À frente da chapa que ganhou as eleições para comandar o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB), o aluno de direito André Maia, 26 anos, deixa os opositores confusos sobre a própria orientação política. Ele se diz vítima de agressões verbais e julgamentos infundados, que o colocam como um conservador, direitista e homofóbico. Segundo ele, a confusão existe porque não houve interesse em conhecê-lo, apenas em criticá-lo.
O grupo Aliança pela liberdade, que se intitula liberal, foi eleito na última quinta-feira, deixando para trás os adversários de esquerda, que até então figuravam como os favoritos dos universitários desde a redemocratização, em 1988 (leia Entenda o caso). ;Nós sabemos que sempre há provocações contra quem ganha, mas nunca foram tão raivosas. Os concorrentes estão extremamente agressivos e temos dúvidas se o momento de transição e a posse serão situações calmas e pacíficas.;
Desde que o resultado foi anunciado, os atuais ocupantes do DCE trancaram as portas do local. Um cartaz foi colocado na fachada com os dizeres: ;Aliança, vocês não nos representam;. Para o fundador da chapa vencedora, o momento de agitação não deve se manter. Assim que ele e os colegas assumirem o diretório, provavelmente na terça-feira ao meio-dia, quando está marcada a posse, será feita uma ;limpeza; e ;todas as coisas serão postas no lugar;. O espaço, no entanto, deve permanecer à disposição de quem precisar fazer uso dele. ;Não queremos pintar as paredes do DCE e colar cartazes da Coca-Cola, esse é um vício de ideologia que não é nosso;, explicou.
Um dos motivos que levam André a acreditar que os adversários não entenderam os ideais que ele defende está no fato de não conhecerem a antiga admiração dele pela proposta da esquerda. Além do fato de que o estudante de direito consegue respeitar, até hoje, personalidades que sustentam esse viés político, como o ex-senador Jefferson Peres e o candidato ao Governo do Distrito Federal nas últimas eleições, o Toninho do PSol. ;Eu fui esquerdista até os meus 17 anos, pouca gente sabe disso. Fui lendo e mudando de ideia. Hoje, sou liberal.; Ao mesmo tempo, no entanto, Maia revela que o maior ídolo dele é Margaret Thatcher, a política britânica eleita líder do Partido Conservador e apelidada como Dama de Ferro (leia quadro).
Discórdia
Outras ideias que soam contraditórias são o posicionamento avesso ao sistema de cotas e à defesa do casamento homossexual, mesmo que o estudante se diga presbiteriano. Sobre o sistema de ingresso na universidade, ele diz que não se trata de racismo. ;Entendemos que há outras maneiras de inclusão social, mas sabemos que essas coisas não serão mudadas assim, de um dia para o outro;, acredita. ;Também não sou machista ou sexista. Na
causa homossexual, sou um defensor da igualdade de direitos e da legalização do casamento gay;, assegura.
Segundo ele, a Aliança pela liberdade ganhou porque as chapas anteriores deixaram de representar a maioria. Com a mudança desse perfil, ele imagina que mais pessoas se sentirão à vontade para se engajar nas causas da instituição. ;Na UnB, nós tínhamos apenas tonalidades diferentes para um mesmo vermelho, que ia do quase rosa ao quase roxo. Isso significa dizer do esquerdista moderado até os autoritários fascistas;, avalia o estudante.
Os antigos gestores também resistem em aceitar alguns comportamentos pregados pelo grupo durante o período de campanha. A ideia de estabelecer acordos com a Polícia Militar para garantir maior segurança dentro do câmpus é um dos argumentos que causaram discórdia. ;As pessoas não colocam os carros colados uns nos outros e inventam vagas porque querem. Elas morrem de medo de estacionar longe;, diz.
Ao lado dessa proposta, rechaçada por alguns universitários, estão os ideais de permitir a entrada de capital externo para melhorar a universidade. ;Não há nada de errado em entrar dinheiro privado aqui. Quanto mais houver recursos para a instituição, melhor. Ainda mais para quem tem menos condições financeiras. São os mais pobres que sofrem com a falta de estrutura;, defende.
