Cidades

Arquiteto faz maquetes de símbolos da cidade usando todo tipo de material

postado em 29/10/2011 08:00
Marcos Torres e a maquete do Catetinho:
Nas mãos do arquiteto Marcos Torres, 40 anos, caixas e latas de alimentos vazias viravam brincadeira de infância. Uma embalagem de amido de milho se transformava em um prédio e ele construía cidades inteiras com aquilo que seria jogado no lixo. Desses momentos de diversão dos tempos de criança, nasceu o amor pelas maquetes. ;Elas te remetem a um mundo diferente, te mandam para outra dimensão;, justificou. E foi a partir da paixão pelo trabalho e da vontade de preservar a história da cidade em que nasceu que Marcos reproduziu o Catetinho em uma peça de 1,7m de comprimento por 30cm de largura e 30cm de altura.

Ele trabalhou durante um ano e dois meses na confecção da maquete. Perdeu as contas de quantas visitas fez ao monumento para captar cada detalhe e registrar, em mais de 3 mil fotos, todos os ângulos da primeira residência do ex-presidente Juscelino Kubitschek em Brasília. ;Houve uma vez que fui até lá apenas para verificar um detalhe na madeira.; O arquiteto perdeu horas de sono. Como não podia deixar o emprego para se dedicar exclusivamente ao projeto pessoal, trabalhava na peça à noite e aos fins de semana.

O trabalho ficou pronto em abril de 2010 e seria exposto durante as comemorações dos 50 anos de Brasília. Mas a incerteza política do período deixou o arquiteto receoso. ;A maquete ficaria exposta no Museu da República, mas havia muitas manifestações e fiquei com medo.; No início deste ano, a obra ganhou um espaço no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), na 903 Sul. Até então, a peça ficava guardada no ateliê alugado só para a confecção do Catetinho. ;Estou muito satisfeito, porque as crianças ficam fascinadas com a maquete, mexe muito com o imaginário delas. Para mim, esse pagamento é muito melhor. Imagino quantas delas nunca tiveram a oportunidade de ir até lá e aprender um pouco mais sobre a história da cidade;, comemorou.

Mais de um ano após a finalização da maquete, ele quer difundir a história de Brasília. Torres sente que todo o trabalho de mais de um ano foi recompensado ao saber que a peça é uma das mais disputadas pelos olhares dos visitantes no IHGB, mas que ir além. ;Quero difundir a arquitetura da capital federal para outros lugares do país e, quem sabe, do mundo. Acredito que esse material pode ser apresentado para qualquer pessoa porque os detalhes foram minimamente estudados;, garantiu.

Cada particularidade da construção está preservada na maquete, desde o tamanho das janelas até o encaixe das madeiras na escada e nas mesas. Um retrato fiel. Ele usou uma escala de 20 para 1, ou seja, 5cm na obra em miniatura correspondem a 1m do monumento. ;Chamo essa maquete de uma fotografia 3D.; Torres gastou cerca de R$ 4 mil para comprar o material e confeccionar a peça. O dinheiro saiu do próprio bolso. A obra levou cerca de 40 dias para ficar pronta. ;Se conseguisse colocar esse projeto para frente, largaria o meu trabalho para me dedicar às maquetes;, sugeriu. O arquiteto está em busca de apoio.

Mais maquetes
A reprodução em miniatura do Catetinho é a primeira maquete desenvolvida e faz parte de um projeto maior idealizado pelo arquiteto. Ele pretende reproduzir mais de 20 monumentos da cidade, uma forma de preservar a história da capital do país. Torres, porém, teme que o trabalho se perca por falta de incentivo. ;Fiz essa maquete para apresentar uma peça pronta na hora de correr atrás de patrocínio, mas não será possível levar o trabalho adiante;, lamentou. Ele não pretende vender as peças elaboradas: ;Tudo que fiz é por amor e pela preservação da história de Brasília;.

A escolha do Catetinho não foi por acaso. ;Esse monumento tem uma história bastante interessante, sem contar que foi a primeira construção de Brasília;, avaliou. Segundo Torres, amigos de JK decidiram construir a residência para o presidente e presenteá-lo. O projeto é do arquiteto Oscar Niemeyer. ;O ministro tinha oferecido a JK barracos de lona e os amigos optaram pela construção do monumento. O Catetinho foi feito em apenas 10 dias e se tornou referência para outras construções da época.; O Palácio de Tábuas, como ficou conhecido, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1959, a pedido de JK.

Escândalo no GDF
Em novembro de 2009, a Polícia Federal realizou a Operação Caixa de Pandora, que apontou um esquema de corrupção no governo local. Até as eleições, quatro governadores assumiram o Executivo em meio aos escândalos.

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