postado em 30/10/2011 10:26
Passeios em shoppings de luxo, casa no centro da cidade, carro importado, facilidade na compra de bens duráveis, viagens ao exterior, investimento em educação e em saúde privada. A realidade da elite brasiliense é completamente diferente da média dos moradores da capital. ;Quanto menor a renda, mais a pessoa se concentra na subsistência. Quanto mais alta, mais complexa fica a lista de produtos;, diz José Estáquio Moreira de Carvalho, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio).
O funcionário público Bernardo Rezende, 47 anos, faz parte do grupo que vive com mais de 20 salários mínimos mensais. Em casa, são quatro pessoas: ele, a mulher e dois filhos, um de 9 e outro de 11. ;Hoje, os gastos estão mais relacionados com a educação dos dois, com lazer e com moda. Além disso, grande parte da renda segue para fazer investimentos;, explica. Alimentação e poupança para futuras viagens também integram parte da planilha da família.
A pesquisa mais recente sobre o tipo de despesas por grupo de renda feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a aquisição de veículos, o pagamento de impostos, a manutenção do lar e o consumo, propriamente dito, são alguns dos principais gastos dos que possuem renda elevada. O funcionário público Jefferson Dallasen, 30 anos, se identifica com os dados do estudo. Morador do Sudoeste, vive em um apartamento que divide apenas com a esposa.
Segundo ele, os carros financiados e o aluguel consomem parte importante da renda. Depois, vêm a alimentação, as despesas em geral e uma fatia menor para a poupança. Ainda que também faça parte da classe A, ele imagina que não poderá viver no mesmo bairro caso as despesas cresçam, como deve acontecer quando a família aumentar. ;Provavelmente, a solução será comprar um imóvel em Águas Claras. Por agora, ainda não há necessidade de fazer essa mudança;, afirma.
Adaptação do comércio
Ciente do que é atrativo para cada grupo de renda, o comércio também se molda. ;Não há uma pesquisa, mas os empresários sabem que os centros empresariais são formas de negócios que atendem a todos os gostos e bolsos, pela multiplicidade de negócios;, diz o economista da Fecomércio. No entanto, nos bairros em que o padrão de vida é mais elevado, os estabelecimentos tendem a seguir esse comportamento de despesas. ;São lojas mais sofisticadas, agências de viagem, cinemas, lanchonetes e restaurantes, roupas, calçados e brinquedos. Enquanto nos arredores, dominam lojas populares, de móveis, roupas, restaurantes por quilo, pequenos salões de beleza;, completa Eustáquio.
Para o coordenador de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Márcio Salvato, uma grande diferença entre comércios voltados para os diferentes grupos está não apenas no potencial de adquirir bens com maior valor agregado, mas na necessidade de crédito. ;Classes menos abastadas precisam de condições melhores de pagamento. Quem frequenta shoppings de luxo e lojas de grife, naturalmente, tem uma condição financeira que permite esse acesso;, pontua.
[SAIBAMAIS]No entanto, não são apenas os ricos que vivem nesses bairros. O economista responsável pelo levantamento do mapa da renda do Distrito Federal, Júlio Miragaya, presidente do Instituto Brasiliense de Estudos da Economia Regional (Ibrase), aponta que há uma pequena parcela de trabalhadores, como caseiros, porteiros, empregadas domésticas e babás, que moram na casa dos patrões e encontram dificuldades em consumir na região. Márcio Salvato acredita que essa seja uma característica das grandes cidades. ;Muitas vezes, um bairro que concentra pessoas de renda elevada não possui nem mesmo comércio, já que as famílias podem pegar o carro ou o táxi e se deslocar para fazer compras. Essas pessoas pensam que os centros comerciais desvalorizam os imóveis e isso acentua ainda mais as desigualdades dentro das regiões;, ressalta.