postado em 08/11/2011 06:34
Por meio da tela de cinema, é possível perceber a realidade de forma diferente. Com intuito de incentivar olhares diferenciados, o projeto Novas Perspectivas levou ontem 300 jovens de Ceilândia a uma sala de projeção no Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Alunos de escolas públicas assistiram a três filmes curtos, todos ligados, de alguma forma, à cidade onde vivem. A região é a maior do DF, com aproximadamente 400 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ali, a produção cultural é viva. Não há, porém, salas de cinema.
A sessão começou com o documentário O chiclete e a rosa, sobre crianças que atuam como vendedoras em bares de Brasília. Através das lentes de sua câmera, a diretora Dácia Ibiapina contou histórias de meninos e meninas que vivem em Ceilândia e em outros lugares do Distrito Federal. Em seguida, o público conheceu o curta Procura-se, do cineasta Iberê Carvalho. O filme aborda a vida de uma menina chamada Camile, de classe média alta, em busca do cachorro perdido.
No meio do caminho, Camile conhece os filhos de um carroceiro ; vivido pelo rapper brasiliense Gog ; que encontraram o animal. Surge amizade e barreiras sociais são transpostas, com humor e uma dose de humanidade. As cenas se passam na Vila Planalto e no Varjão. O último a ser exibido foi o documentário Rap, o canto da Ceilândia, de Adirley Queiroz. A plateia vibrou ao ver a história e paisagens de Ceilândia expostas com sensibilidade e em ângulos diversos.
Entusiasmo
Ao fim da exibição, os estudantes mostraram-se cheios de novas ideias. ;Acho um desrespeito com os moradores de Ceilândia não ter uma sala de cinema na cidade. Hoje, eu vi na tela coisas que nunca tinha visto na minha cidade;, disse Talita Gomes, 14 anos, aluna do 8; ano do Centro Educacional 6 (CED 6) de Ceilândia. Victor Medeiros, da mesma idade e matriculado no CED 13, costuma sair da região onde vive e buscar o acesso à cultura na vizinha Taguatinga. ;Vou todo sábado ao cinema. Não falta público na minha cidade, falta é espaço para frequentar;, reclamou.
Luan Souza, 15 anos, sentiu que Ceilândia foi valorizada ao ver a cidade em imagens bem-cuidadas. ;Ajuda a gente a gostar mais de onde vive;, afirmou o adolescente, nascido nessa região administrativa. Victor Douglas Sousa, 16, tem o sonho de ser cineasta. Também se interessa por dança e teatro. ;Conversei com o cineasta (Iberê Carvalho estava presente) e ele me deu várias ideias de como aproveitar alguns roteiros que tenho na cabeça. Tenho muitas ideias, mas falta foco, alguém para me guiar. Oportunidades como a de hoje são importantes para despertar;, avaliou.
O curador da mostra, João Pácifer, explica como selecionou os filmes exibidos. ;Quis trazer para a tela a realidade deles, para nos comunicarmos. Ao mesmo tempo, quis apresentar o cinema de Brasília, que está criando voz, mas é feito há muito tempo. É importante que eles tenham acesso ao que está próximo e não só a novelas e filmes estrangeiros;, concluiu.
Os organizadores da mostra querem levar crianças e jovens de outras regiões administrativas para as sessões. Falta definir o calendário. Além disso, será preciso apoio das regionais de ensino. Ontem, eram esperados 600 alunos de Ceilândia, mas somente a metade participou. O Instituto de Relações Internacionais, responsável pela iniciativa, oferece lanche e transporte gratuito.