postado em 28/10/2011 10:39
A tecnologia da informação avança sem muito alarde e se consolida como uma das atividades mais promissoras e rentáveis da capital do país. A participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) local se igualou à da superaquecida indústria da construção civil, respondendo por 3,6% de todas as riquezas produzidas no Distrito Federal. É o maior percentual entre as unidades da Federação do Centro-Oeste e o sexto no ranking nacional (veja quadro). Em 2010, as cerca de 600 empresas instaladas no DF movimentaram pouco mais de R$ 5 bilhões, valor que aumenta a cada ano.
Brasília tem despertado a atenção de grandes investidores nacionais e internacionais do ramo tecnológico. As principais marcas mundiais, como Microsoft, IBM, Cisco Systems e Oracle, já possuem escritórios na cidade, atraídas pela proximidade com o centro do poder. Todas querem ter um pé no DF para acompanhar de perto as decisões políticas e, mais do que isso, vender para o governo, considerado o melhor cliente do setor. Cerca de 80% dos negócios fechados envolvem órgãos públicos, sobretudo aqueles ligados ao funcionalismo federal.
O crescimento do mercado ganhou força no início da década de 1990, mas foi a partir de 2005 que a indústria de TI acelerou no DF. De lá para cá, o peso do setor no PIB aumentou 0,2 ponto percentual ; passou de 3,4% para 3,6% ;, roubando espaço ocupado pela construção civil, que recuou de 4,3% para iguais 3,6% no mesmo período. ;A tecnologia responde por um terço de toda a participação da indústria na geração de riquezas. O desenvolvimento observado nos últimos anos é algo impressionante;, atesta o economista-chefe da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Diones Cerqueira.
A característica administrativa da capital federal faz com que os contratos, geralmente, resultem em cifras robustas. ;Todo mundo está de olho em Brasília e quer vir para cá;, diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Informação e Comunicação do DF (Sinfor-DF), Jeovani Ferreira Salomão. Ele acrescenta que o número de empresas, de funcionários e o faturamento do setor ; sem incluir as lojas de informática ; não para de crescer. ;O Brasil é a bola da vez para a indústria de TI e a capital está em evidência nesse cenário;, completa Salomão, no cargo desde 2007.
Empregos
O setor de tecnologia emprega pelo menos 40 mil pessoas em Brasília, somando os servidores públicos do ramo. Os salários oferecidos na iniciativa privada costumam ser duas vezes maiores do que a média de outros segmentos. Cursos relacionados à ciência da computação, ao processamento da informação e eletrônica e à automação correspondem a quase a totalidade dos profissionais formados para trabalhar com TI. As especificidades do mercado quase sempre levam as empresas a treinarem seus funcionários, mesmo com boa formação acadêmica.
Empresários do setor acreditam que Brasília tem potencial para se transformar em referência internacional de desenvolvimento de softwares. As indústrias locais sentem a chegada das multinacionais, mas não deixam de competir em pé de igualdade. Marcas brasilienses representam cerca de 70% do mercado e costumam se destacar em premiações de inovação e criatividade. O desafio, sustenta o presidente do Sinfor-DF, é tirar o Parque Tecnológico Cidade Digital do papel e ampliar a produção industrial. ;Precisamos de laboratórios de pesquisa para crescermos;, afirma Salomão.
O projeto-âncora do futuro polo tecnológico de Brasília começou a ser discutido em 2004. Com ele concluído, a expectativa é que as multinacionais passem a desenvolver tecnologia, e não somente vendam produtos e serviços. Até agora, porém, apenas as obras do datacenter do Banco do Brasil e da Caixa Econômica se iniciaram. A demora na concretização do parque impede o setor de TI de crescer com mais velocidade, criando empregos e renda. Atualmente, faltam terrenos para a implantação de indústrias. O novo espaço deverá abrigar cerca de 2 mil empresas.
As obras do prédio da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) serão autorizadas ainda este ano, segundo o assessor especial de gabinete do Governo do DF, Gastão Ramos. Apesar de não ser mais o secretário de Ciência e Tecnologia, função agora ocupada por Cristiano Araújo (PTB), é ele quem cuida de assuntos referentes à Cidade Digital. ;O barco não está parado;, garante Ramos, antes de completar que até 2014 boa parte do projeto estará em andamento.
Censo
O Sinfor-DF encomendou ao Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em 2009, um censo do setor. Os resultados apontaram que mais de 70% das empresas estão situadas no Plano Piloto; 81% são atividades de serviços; a maior parte delas (62,4%) foi fundada de 1995 para cá. Quase metade dos empresários consultados considerou a demanda por funcionários média, grande ou muito grande, sendo que 69,2% destacaram a falta de qualificação. A pesquisa também indicou que 52% das indústrias consideram alto o nível de concorrência no mercado brasiliense.
Parceria
O centro de processamento e armazenagem de dados das duas instituições ocupará uma área de 29 mil m2 e deve ficar pronto no segundo semestre de 2012. O investimento inicial é de R$ 262 milhões, dinheiro oriundo de uma parceria público-privada (PPP) do governo federal.
Para saber mais
Polo criará 80 mil vagas
A área que vai abrigar o Parque Tecnológico Capital Digital, próxima à Granja do Torto, teve registro em cartório em outubro de 2009. Era o último obstáculo à criação do polo tecnológico, empreendimento que abrirá mais de 80 mil vagas. A crise política, no entanto, adiou os planos. O governador eleito, Agnelo Queiroz (PT), prometeu, durante a campanha, dar continuidade ao projeto. O investimento para construir a Cidade Digital girava, inicialmente, em torno de R$ 3 bilhões. Para viabilizar o negócio, o governo pretendia atrair grupos e empresários nacionais e internacionais. O principal terreno, de 960 mil metros quadrados, deve ser licitado a uma única empresa ou um consórcio, que ficará responsável por alugar e gerir os espaços.
Fatia do setor no PIB
Confira a participação da indústria de tecnologia da informação no Produto Interno Bruto dos principais polos do país:
São Paulo - 45,1%
Rio de Janeiro - 14,7%
Minas Gerais - 7,3%
Rio Grande do Sul - 5%
Paraná - 4,5%
Distrito Federal - 3,6%
No Centro-Oeste
Distrito Federal - 3,6%
Goiás - 2,8%
Mato Grosso do Sul - 2,5%
Mato Grosso - 1,7%
Fonte: Fibra/IBGE