Curiosidades
; Ensino médio: Mackenzie
(bolsista)
; Ensino superior: relações internacionais (UnB) ; cursa direito na instituição
; Ideais políticos: liberais
; Ideais políticos da família: centristas
; Em quem votou nas
eleições presidencias:
Marina Silva (ex-PV)
; E para o governo do DF:
Toninho (PSol)
; Visão sobre as cotas: contrário
; Visão sobre casamento homoafetivo: favorável
; Religião: presbiteriano
; Livro preferido: Do bom selvagem ao bom revolucionário, do jornalista venezuelano Carlos Rangel
; Ídolos internacionais: Margaret Thatcher, William Shakespeare e Martin Luther King
; Ídolos brasileiros e portugueses: ex-vereador e ex-senador Jefferson Peres, ex-ministro Roberto Campos e Fernando Pessoa
; O que gosta de ouvir:
música clássica
; Lazer: concertos, conversa com os amigos, passeio com o cachorro, bicicleta e corrida
; O que gosta de fazer nas férias: viagens, especialmente para a Argentina
O que ele pensa
" Eu fui um dos criadores desse grupo. Eu provoquei essa criação, mas não estou à frente. Hoje, eu me considero membro de um grupo que nasceu entre amigos e, agora, abriga novos amigos"
"Não queremos pintar o DCE (Diretório Central dos Estudantes) e colar cartazes da Coca-Cola. Esse é um vício de ideologia que não é nosso;
"Acredito naquela piada: quem não foi de esquerda até os 30 anos não tem coração. Quem é de esquerda depois dos 30 não tem cérebro;
Esquerda fragmentada
Pela primeira vez desde a redemocratização do país, uma chapa de direita assumiu o principal posto de representação estudantil na Universidade de Brasília (UnB). O resultado saiu na última semana e foi considerado surpreendente. A Chapa 8, Aliança pela liberdade, teve 22,13% dos 5.782 votos e venceu as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). A vitória provocou reações contrárias. Uma das justificativas para a virada na orientação política da UnB foi a fragmentação da esquerda: oito grupos se inscreverem, sendo seis ligados a partidos políticos esquerdistas, como PSTU, PSol e PT. Outro fator: o descrédito com as antigas gestões, principalmente com a União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, no poder desde a década de 1990. Sem oposição, os conservadores foram conquistando os alunos que, geralmente, preferiam se abster do processo eleitoral. Na eleição passada, por exemplo, menos de 20% dos alunos da Faculdade de Tecnologia (FT) compareceram às urnas. No pleito, quase 60% desses universitários votaram. A Faculdade de Administração, que abriga os cursos de direito, de economia e de ciência política, também contribuiu para a vitória da Chapa 8.
Gosto pela moda
Em 2010, André Maia saiu no Correio em reportagem sobre moda e estilo no suplemento Eu, Estudante. Na ocasião, ele definiu o jeito de se vestir como ;clássico e formal;, sendo as peças preferidas da Ralph Lauren. O universitário afirmou acreditar que ter classe não é ser metido. E recomendou a compra de produtos de marca nos Estados Unidos, uma vez que alcançam o Brasil com preços altos.
Na lista de objetos preferidos, ele chegou a exibir um relógio da Bulova. Também tem preferência pelo uso de lenços. Se não comprar nos EUA, pede para a avó confeccioná-los. Ainda assim, faz questão de ressaltar que é de família simples. O universitário mora no Plano Piloto e cursou o ensino médio no colégio Mackenzie. Mas chama atenção para o fato de que foi bolsista, para não ser julgado como mauricinho.
André contou que o grupo Aliança surgiu de um e-mail trocado entre amigos em 2009. Revoltado com o movimento estudantil vigente, e diante da notícia de que um novo pleito seria aberto, o estudante de direito iniciou um movimento com ideais diferentes dos que regiam o DCE. A proposta foi abraçada pelos colegas, e as mensagens deram espaço ao início da organização do grupo.
Na primeira formação, André ocupava o cargo de presidente e, por isso, é visto até hoje como uma das principais lideranças. Ele, no entanto, se diz apenas um integrante, porque passou o bastão para o colega do curso de direito Davi Brito. ;Faz mais de um ano que ele assumiu o meu lugar. A minha intenção é ir me afastando aos poucos, inclusive porque eu vou começar a trabalhar;, diz.