Do cheiro, da voz, da pele. Me perguntam se estou grávida de gêmeos, como se o nascimento de duas crianças pudesse substituir a vida dos meus meninos que morreram. Não pode. A ausência deles será para sempre;, pressente Vyviane, que nunca procurou um psicólogo depois do acidente. ;Quando estou muito triste, vou para a escola. É a minha terapia.; Ela leciona na Escola Classe 104 Norte, a poucos metros de onde mora. Lá, estudava João, que aprendeu a ler aos 7 anos, mesmo tendo apenas 60% da visão. Ele nasceu praticamente cego, por conta de uma catarata. Mas todos os dias do tempo em que viveu, Marcos e Vyviane se revezaram com os colírios, a fisioterapia ocular, os curativos.

Um dia após o outro, com a ajuda de amigos, dos alunos, de colegas de trabalho, Marcos e Vyviane aprendem a conviver em paz numa casa que abriga a dor das lembranças daqueles super-heróis que repousam prematuramente nas estantes do quarto de Pedro e João com as chupetas, fraudas e mamadeiras de um enxoval pronto para acolher uma vida capaz de aquecer os corações desses pais. ;Quando perdemos nossos pais, ficamos órfãos. Quem perde o marido, se torna viúva. Eu fui mãe. Não sou mais. Não sei o que sou;, disse Vyviane ao Correio, em 31 de julho. Ela já estava grávida. Seja muito bem-vindo, Mateus. Ou, quem sabe, Maria Luísa. (LT)

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