Cidades

Informações sempre insuficientes sobre patrimônio histórico de Brasília

postado em 24/10/2011 07:21
A coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Jurema Machado, conta que, desde 2001, a entidade pede relatórios quase anuais ao governo brasileiro sobre a preservação do patrimônio de Brasília. ;Isso (solicitar relatórios) não é uma coisa rotineira. Se todos os anos são feitos novos pedidos de explicação é porque as coisas estão evoluindo muito lentamente ou porque nada está sendo feito. É um sinal de que a gestão cotidiana não está respondendo ao desafio de manter a cidade como patrimônio mundial;, afirma Jurema.

Ela conta que a Unesco decidiu enviar uma nova missão a Brasília porque as informações prestadas pelo governo brasileiro com relação às medidas de proteção do Plano Piloto são sempre insuficientes. ;Houve a sugestão de uma nova visita e ela foi acatada, mas ainda não há data;, diz. Jurema Machado afirma ainda que as pequenas agressões ao projeto de Lucio Costa, mesmo que isoladas, podem ter um efeito extremamente negativo sobre o conjunto tombado. ;Mínimos desrespeitos geram novos desrespeitos. É importante que os órgãos de controle tenham isso em mente, já que esses pequenos avanços sobre o plano são uma coisa exponencial;, acrescenta Jurema.

Núcleo dinâmico
A representante da Unesco critica a fiscalização no Plano Piloto, mas diz que a curto prazo não há riscos de Brasília perder o título. ;Por ora, a cidade está muito próxima das descrições do relatório do Plano Piloto. Mas é preciso aumentar as medidas de controle e de fiscalização;, alerta Jurema. Para ela, o controle das construções na orla do lago e, principalmente, as melhorias no transporte público deveriam ser prioridade. ;Brasília é um núcleo urbano dinâmico, em processo de transformação e de consolidação, mas nem por isso as questões de preservação devem ser proteladas.;

O relatório de 2001 recomendava que o governo criasse uma zona de amortecimento da área tombada para que não houvesse espigões nos limites do Plano Piloto. O projeto até agora não saiu do papel e, com isso, arranha-céus se multiplicam a poucos metros da região protegida pela Unesco, como ocorre às margens da Epia. A criação dessa zona de amortecimento é uma das bandeiras da arquiteta Maria Elisa Costa, filha do urbanista Lucio Costa. Ela enviou até carta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e à Unesco para propor a criação dessa área, que pela proposta de Maria Elisa teria como limites a Bacia do Paranoá. ;A tendência natural é a crescente aproximação, até o limite da área protegida, de implantações urbanas, certamente mais densas, estimuladas pela especulação imobiliária, que terminariam por envolvê-la com edifícios de gabarito alto, isolando Brasília do seu horizonte;, justificou a filha de Lucio Costa.

Em entrevista ao Correio, Maria Elisa disse acreditar na manutenção do projeto original de Brasília. ;O que segura o Plano Piloto é a força do projeto original. Apesar das agressões aqui e ali, que todos conhecem, por enquanto a identidade de Brasília se mantém;, afirma. ;O que mais me constrange é o pouco caso com que a cidade vem sendo tratada nos últimos tempos. Sinto falta de cuidado, de capricho e de interesse na conservação cotidiana do Plano Piloto;, conta. Para ela, os maiores interessados na suspensão do tombamento são os representantes do setor imobiliário e da construção civil. ;É evidente que a especulação imobiliária ficaria encantada com o fim do tombamento. ;Diante da voracidade tradicional das empreiteiras, acho prudente que se defina formalmente, desde logo, a delimitação do entorno do bem tombado;, finaliza.

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