Cidades

Manifestantes enfrentam policiais para impedir obras no Noroeste

Roberta Machado
postado em 04/11/2011 07:39
Apesar de terem decisão judicial favorável, as construtoras não conseguiram retomar as obras no Setor Noroeste ontem. Mais uma vez, manifestantes impediram o andamento dos trabalhos na SQNW 108, apontada por eles como parte do Santuário dos Pajés da etnia Fulni-ô. O clima ficou tenso durante todo o dia. Pela manhã, cerca de 80 policiais militares entraram em confronto com os ativistas, que tentaram impedir a movimentação de três escavadeiras. Eles acusam os militares de abusar da força, o que é negado pela corporação. Os PMs conduziram 13 pessoas à 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte). Após assinarem um Termo Circunstanciado, elas foram liberadas e retornaram ao local.

O impasse no Noroeste já dura um mês e foi parar na Justiça. Devido aos constantes conflitos, as construtoras entraram com uma ação e conseguiram a liberação da área para a construção dos prédios. Na última sexta-feira, a 11; Vara do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) solicitou ao GDF reforço na segurança para que a ordem fosse cumprida. Os manifestantes impediram a retomada das obras com o argumento de que outras duas empresas que não estavam protegidas pela decisão também estavam desmatando o cerrado nativo nos terrenos vizinhos. Eles ainda questionam a delimitação da área indígena, restrita a 4,1 hectares. Oito famílias das tribos indígenas Kariri Xocó e Tuxá já concordaram em ser transferidas para a Reserva do Bananal, mas uma família da etnia Fulni-ô permanece no local e não está aberta a negociação.

Segundo os manifestantes, a área dos índios seria de 51 hectares, dimensão que já foi derrubada em recurso na Justiça e negada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). ;Muito curioso a Funai negar o laudo antropológico elaborado a pedido dela, que atesta, a partir de robustos argumentos reconhecidos, a área da reserva;, criticou o sociólogo Daniel Galvão, 36 anos.

Acesso bloqueado
Por volta do meio-dia, 30 índios se juntaram aos cerca de 60 manifestantes que continuavam no local. Eles retiraram as chaves de algumas máquinas e derrubaram cercas de arame farpado com o auxílio de arco e flecha e de pedaços de madeira e de metal. A estrada de terra que dá acesso ao local foi bloqueada com galhos pelos índios. O coronel Sebastião Davi Gouveia, chefe do Departamento Operacional da PM, definiu o ambiente como ;hostil e criminoso;. ;Eles se armaram com flecha e lanças para enfrentar a polícia;, ressaltou. Para conter os manifestantes, a polícia utilizou gás de pimenta e algemou alguns manifestantes.

Um grupo de manifestantes foi recebido no fim da tarde pelo diretor técnico da Terracap, Luís Antônio Reis, mas não houve acordo. ;A Terracap (que vendeu a área por meio de licitação) é um órgão público e cumpre decisões judiciais;, resumiu o diretor técnico da estatal, Luiz Antônio Reis. O clima tenso só acabou às 17h, quando as construtoras desistiram de tentar continuar com os trabalhos.

Prejuízos
Em nota, a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF) afirma que o atraso nas obras, provocado pelos conflitos no Noroeste, prejudica a economia do Distrito Federal. ;As construtoras precisam cumprir os prazos estabelecidos em contrato com seus clientes;, disse o presidente da entidade, Adalberto Valadão. A Brasal Incorporações, uma das empresas afetadas, informou, também por meio de nota, que ;já contabiliza prejuízos financeiros causados por mão de obra parada e demais investimentos já realizados no local;.

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