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Centros de saúde e UPAs não ajudam a reduzir demanda em hospitais do DF

postado em 09/11/2011 15:30
Sem atendimento garantido nos pronto-socorros da rede pública do Distrito Federal (DF), resta aos pacientes com problemas de menor complexidade, como dor de cabeça e febre, procurar atendimento nos centros de saúde. Essa, pelo menos, tem sido a orientação da Secretaria de Saúde. O problema é que a maioria da população desconhece essa recomendação. Além disso, grande parte dessas unidades não oferece pronto-atendimento.

A equipe de reportagem da Agência Brasil percorreu centros de saúde de quatro cidades do DF e constatou que, nesses locais, os médicos atendem apenas com agendamento prévio. No Centro de Saúde n; 2 de Santa Maria, a clínica médica dispõe de quatro profissionais. A marcação de consultas só pode ser feita aos sábados, das 7h30 às 11h. Nesses dias, de acordo com os próprios funcionários, é preciso chegar cedo, já que as senhas são distribuídas, mas nem todos os pacientes conseguem horário de atendimento.

O cenário no Centro de Saúde n; 3 do Gama é de corredores vazios. Heliane dos Santos, 29 anos, contou que foi ao local apenas para mostrar fotos do filho aos funcionários da unidade. ;O pré-natal e o atendimento do bebê eu fiz aqui no posto. Mas, para atendimento comum, vou ao pronto-socorro, porque aqui tem que marcar hora;, disse. ;Passando mal, não viria para cá não;, completou.

Outra queixa de pacientes diz respeito ao horário de funcionamento das unidades, que, geralmente, não ultrapassa as 18h. No Centro de Saúde n; 2 de Taguatinga, pessoas com consulta marcada formavam fila do lado de fora do prédio no último dia 21. Isso porque o local, que conta com dois profissionais de clínica médica, fecha no horário de almoço, das 12h às 13h. A marcação de consultas começa no dia 25 de cada mês, das 9h às 11h e das 15h às 17h. Assim que as senhas acabam, também é encerrado o período de agendamento.

A Secretaria de Saúde do DF aponta as unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) como segunda alternativa para os casos menos graves e como solução para diminuir a demanda nos pronto-socorros. Entretanto, apenas uma UPA foi entregue pelo governo até o momento. Em Samambaia, única cidade-satélite do DF com uma unidade desse tipo em funcionamento, o hospital regional sequer disponibiliza a opção clínica médica. Há apenas ginecologia, obstetrícia e cirurgia geral. Entretanto, na própria UPA, um único médico fazia o atendimento no final de outubro. De acordo com informações repassadas no balcão, não era certo que haveria um profissional no período da tarde. ;Há três semanas, vim aqui, mas só tinha um clínico. Tudo muito cheio, gente sentada, em pé, nos fundos e lá fora;, contou a estudante Juliane Negreiros, 24 anos. ;Fui embora. Estava com a garganta infeccionada, doendo muito;, contou.

A filha de Ornélia Souza Silva, 40 anos, estava com falta de ar e muita tosse. A diarista chegou à UPA por volta das 3h da manhã do último dia 21, mas foi informada que o único médico disponível estava ocupado com a demanda de internações. Ela foi para casa e retornou ao local no final da manhã, quando conseguiu ser atendida. ;Quando tem médico é rápido. Mas quase sempre não tem;, ressaltou.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário adjunto de Saúde do DF, Elias Fernando Miziara, destacou que, ao longo dos últimos anos, houve um ;desvirtuamento do sistema de saúde pública;, que fez com que a população deixasse de acreditar na eficiência dos centros de saúde. ;Os próprios governantes não incentivaram, não deram condições aos centros de saúde, e a população começou a recorrer aos hospitais. Quando você tem toda essa verdadeira multidão na emergência, você praticamente impede que chegue lá quem realmente precisa;, disse.

De acordo com Miziara, toda cidade do DF deve contar com pelo menos um centro de saúde que funcione até as 22h e que tenha pronto-atendimento. A orientação é que a população procure a administração regional para se informar sobre a localização dessas unidades.

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