postado em 05/11/2011 08:33
Paulo Santana assistiu à primeira audiência de instrução do crime da 113 Sul de cabeça baixa, sentado em um banco lateral, à esquerda do Tribunal do Júri de Brasília. Ao lado dele, ficaram Francisco Mairlon Barros Aguiar e Leonardo Campos Alves, o único que permaneceu atento ao longo de 10 horas de depoimentos.Os três são acusados de envolvimento no assassinato do advogado José Guilherme Villela, 73 anos; da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58. A arquiteta Adriana Villela, filha do casal, aparece como a principal suspeita de ser a mandante dos crimes. Ela não compareceu ao Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT). O triplo homicídio ocorreu em 28 de agosto de 2009 no Bloco C da 113 Sul. As vítimas receberam, ao todo, 73 facadas.
A audiência teve início às 10h35, com os esclarecimentos da delegada Mabel Alves de Farias, presidente do inquérito e ex-chefe da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Ao todo, 44 testemunhas foram intimadas, mas 36 delas acabaram liberadas para prestarem informações em instruções marcadas para as próximas quinta e sexta-feira. Mabel falou por sete horas ; até as 18h ; e respondeu a diversos questionamentos dos advogados de Adriana Villela, que tentaram desqualificar a investigação da autoridade policial. Entre eles, o ex-diretor-geral da Polícia Civil do DF Laerte Bessa.
Durante a oitiva, Mabel destacou o depoimento de Paulo Santana, prestado na Corvida. Ele afirmou que Adriana estava no apartamento no momento do triplo homicídio. Conforme declaração da delegada, José Guilherme teria visto a filha e dito: ;Você nisso, minha filha?; A mulher teria respondido com agressividade: ;Vá pro inferno, seu velho ruim;. Nesse momento, os presentes no Tribunal do Júri de Brasília ficaram em silêncio. Em seguida, as perguntas foram abertas para a defesa de Adriana, um dos momentos mais tensos da audiência de ontem.
Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Adriana, com o auxílio de outras pessoas, ;utilizando-se de instrumentos pérfuro-cortantes, teria ceifado a vida de seus genitores (...), bem como de Francisca Nascimento da Silva, o que fez de forma premeditada, tendo como motivação conflitos de família por assuntos financeiros;. Após matar os pais, a filha teria levado joias da mãe e cerca de US$ 70 mil.
A acusação foi rebatida pelo advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Ele destacou que a prova técnica da Estação Rádio Base (ERBs) ; o equipamento capta os sinais de telefones celulares em uso ; comprova que a cliente, na noite do crime, estava na Vila Planalto, na casa de uma amiga. No entanto, foi discutida a possibilidade de a suspeita ter entrado no apartamento e ficado no local por alguns minutos.
Os advogados de defesa contestaram ainda um laudo elaborado por papiloscopistas, no qual atesta a localização de duas impressões da palmar de Adriana em um cômodo do apartamento dos Villelas. No documento, os peritos garantem que o fragmento colhido não poderia ter sido produzido em 13 de agosto, data em que Adriana disse aos investigadores ter estado pela última vez no apartamento dos pais. Entretanto, o laudo revela que a impressão era de data mais recente, produzida de três e nove dias antes do triplo homicídio.
Embates
A defesa classificou a acusação de que Adriana esteve no apartamento e matou os pais como ;fantasiosa;. Acrescentou que não há prova técnica acerca da denúncia, uma vez que a coleta da impressão palmar determinando o horário em que ela foi produzida não pode ser usada nas investigações, porque se trata de um estudo experimental.
Os defensores alegaram ainda que a apuração da Corvida foi feita de maneira tendenciosa, além de ter ocorrido sumiço de provas. ;Vamos mostrar as arbitrariedades existentes e provar a inocência de Adriana. Os depoimentos das pessoas acusadas no processo foram tomados de forma abusiva e nenhuma das provas se sustentam;, concluiu Kakay.
Para o promotor do Tribunal do Júri de Brasília, Maurício Miranda, as provas colhidas são suficientes para confirmar o envolvimento de Adriana no crime. ;O que cada testemunha sabe não pode ser modificado. O que a gente espera é que todas elas venham com vontade de colaborar com a Justiça.;
Para o representante do MPDFT, os réus deverão ir a júri popular e responder por homicídio e furto qualificados. Atualmente, o processo soma cerca de 10,4 mil folhas, em mais de 50 volumes.
Carolina depõe
A agente de polícia Carolina Villela, filha de Adriana Villela, depôs no Tribunal do Júri de Brasília às 18h. Ela narrou a rotina dela nos dias que separam a morte dos avós e a localização dos corpos. Ela disse que se encontrou com eles pela última vez em 28 de agosto de 2009, data do triplo homicídio. No dia seguinte, sábado, estudou para uma prova. No domingo, ligou para o avô para fazer comentários sobre o exame, mas não conseguiu contato. Sentiu preocupação na segunda.
Carolina disse que almoçou com a mãe na segunda-feira e seguiu para o TJDFT ; ela prestava serviço no escritório dos avós. Ao voltar ao local em que trabalhava com José Guilherme, soube que ele não havia ido trabalhar. Foi, então, ao apartamento dos avós. Funcionários informaram que o casal havia viajado, mas ela encontrou os carros na garagem.
Carolina acrescentou que a mãe era a inventariante dos bens dos avós e delegou a responsabilidade para o irmão, Augusto. Segundo a filha, a mãe e o tio receberam R$ 200 mil de herança.