Flávia Maia
postado em 28/10/2011 08:20
O resultado das eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB) serve como termômetro para uma disputa que promete ser ainda mais acirrada. No fim de 2012, a comunidade acadêmica escolherá o próximo reitor da instituição de ensino superior. A campanha já começou nas salas de aulas, nas reuniões de conselhos, nos movimentos estudantis e nas assembleias de professores. Na votação desta semana, ao contrário de todas as outras concorrentes, as duas chapas mais bem colocadas fizeram duras críticas à atual gestão e se declararam de oposição à reitoria.Professores, servidores e estudantes escolhem o reitor. O voto deles é paritário, ou seja, tem o mesmo peso. A regra foi conquistada pelos alunos após a ocupação da reitoria em 2008, que resultou na queda do então chefe da UnB, Timothy Mulholland ; acusado de fazer parte de um esquema que desviou recursos dos cofres da universidade e de ter usado parte do montante para executar uma reforma luxuosa no apartamento que fazia uso, na Asa Norte ;, e foi fundamental para a escolha do atual mandatário, José Geraldo de Sousa Júnior. Ele perdeu a eleição entre os docentes, ganhou por pouco entre os servidores, mas teve uma votação expressiva entre os estudantes.
A eleição de José Geraldo, que é ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT), representou a ascensão de um grupo de esquerda sobre os adversários conservadores. No entanto, o grupo que sucumbiu com Timothy tem arregimentado novos apoios. A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb), que também era tradicionalmente ligada aos esquerdistas, está sob poder da oposição desde 2008, que venceu duas eleições seguidas e se prepara para tentar a reeleição em maio do próximo ano.
Para o presidente da AdUnb, Ebnezer Nogueira da Silva, a eleição da Chapa 8 ; Aliança pela Liberdade ; representa a insatisfação dos estudantes com a atual gestão. ;É um marco histórico e mostra o descontentamento do movimento estudantil com o que está ocorrendo na UnB. Os alunos querem uma universidade melhor e espero que isso sirva como um aviso para o magnífico reitor;, atacou Ebnezer. Segundo ele, a atual gestão tem perseguido os professores e, além disso, a discussão não se trata de orientação política. ;Não importa o partido de cada um. A verdade é que quem se colocar pela qualidade na UnB não vai votar no pessoal da atual administração, que é do mal.;
Coordenador-geral do DCE até o ano passado e agora cientista político, Raul Pietricovsky Cardoso acompanhou a sucessão no diretório. Segundo ele, a eleição é resultado de uma mudança no cenário político da universidade que até então era silenciosa. ;Por uma série de questões, tem surgido uma reação conservadora dos docentes cada vez mais forte. Os professores e diretores de institutos mais conservadores começaram a mostrar mais a cara e isso está mais forte entre os estudantes do que a gente imaginava. Essa discussão já antecipa a eleição para reitoria; diz.
José Geraldo afirma que é preciso amadurecer a avaliação do que é a chegada do grupo na UnB para entender o que isso significará na prática. ;Eu também quero as melhorias que eles pregam, como a segurança no câmpus, melhora de infraestrura, mas isso terá de passar por uma discussão. Como reitor, eu também tenho a minha ideologia e visão de mundo. Tudo terá de passar por uma negociação. Que prevaleça o melhor argumento;, diz.
Reação
Para o professor aposentado de ciências políticas da UnB Octaciano Nogueira, a eleição do diretório não pode ser considerada um comportamento padrão dos estudantes universitários. ;Isso não reflete o que acontece em outras universidades e tem um caráter muito particular;, diz. Por sua vez, o cientista político Alexandre Barros explica que o exemplo da UnB mostra uma tendência de insatisfação dos jovens com as atuais gestões. ;Tradicionalmente eles votavam a esquerda e agora estão percebendo que isso pode não ter sido bom a longo tempo. Agora, querem testar algo novo para ver se melhora. A cabeça do eleitor funciona assim: não deu certo, troca;, diz.
Revolta
A reitoria foi ocupada em 3 de abril de 2008 por cerca de 150 estudantes que exigiam a saída do reitor Timothy Mulholland e dos funcionários ligados a ele. O motivo principal da revolta foi a aplicação de R$ 470 mil da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) na decoração do apartamento onde o reitor morava.