A área de plantio no Distrito Federal é mínima, se comparada ao restante do país. Mas, aqui, o que se planta rende como em poucos lugares do Brasil. A produtividade de grãos em Planaltina, onde se concentram as maiores fazendas candangas, supera em mais de duas vezes a média nacional. Fruto do investimento em pesquisas e em máquinas com tecnologia sofisticada.
Além de aumentar o rendimento do pequeno espaço de terra cultivada no quadrilátero do DF, os altos gastos em equipamentos de ponta condicionam os produtores da região a se tornarem grandes exportadores e elevam os salários dos trabalhadores da zona rural brasiliense. Sobram vagas para operar avançados tratores e colheitadeiras, função com ganho de até R$ 3,5 mil mensais.
Os melhores exemplos de evolução da agricultura brasiliense estão no Programa de Assentamento Dirigido do DF, mais conhecido pela sua sigla, PAD-DF. Às margens da BR-251, rodovia que liga Brasília a Unaí (MG), propriedades rurais mantidas por gaúchos, em sua maioria, conseguem resultados impressionantes, como a coleta de 6,2t de trigo por hectare ; a média do país é 2,4t/hectare. Significa dizer que, aqui, um mesmo espaço de terra produz 158% a mais.
Para se ter uma ideia do sucesso da região, em terras de Planaltina que se estendem à divisa com Cristalina (GO), a produtividade de culturas como o milho cresceu 100% nos últimos 20 anos. ;Isso se deve, principalmente, aos melhoramentos genéticos de sementes feitos pela Embrapa e a investimento em máquinas de alta tecnologia;, explica Leomar Cenci, um dos maiores fazendeiros do PAD-DF.
Com 23 dos seus 40 anos vividos no assentamento, para onde os pais migraram no início do programa, Cenci possui cinco máquinas agrícolas pesadas. Uma delas, sem motor, está avaliada em R$ 150 mil. Puxada por um trator de R$ 200 mil, ela serve para adubar a terra. Mas os insumos são despejados apenas nos pontos e na quantidade necessários, graças a um computador de bordo.
Essas aplicações são realizadas com base em um mapeamento do solo, feito com amostragens da terra e imagens de satélite. ;Esse sistema dá um total equilíbrio na aplicação de insumos. É o que chamamos de agricultura de precisão;, comenta Cláudio Matinski, 55, engenheiro agrônomo da Cooperativa Agropecuária da Região do DF (Coopa-DF), presidida por Cenci.
Frota milionária
Sediada no PAD-DF, a entidade integra 100 proprietários rurais, 30% dos fazendeiros do programa. Juntos, os cooperados têm quase 3 mil máquinas de alta tecnologia. Do total, são 500 tratores com preço médio de R$ 220 mil e 200 colheitadeiras, de R$ 650 mil cada. Um investimento de R$ 240 milhões. O restante são acessórios, como adubadoras, plantadoras e pulverizadores.
Falta gente para tanta máquina e tecnologia. Os dirigentes da Coopa-DF falam em um deficit de 200 técnicos agrícolas na região. ;Se tivéssemos uma escola técnica formando de 40 a 50 estudantes por ano, todos sairiam empregados;, afirma Matinski. A reivindicação de uma unidade de ensino técnico em agrimensura no PAD-DF é antiga, mas não tem previsão para ser criada pelos governos federal ou local.
Sem a mão de obra qualificada, os fazendeiros e os fabricantes das máquinas agrícolas treinam antigos lavradores e vaqueiros para operar os modernos tratores e as colheitadeiras. Gente como Romir Alves de Souza, 58 anos. ;Com a minha 5; série (atual 6; ano), sei que ganharia só um salário mínimo na cidade (R$ 545). Aqui, dá para tirar até R$ 1,2 mil;, conta.
