postado em 14/11/2011 06:24
Se não fosse um pequeno truque idealizado pelas irmãs da dona de casa Jenilúcia Alves de Alencar, 54 anos, e do armador Inácio Vieira de Alencar, 55, hoje o casal talvez não estaria completando 28 anos de cumplicidade. Eles lembram bem o primeiro mês de 1983, quando uma simples carta traçou o destino dos piauienses. Depois que Inácio conheceu Jenilúcia e comentou com parentes sobre a beleza da mulher loira de olhos azuis, as irmãs do casal decidiram redigir uma mensagem de declaração e se passaram pela dona de casa. ;Elas fizeram um texto apaixonado. Dizendo que eu estava gostando do Inácio e ainda mandaram uma foto minha, como tivesse sido eu;, contou ela.
O envelope chegou a Tucuruí (PA), onde o armador trabalhava à época. ;Foi uma surpresa para mim. E logo fui contar para meus amigos;, lembra-se Inácio. Dias depois, foi Jenilúcia quem recebeu uma carta remetida pelo armador. ;Abri o papel e dei de cara com um anel, era uma aliança de compromisso. Coloquei no dedo e ele coube certinho;, conta. Um mês depois, Inácio oficializou pessoalmente o pedido de casamento e eles assinaram a papelada no cartório.
Mas foi somente no último sábado, quase três décadas depois, que o casal oficializou a união em uma cerimônia religiosa, realizada na Paróquia Santa Mãe de Deus, em Santa Maria. Os votos dos piauienses foram lidos diante de outros 25 noivos que concretizavam o sonho de terem o matrimônio abençoado pela Igreja Católica simultaneamente, em um evento comunitário. A maioria das noivas não dispensou o tradicional vestido branco e o buquê. Mas Jenilúcia preferiu um traje bege mais simples. O ramalhete de flores artificiais deu um toque especial à roupa da noiva. ;Eu não quis entrar de branco porque eu acho que já passei da idade para isso. Mas o buquê eu não dispenso;, justificou.
Segundo a dona de casa, a decisão de reafirmar a união não partiu do casal, mas da caçula de Jenicélia e Inácio. ;Eu queria muito que eles se casassem na igreja;, afirmou Janecélia Alves de Alencar, 21 anos. Mas foi a vergonha de entrar sozinha na igreja que levou Jenicélia a optar por uma cerimônia coletiva. ;Em mutirão é mais bonito. Eu também ficaria encabulada se chegasse sozinha à paróquia;, explicou a dona de casa.
Ao contrário dos casamentos convencionais, os casais entraram de mãos dadas na igreja. Todos os outros detalhes foram seguidos rigorosamente. Os 25 noivos participantes do enlace coletivo entraram na capela ao som da marcha nupcial e prometeram ser fiéis aos seus companheiros perante o padre venezuelano Alexis Guanipa. O final não poderia ser diferente e menos emocionante. Ao mesmo tempo, o público, que lotou todos os bancos da paróquia, presenciou beijos apaixonados. ;Nunca vi tanta felicidade em um dia só;, expressou Cristina da Silva Santos, 27 anos, que assistiu pela primeira vez a um casamento coletivo.
Aberto à comunidade
Este é o 15; casamento coletivo que a Paróquia Santa Mãe de Deus, em Santa Maria, realiza desde 2001. A união coletiva foi assistida por cerca de 900 pessoas, entre parentes e amigos dos noivos. O evento foi aberto à comunidade e já se tornou uma tradição na cidade. A iniciativa acaba incentivando muitos casais a celebrarem antigas uniões em uma cerimônia religiosa.
Uma longa espera
Muitos casais que participaram da cerimônia coletiva esperaram décadas pelo enlace. Há 44 anos, a dona de casa Eulália Oliveira de Deus, 56 anos, foi ao primeiro encontro com o pescador Alteredo Alcântara de Deus, 67. Ela ainda era uma estudante de 13 anos. Ele, um jovem guarda municipal de 23 anos. Era 1967, ano em que as vidas dos maranhenses se cruzaram para nunca mais se separarem. Após um encontro romântico no cinema em São Luiz, os dois enamorados decidiram que ninguém os separaria. ;Depois daquele encontro, eu não voltei para casa. Ele me roubou e fomos para a casa do tio dele;, relembrou Eulália. Uma semana depois, as família dos jovens obrigaram a dupla a se casar oficialmente. ;Nós não pensávamos em nos juntar em tão pouco tempo, mas nos casamos no civil;, acrescentou a dona de casa.
Eulália e Alteredo escolheram o neto, o pequeno Maurício Henrique Alcântara Sales de Deus, 5 anos, para levar as alianças ao altar. A ideia de participar de uma união religiosa coletiva nasceu há pelo menos três meses. O baixo custo do matrimônio também influenciou na hora de levar o sonho adiante. Se o casal tivesse organizado um evento à parte, o gasto teria sido muito maior do que os R$ 580 investidos na cerimônia de sábado ; valor referente à taxa simbólica do evento, que foi de R$ 80, e do aluguel do vestido.