Quem mora ou teve de passar perto de Águas Claras, de Vicente Pires e do Park Way ontem acabou surpreendido pela violência de um temporal. A chuva começou por volta das 13h30 e não perdeu a força por cerca de uma hora. Ruas ficaram inundadas, e a água fez boiar dezenas de veículos. Aqueles que estavam fora de casa correram para se esconder nos comércios mais próximos, assustados com as rajadas de ventos. Em vários estabelecimentos comerciais e residências, a energia elétrica caiu. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não tem um balanço da chuva, já que a estação do Sudoeste só mede as condições climáticas do Plano Piloto.
Poucos minutos após o temporal, o Correio encontrou o trânsito lento e muita água na pista paralela à Estrada Parque Taguatinga (EPTG), que dá acesso a Vicente Pires e a Águas Claras. Os motoristas seguiam devagar e muitos optaram por desviar e passar por dentro de Vicente Pires, evitando os pontos de alagamento. A pouca quantidade de bocas de lobo pode ser a responsável pela situação na localidade.
Mais adiante, a alguns metros da entrada de Águas Claras, o córrego que leva o nome da cidade transbordou e inundou a pista que separa a região administrativa do Park Way. A corretora de imóveis Abadia Baião, 43 anos, levou um susto. Segundo ela, a água cobriu o carro até a maçaneta. Ela pediu a ajuda de familiares e ficou parada com o pisca-alerta ligado, até que eles chegassem e empurrassem o veículo para o canteiro central. ;Começou a chover forte, e eu fiquei presa em um congestionamento. Então, em questão de minutos, a água subiu. Nem se enxergava o canteiro no centro da via. O meu carro e muitos outros ficaram boiando e apagaram;, contou a corretora de imóveis.
No Setor Arniqueiras, que faz parte de Águas Claras, a empregada doméstica Regina Maria de Araújo, 46 anos, tirou os sapatos para atravessar a rua e chegar à casa onde mora e trabalha. Ela aproveitava o dia de folga na Feira da Lua, na área central da cidade, quando o temporal começou. ;Foi muita água, vento e trovão. Aqui, sempre alaga um pouco, porque não tem para onde escoar a água. Mas eu nunca tinha visto nada como o que aconteceu hoje;, comentou a mulher, que correu para se esconder dentro de uma padaria.
Estragos
Os advogados Marcelo Ribeiro, 30 anos, e João Marcos Sousa, 36, também se surpreenderam com a quantidade de chuva. Os moradores da Quadra 205 olhavam impressionados para uma fileira de carros estacionados perto do meio-fio, todos cobertos pela água. Um dos veículos, um Palio branco, chegou a se deslocar e ficar parado na diagonal da pista. ;Estávamos fora de casa quando a chuva começou. Quando a gente voltou, a água estava muito alta. Tanto que preferimos entrar pela contramão;, contou Marcelo. ;Não costuma acontecer isso aqui. Quando chove bastante, alagam só as avenidas principais;, completou João Marcos.
Em um posto de gasolina localizado na Avenida Castanheiras, uma das mais movimentadas de Águas Claras, o vento foi tão forte que algumas placas de PVC se soltaram do teto. O subgerente do estabelecimento comercial, Ulisses Ribeiro Queiroz, 44 anos, queixou-se da falta de infraestrutura na cidade. ;Há bocas de lobo, mas são muito pequenas, não suportam um volume de água desses. Como as ruas são estreitas, inundam;, avaliou. Ele contou que o posto ficou sem energia durante o temporal. A reportagem não conseguiu contato com a Administração Regional de Águas Claras.
Árvores caídas
Na noite de sábado, uma chuva forte acompanhada de rajadas de vento provocou queda de várias árvores na região central de Brasília. O Corpo de Bombeiros registrou quatro ocorrências. Galhos e troncos obstruíram vias na 706 Norte, no Setor de Autarquias Sul e em frente à Feira do Cruzeiro, além de um estacionamento do Parque da Cidade.
Depoimento - Susto e surpresa
;Moro em Águas Claras há um ano, em um prédio na Avenida Araucárias, e nunca tinha visto tanta chuva. Durante mais ou menos uma hora, o vento sacudiu as janelas do nosso apartamento, e a gente escutou até barulho de granizo batendo no vidro. Olhávamos para baixo e víamos muita água na rua. Parecia que o mundo estava acabando. Eu ia sair para levar o meu filho a um encontro da igreja, mas desisti. Falei para ninguém sair de casa. Em muitos lugares, acabou a luz, mas lá em casa, não. Foi sorte, porque na cidade falta energia com certa frequência, até em chuvas mais fracas.;
Flávio Nascimento, 48 anos, servidor público