postado em 09/11/2011 07:00
A menos de duas semanas da comemoração do Dia da Consciência Negra, no próximo dia 20, foram anunciados os sete vencedores da primeira edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, cujo propósito é despertar a mídia para a produção de conteúdos jornalísticos que cooperem para a prevenção, o combate e a eliminação de todas as formas de manifestação do racismo e da discriminação racial no Brasil. Entre os laureados está Conceição Freitas, repórter especial do caderno de Cidades do Correio Braziliense.
O prêmio foi entregue na noite da última segunda-feira, durante cerimônia no Rio de Janeiro. A jornalista amazonense, criada em Goiás e brasiliense de coração, ganhou o primeiro lugar na categoria Mídia impressa, com a série Negra Brasília. Esse é o nono prêmio de Conceição Freitas, que iniciou a carreira nos principais jornais de Goiás e há 27 anos faz parte da equipe do Correio.
Publicada em 12 partes, a sequência de reportagens foi veiculada no ano passado. Conceição, de apurado faro jornalístico, descobriu histórias de 13 negros moradores de Brasília que, mesmo com as adversidades, conquistaram seu espaço na capital do país. Parte dos relatos foi contada em primeira pessoa. ;Há muito tempo queria fazer essa série próximo à comemoração do Dia da Consciência Negra, mas adiei por um ano. Depois disso, decidi fazer algo diferente ao contar a vida de pessoas de vários estratos sociais, desde um adolescente infrator até o juiz;, relembrou a repórter especial, carinhosamente chamada de Ceiça pelos colegas de Redação.
Inspiração
A presença da negritude na vida de Conceição veio muito antes do contato com os entrevistados. Alguns dos traços do bisavô dela, que era negro, fazem parte da identidade da repórter. Os cabelos encaracolados ficam soltos recorrentemente. O sangue indígena também corre nas veias da jornalista. ;Sou uma mistura de mestiço e crioulo;, orgulha-se ela, que também assina a Crônica da Cidade.
Mas foi somente após conhecer as 13 protagonistas da série que Conceição Freitas entendeu a força de um afrodescendente. Ela disse não haver, entre as histórias dos 13 negros, apenas uma que seja a favorita. ;Com todas eu aprendi um bocado. Aprendi que o preconceito é muito maior do que vemos, que ele é invisível e que os negros passam por isso desde a hora em que nascem até a morte. Foi muito forte para mim esse convívio. Percebi que, acima de tudo, eles são fortes e alegres. Foi um aprendizado do que é negritude;, traduz.
;Eu gosto de procurar entender e descobrir como as pessoas dão sentido às próprias vidas mesmo com toda a penúria;, frisou Conceição, que elegeu 2010, ano em que foi comemorado o centenário do abolicionista Joaquim Nabuco, para lançar a série.
Ao ouvir os 13 relatos, a jornalista não teve dúvidas: ;Quando um negro se descobre negro, ele fortalece sua identidade, se sente parte do coletivo, fica mais forte, lindo e alegre. Eu me descobri negra. Essas reportagens me ensinaram a ser negra em um país onde não existe a democracia racial;, conclui Conceição.
Defensor da causa
Jornalista, ativista e ex-senador da República, Abdias Nascimento, falecido em maio, aos 97 anos, é referência em igualdade racial. Nascido em 1914 em Franca, no interior de São Paulo, Abdias teve uma trajetória longa e produtiva: participou do movimento integralista da Frente Negra Brasileira, foi pioneiro em iniciativas no campo da cultura e militante ativo no movimento negro. Em 2009, recebeu a indicação ao Prêmio Nobel da Paz em razão de sua defesa pelos direitos civis e humanos dos afrodescendentes no Brasil e na diáspora africana.