Para operar tratores que têm cabine fechada, ar-condicionado, computador de bordo e até piloto automático, Romir e os colegas ganham um salário fixo de R$ 800, mais horas extras que chegam a R$ 400. Já o operador de colheitadeira, que tem mais tecnologia, recebe, em média, R$ 2 mil de salário fixo, além de uma gratificação por produtividade que ultrapassa os R$ 1 mil.
Apenas uma firma especializada em locação de máquinas agrícolas, para a qual Omir trabalha, tem 70 tratores e colheitadeiras sofisticadas. Elas atendem praticamente apenas os fazendeiros do PAD-DF, que produzem, em média, 400 mil toneladas de grãos por ano. O faturamento anual deles chega a R$ 150 milhões, gerando 2 mil empregos diretos.
Ocupação
O desenvolvimento da área teve início em 1977, quando projeto do GDF e da Fundação Zoobotânica incentivou a chegada de produtores com tradição na atividade agrícola e com qualificação técnica, vindos especialmente do Rio Grande do Sul. Às margens da BR-251 ; Brasília/Unaí (MG) ;, o PAD-DF abrange uma área de 61 mil hectares, onde há plantio de cereais, hortifrutigranjeiros, bovinocultura e avicultura.
Qualidade garantida
Nem só os grandes investem pesado em tecnologia. Com estufas e irrigação controladas por computador, chacareiros do Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, conseguiram triplicar a produtividade e inserir suas hortaliças no padrão de qualidade das grandes redes de supermercado. Cooperativa da região, a Cootaquara experimenta um crescimento anual de 17%.
A mudança teve início em 2001, quando os chacareiros passaram a adotar as estufas e a técnica de irrigação por gotejamento. Ela fornece água de forma controlada para as plantas em quantidade suficiente e no momento certo, assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação. Em certos casos, enriquece o solo com a deposição de elementos fertilizantes.
Dez anos atrás, a Taquara produzia 6ton mensais de hortaliças. Hoje, são 400t de 40 variedades. A maioria, plantada, selecionada, pesada e embalada pela cooperativa. Tudo vai para supermercados médios e grandes do DF. O pimentão, carro-chefe da região, segue também para Goiânia e Anápolis (GO), de onde são distribuídos a várias cidades da Região Norte do país.
Para dar conta de tudo, a Cootaquara, que há uma década tinha uma Kombi, hoje conta com sete caminhões e 20 empregados. ;Temos um rígido controle de qualidade e nossos produtos podem ser rastreados. Sofremos duas auditorias anuais. Tudo para nos adequarmos às exigências dos grandes supermercados;, explica o superintendente da cooperativa, Maurício Severino Rezende.
Ele tem 70 estufas de 350 metros quadrados, onde, este ano, vem plantando somente pimentões, todos irrigados por meio de um controlador automático instalado em uma central. ;Cada estufa custa, em média, R$ 5 mil. Com ela, produtores da região conseguem colher em média 700 caixas por mil plantas. Há quem consiga até mil caixas. Sem a estufa, a produção seria de 300 caixas por mil plantas;, conta.
Setor cresce 15% no país
De maio de 2010 a abril deste ano, 66,8 mil unidades de colheitadeiras e tratores foram vendidas no Brasil, um crescimento de 6% em relação a igual período anterior, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No ano passado, foram comercializadas 69 mil unidades. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) estima um crescimento de 15% este ano. A John Deere, líder em colhedoras de grãos no país, estuda áreas para a instalação de uma nova fábrica no país.
Tradicional fabricante de implementos agrícolas, a Jumil, com duas fábricas em Batatais (SP), investiu em melhorias no parque fabril e na contratação de mão de obra. Em 2010, vendeu cerca de 300 plantadoras de verão, principal item da marca. Este ano, a meta é vender entre 450 e 500. Líder no segmento de tratores de até 50 cavalos de potência, a Agrale, com unidade em Caxias do Sul (RS), informa que a perspectiva para 2011 é produzir de 2,1 mil a 2,2 mil unidades. Em 2010, ela fabricou 1,9 mil tratores.