Roberta Machado
postado em 25/10/2011 07:45
Por conta de um risco de contaminação, o Corpo de Bombeiros interditou quatro lojas da 402 Sul ontem à tarde devido a um vazamento químico em uma lavanderia. Um supermercado também fechou as portas durante a interdição. A evacuação de cinco horas foi necessária para a limpeza do local, atingido pela substância percloroetileno. De acordo com os bombeiros, parte dos 50 litros da solução evaporou ao entrar em contato com o ambiente. Houve risco de intoxicação para quem estivesse num raio de 100 metros do estabelecimento. Todos os funcionários e os clientes do Bloco D da comercial tiveram de deixar o prédio. O acesso de carros à rua acabou fechado das 13h às 18h, mas pedestres puderam passar pelo comércio por fora da área de isolamento.
O gás formado pelo percloroetileno foi inalado por duas pessoas, levadas para o Hospital de Base do DF com tonturas e náuseas ; de acordo com os bombeiros, uma funcionária da lavanderia e um técnico que trabalhava em outra máquina no momento do vazamento. Suspeita-se que o líquido possa ter caído durante o procedimento de diluição do produto, usado para o processo de lavagem a seco (leia Para saber mais). As duas vítimas passam bem e receberam alta.
O Corpo de Bombeiros manteve a área isolada com a ajuda de 20 homens da corporação, além de seis veículos e do apoio da Polícia Militar. O Grupamento de Operações com Produtos Perigosos destacou três equipes de três bombeiros cada, que se revezaram no processo de contenção do material vazado. Com roupas de proteção especiais, tanques de oxigênio e máscaras, os militares usaram mantas absorventes para retirar a substância química da loja. ;O produto deve ter entrado em reação, porque espirrou nas paredes, no chão e no teto. Isso dificultou muito o nosso trabalho;, afirmou o comandante da unidade, tenente Rodrigo Rasia.
Poucos vizinhos da comercial notaram o movimento causado pelo vazamento, e muitas pessoas continuaram a circular pelo local durante a tarde. Mas, com o acesso dos carros fechado, os restaurantes da entrequadra ficaram vazios em pleno horário de almoço, mesmo mantendo as portas abertas. O gerente de um deles apontou que teve um prejuízo de 70%. Os mais surpreendidos pela presença dos bombeiros foram os clientes da lavanderia. ;Pensei que o motivo para o fechamento da rua fosse em outro lugar. Agora, tenho de procurar outro lugar para lavar os edredons, pois já começou a fazer frio;, disse Reinaldo Caixeta, morador da 203 Sul.
Roupas atingidas
Todas as roupas que estavam na lavanderia acabaram atingidas pelo vazamento. Os bombeiros as colocaram em sacos lacrados. A limpeza das peças e a descontaminação da loja vão ficar a cargo da lavanderia, que começou a trabalhar na eliminação da solução tóxica às 20h de ontem. Até o fechamento da edição, o local continuava interditado. Os estabelecimentos vizinhos foram liberados pelos bombeiros.
Em nota, a 5àSec informou que será emitido um laudo técnico de todas as roupas expostas ao percloroetileno. A partir dessa análise, será decidido se as peças poderão ser usadas novamente ou se devem ser descartadas. Segundo a empresa, em um primeiro momento, acredita-se que não haverá dano, pois o produto é retirado da roupa após a limpeza. Eles ainda informam que, caso algum problema seja detectado, a empresa fará o ressarcimento.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Lavanderia e Tinturaria do Distrito Federal (Sindilav-DF), Mauro Vendramini, disse que nos nove anos que trabalha na entidade representativa, nunca soube de um vazamento desse tipo de produto. Segundo ele, todas as lavanderias seguem as instruções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manipular o percloroetileno. ;Uma das exigências para trabalhar com o produto é utilizar luvas e aparelho específico. As empresas armazenam, no máximo, um tambor de 200 litros. Não sei ainda o que aconteceu;, contou.
Restaurante liberado
A loja do China in Box da 109 Norte, interditada na última sexta-feira pela Defesa Civil, reabriu logo após o desligamento de uma fritadeira que deixou escapar gás de cozinha (Gás Liquefeito de Petróleo). O restaurante foi notificado, porque a quantidade de GLP no ar estava acima do permitido e havia risco de explosão. Um técnico da empresa fornecedora de gás foi chamado no mesmo dia para solucionar o problema. Apresentado o teste que comprovou o lacre das saídas do produto, a notificação foi retirada e o estabelecimento voltou a funcionar na própria sexta-feira. Agora, a Defesa Civil aguarda um laudo sobre a situação das coifas, das tubulações e da manutenção preventiva dos bens da cozinha industrial. O China in Box tem 15 dias para entregar o documento e pode pedir aumento de prazo. Porém, caso não o apresente na data estabelecida, a Defesa Civil fará nova vistoria. A depender da situação, o órgão pode notificar novamente e até interditar o restaurante.
Composto nocivo
O percloroetileno é um composto químico usado como solvente no processo de lavagem a seco. Como é tóxico, quem manuseia o produto deve prevenir o contato com os olhos ou com a pele. Em caso de contaminação com o líquido, a pessoa deve lavar a pele e os
olhos com água. Em contato com o ambiente, o produto evapora. Nesse caso, recomenda-se uso de roupa de proteção adequada e isolada, equipada com máscara de filtro de vapores orgânicos ou um tanque de oxigênio.
Quem inala o perclorato pode sofrer tonturas, náuseas e dores de cabeça. O contato prolongado com grandes quantidades do produto também tem efeito cancerígeno. Como é extremamente nocivo ao meio ambiente, não pode ser removido com água diretamente para o sistema de esgoto. Em caso de vazamento, o produto deve ser absorvido com material especial e descartado de forma apropriada para evitar prejuízos à população e ao ecossistema.