postado em 29/10/2011 08:00
Corre risco de ficar paraplégica a técnica de enfermagem Márcia Alves da Silva, 40 anos. Após um desentendimento, ela recebeu quatro tiros pelas costas disparados pelo sargento do Corpo de Bombeiros, Rômulo Antônio Cunha Coelho, com quem vivia há seis meses. Segundo familiares, Márcia está com uma bala alojada na coluna e deve perder o movimento das pernas. O crime ocorreu por volta das 18h, de última quinta-feira, na Rua 10 do Condomínio Buritis, em Sobradinho 2. Rômulo está preso no 19; Batalhão da Polícia Militar (BPM), conhecido como Papudinha, em São Sebastião, onde aguarda julgamento. Ele também poderá ser expulso da corporação.
Vizinhos e parentes da vítima estão indignados. Moradores contaram ao Correio que o sargento costumava agredir Márcia e procurar confusão com outras pessoas e bater em uma criança de 10 anos. A mãe da vítima, de 70 anos, está inconformada. Ela preferiu não se identificar, mas contou que Rômulo estava na casa do vizinho ajudando-o trocar o telhado, que apresentava rachaduras.
Do alto da cobertura, a dupla estaria observando uma moça sem vestimenta em outra casa, quando a esposa do colega começou a jogar cocos nos dois e atrapalhou a diversão. O bombeiro então teria começado a discutir com Márcia. Segundo parentes, o desentendimento começou sem motivo, uma vez que ela não havia brigado com o bombeiro por, supostamente, estar olhando a vizinha.
Discussão
;Ele ficou brabo com os outros e descontou em quem estava na frente. A minha filha estava no quarto ligando para o tio dela para arrumar a mudança de casa e ele achou ruim porque não admitia sair dali;, contou a mãe. Os dois, então, começaram a discutir, momento em que o bombeiro pegou a pistola .380 e atirou contra a técnica de enfermagem. As balas atravessaram a parede e as marcas de sangue ainda podiam ser vistas no local na manhã de ontem.
Segundo a mãe de Márcia, Rômulo ainda tentou enforcar a vítima. ;Foi uma luta muito grande tirá-lo de cima da minha filha. Eu vi ele com as mãos no pescoço dela, mas quando a polícia chegou ele ainda teve a cara de pau de dizer que estava tentando salvá-la;, contou a dona de casa.
Márcia trabalha como técnica de enfermagem de um hospital em Formosa (GO) e está em observação no Hospital Regional de Sobradinho. Os médicos adiantaram à família que ela viverá em uma cadeira de rodas. ;Eu não consigo vê-la daquele jeito. Para mim, é mentira. O que ele (Rômulo) fez foi uma crueldade e uma brutalidade muito grande. Até quando essa lei da impunidade vai continuar. Uns advogados vieram aqui e disseram na minha cara que iam conseguir um habeas corpus e que ele não ficaria nem este fim de semana preso;, revoltou-se a mãe da vítima, com os olhos cheios de lágrimas.
Como o bombeiro foi preso em flagrante pela PM, o crime foi registrado na Polícia Civil e ele foi indiciado na Lei n; 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha e deve responder por tentativa de homicídio. A arma usada para praticar a violência foi apreendida. Segundo o major Eduardo Luis Gomes, além do inquérito aberto pela Polícia Civil, o bombeiro responderá a processo administrativo aberto pelo Conselho de Disciplina. ;Será avaliada a conduta dele como bombeiro e, se ficar constatado que ele feriu os preceitos do Estatuto dos Bombeiros, será expulso da corporação;, afirmou o major.
Lei Maria da Penha
A Lei n; 11.340 passou a ser conhecida como Lei Maria da Penha em homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou tetraplégica após uma das muitas agressões físicas do ex-marido, o professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros. Penha suportou a violência por cerca de seis anos. Em 1983, o marido tentou assassiná-la duas vezes. Ele foi condenado duas vezes à prisão. Hoje, ela coordena estudos, pesquisas e publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência, no Ceará.
Disque 180
Apenas no DF, o número recebeu 7 mil ligações. Desse total, 1.333 eram denúncias de violência doméstica, sendo 707 por agressões físicas, 393 relativas à violência psicológica, 199 por violência moral, 12 referente ao patrimônio e oito decorrentes de crimes sexuais.
Ocorrências
Registros com base na Lei n; 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha
2007 - 879 - (2 denúncias/dia)
2008 - 7.273 - (19 denúncias/ dia)
2009 - 9.666 - (26 denúncias/ dia)
2010* - 11.004 - (30 denúncias/dia)
2011 - 5.927 - (32 denúncias/dia, de janeiro a junho)
Total: 34.749
*O número de ocorrências registrado em 2010 é 1.400% maior que o de 2007, primeiro ano após a sanção da Lei Maria da Penha
2011
janeiro - 1.091
fevereiro - 900
março - 1.033
abril - 702
maio - 1.180
junho - 1.053