Ana Maria Campos
postado em 04/11/2011 07:38
O novo diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Onofre José de Moraes, começou ontem a reestruturação dos cargos das divisões especializadas, departamentos e delegacias. Numa estratégia de tentar controlar as atividades policiais, o delegado que está há 34 anos na carreira escolheu para as funções de comando representantes dos mais diversos grupos internos. O número dois na hierarquia será o delegado João Rodrigues, que foi adjunto do ex-deputado federal Laerte Bessa (PSC) durante o período em que ele chefiou a Polícia Civil no governo de Joaquim Roriz, entre 1999 e 2006. O corregedor-geral será o delegado Adval Cardoso de Matos, que exercia a função de chefe da 10; DP (Lago Sul) e agora vai cuidar de uma área com papel ainda mais rígido na disciplina interna.Adval foi o adjunto do delegado Pedro Cardoso, que chefiou a Polícia Civil durante o governo de Rogério Rosso (PSC) e hoje é responsável pelo projeto de segurança para a Copa de 2014. Onofre escolheu um nome com vínculo político para o Departamento de Polícia Especializada (DPE), o delegado Mauro Cézar Lima, candidato a deputado distrital pelo PTdoB nas eleições de 2006 e 2010. Ex-presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sindepo) e aliado de Bessa, Mauro Cézar já estava no governo. Amigo do governador Agnelo Queiroz (PT), ele tinha um cargo de assessor no Palácio do Buriti. Agora, vai comandar delegacias importantes, como a de Furto e Roubo de Veículos e a Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), responsável pela apuração de casos complexos de homicídios. O DPE abrange também a Delegacia de Repressão às Drogas e de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Liberdade
Onofre assumiu o comando da Polícia Civil com liberdade para fazer todas as alterações que considerar convenientes. O Diário Oficial do Distrito Federal de ontem trouxe a exoneração de 43 delegados e chefes de departamentos. A intenção do novo diretor é controlar com mão de ferro as atividades policiais para evitar uma guerra de dossiês contra integrantes do próprio governo e de adversários políticos. Na gestão de Mailine Alvarenga na direção-geral, a cúpula do Palácio do Buriti tinha dificuldades para obter informações estratégicas e controlar investigações, principalmente as ligadas à seara política.
Nas últimas semanas, por exemplo, circulava entre policiais uma degravação de diálogo mantido em agosto entre um interlocutor sob investigação e o policial militar João Dias ; o homem que denunciou irregularidades no Ministério do Esporte e acabou derrubando o ministro Orlando Dias. O vazamento de escutas da Operação Shaolin relacionada ao Programa Segundo Tempo, todas feitas com autorização judicial pela Polícia Civil do DF em 2010, também desagradou integrantes do GDF. A situação de Mailine, que já era de desgaste, se tornou insustentável. O problema, acreditam pessoas importantes do governo Agnelo, é que a delegada não tinha controle dos grupos internos. De acordo com Onofre, Mailine ficará na Polícia Civil e terá a prerrogativa de escolher uma área para atuar.
Satisfação
Onofre de Moraes tem trânsito em vários núcleos de poder. Um dos investigados pelo delegado Flamarion Vidal, na Divisão de Combate aos Crimes contra a Administração Pública (Decap), o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM) não escondeu satisfação com a mudança. ;A folha funcional do Onofre jamais permitirá que ele se manche com partidos. Ele é um excelente policial e fará um trabalho bom;, afirmou Fraga. Flamarion perdeu o cargo na Decap. Ele deverá ser substituído pelo delegado Filipe de Moraes Maciel, até ontem adjunto da Delegacia de Repressão ao Roubo, considerado um amigo do policial aposentado Marcelo Toledo.
Na área de investigações sobre políticos, também haverá mudanças fundamentais. O diretor do Departamento de Atividades Especiais (Depate), que reúne todas as divisões de investigações envolvendo inteligência policial, vai mudar. Sai o delegado Francisco Antônio da Silva e entra Marcelo Fernandes, que exercia o cargo de diretor da Divisão de Operações Especiais (DOE). O setor sofrerá mudanças estruturais. Vai atuar mais na área operacional. As divisões especializadas, entre as quais a Decap e a Deco (Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado), ficarão subordinadas diretamente ao diretor-geral. Dessa forma, Onofre de Moraes sempre terá informações cruciais sobre operações e o cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão.
O novo diretor-geral disse ontem ao Correio que as mudanças não serão tão radicais quanto expôs o Diário Oficial. ;Muita gente será remanejada, mas outros serão mantidos;, afirmou. Os remanejamentos deixaram promotores de Justiça preocupados. O Ministério Público do DF e Territórios teme que as alterações atrapalhem investigações em curso.
Boas relações
Aos 55 anos, o delegado Onofre José de Moraes sempre foi o nome do chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro, para a direção da Polícia Civil. Ele também é amigo do secretário de Justiça e Cidadania, Alírio Neto, que é deputado distrital pelo PPS. Havia entre integrantes do governo uma defesa pela nomeação de outro delegado para o comando da instituição, Maurílio Lima Rocha.