Cidades

Baixa temperatura não impediu que os brasilienses visitassem cemitérios

postado em 03/11/2011 07:34

Cerca de 100 mil visitantes compareceram ao cemitério da Asa Sul ao longo do dia, segundo cálculo do Batalhão de Polícia de Trânsito


O Dia de Finados amanheceu frio e com o céu encoberto por uma névoa fechada. Mas nem mesmo a baixa temperatura ; 16,2;C ; e a sensação térmica beirando os 10;C, índices registrados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no começo da manhã de ontem, impediram a grande movimentação nos seis cemitérios do Distrito Federal. Na unidade da Asa Sul, onde chegaram a cair alguns pingos de chuva, muita gente estava preparada, com agasalhos e guarda-chuva a tiracolo. Ao contrário do que costuma acontecer na data, quem passou o dia nos cemitérios de Taguatinga e do Gama não chegou a abrir as sombrinhas. Nas duas regiões, não houve registro de precipitação. Por volta das 10h, a temperatura começou a subir.

Ontem, o Correio percorreu três dos cemitérios da capital do país ; os da Asa Sul, de Taguatinga e do Gama. Ao todo, nas seis unidades administradas pela empresa Campo da Esperança, cerca de 620 mil pessoas compareceram para visitar os jazigos de parentes, amigos e até mesmo de pessoas que fizeram parte da história de Brasília, como o fundador da cidade, Juscelino Kubitschek, e daquelas que tiveram mortes trágicas, como a menina Ana Lídia Braga, assassinada aos 7 anos. Somente na unidade de Taguatinga, a Campo da Esperança calculou que 150 mil visitantes estiveram no local. Na Asa Sul, o número estimado foi de 100 mil. Nos quatro dias que antecederam a data, cerca de 180 mil pessoas passaram pelos seis cemitérios.

Coveiro do presidente
Para alguns, ontem foi momento de orações. Para outros, o feriado acabou sendo mais um dia de trabalho. Nos cemitérios, os coveiros e jardineiros tiveram os serviços redobrados. Na unidade da Asa Sul, o mineiro de Patos de Minas Orlando Luiz da Silva, 67 anos, passou mais um ano limpando túmulos, como acontece desde 1974. ;Hoje (ontem), o serviço está ainda mais trabalhoso. As pessoas estão nos procurando bastante para fazer as limpezas e para pedir indicações de túmulos;, afirmou.

Os 37 anos como jardineiro do cemitério levaram o mineiro a assistir a vários velórios e enterros. Para ele, um dos episódios mais marcantes ao longo das quase quatro décadas de serviço foi a morte de Juscelino Kubitschek, em 1976. ;Fui eu mesmo quem fiz a cova do presidente. E ajudei do começo ao fim. Nunca vi tanta gente em um enterro. Lembro que, por causa disso, o Exército chegou a cercar a área para os coveiros poderem colocar o caixão no buraco. Foi muito emocionante;, lembrou.

Além de JK, ele segurou os caixões da esposa do ex-presidente, Sarah Kubitschek, e do jornalista Mário Eugênio Rafael de Oliveira. Embora ontem fosse um dia de labuta, Orlando Luiz aproveitou para visitar os jazigos de quatro parentes: pai, filho, tia e sobrinho. ;Eu sempre faço manutenções nas sepulturas deles. Hoje, coloquei flores e orei;, contou o jardineiro.

Como de praxe, os visitantes carregaram flores, terços, bíblias, velas e muita saudade para homenagear os mortos. Boa parte dos visitantes deixou para comprar os produtos em cima da hora. Os ambulantes aproveitaram o dia para vender flores e velas do lado de fora dos cemitérios. Devido ao grande número de vendedores, a Agência de Fiscalização (Agefis) realizou, em todas as unidades, um forte esquema para impedir que os comerciantes não credenciados prejudicassem a acessibilidade dos pedestres.

Acesso
O BPTrans contabilizou que ao menos 40 mil veículos circularam nas vias que passam pelo cemitério da Asa Sul, o que ocasionou pontos de retenção ao longo da L3 Sul. Assim como no Plano Piloto, os trechos de acesso à unidade de Taguatinga ficaram congestionados. Lá, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) montou uma operação para controlar o fluxo de veículos. No Gama, parte da pista foi interditada a poucos metros da entrada do cemitério para organizar a entrada dos carros nos estacionamentos. O trânsito ficou lento, mas não causou transtornos maiores aos visitantes.

Idosos e deficientes que tinham o credenciamento no Detran conseguiram a permissão para entrar nas unidades da Asa Sul, de Taguatinga, do Gama e de Sobradinho. Os demais motoristas tiveram de deixar os veículos do lado de fora. Para ajudar na acessibilidade, a empresa Campo da Esperança contratou os serviços de 11 vans ; cinco na Asa Sul, três em Taguatinga, duas no Gama e uma em Sobradinho ; com o intuito de transportar os visitantes até os setores onde estavam localizados os túmulos.

Nos seis cemitérios, equipes do Corpo de Bombeiros foram escaladas para trabalhos preventivos. Viaturas da corporação permaneceram até o fim do horário de visitação. Além delas, brigadistas contratados pela Campo da Esperança estiveram nos locais. Até o fechamento desta edição, apenas casos envolvendo desmaios e pessoas passando mal foram registrados pelos socorristas.

Missas cheias e reflexão no templo

Missas campais também foram realizadas nos cemitérios. Os espaços montados para o evento não foram suficientes para acomodar a quantidade de pessoas que quiseram rezar. No cemitério da Asa Sul, a dona de casa Adriana Alves Pereira, 26 anos, foi à missa proferida pelo padre Ricardo Sávio, da Igreja São João Bosco, no Núcleo Bandeirante, às 11h. ;É emocionante estar aqui. Vou aproveitar para orar pelo meu irmão, que morreu em decorrência de um choque elétrico, em 2010.;

Parte da população que esteve no cemitério da Asa Sul decidiu visitar o Templo da Boa Vontade (TBV), na 915 Sul. De acordo com a Legião da Boa Vontade, um estudo levantado pelo TBV apontou que 70% dos que passaram pelo cemitério estiveram ontem no espaço ecumênico. A cada hora, foram realizadas preces na Pirâmide das Almas Benditas. As orações foram acompanhadas da cerimônia de imposição de mãos e da distribuição de água fluidificada. Para fechar a programação, às 16h, o Coral Ecumênico do TBV apresentou um concerto especial. Entre as pessoas que visitaram o espaço, estava a aposentada Acely Felipe Brasal, 76 anos. Após ir até os túmulos do filho, do marido e da mãe, ela decidiu descansar a mente no templo.

Visitantes caminham no centro ecumênico: em busca de tranquilidade

Acely não chegou a participar das programações. Como de costume, ela foi ao local para acalmar a mente e orar pelos mortos. ;Isso aqui me faz bem. Quando saio do templo, sinto uma leveza na alma. Hoje, eu fiz preces para as pessoas que já se foram;, afirmou a moradora de Vicente Pires. A turista paranaense Vivian Mazzer, 28 anos, esteve no templo pela primeira vez. ;Fiz minhas orações. Estou saindo mais leve, com uma paz e clareza de ideias;, avaliou a professora.

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