postado em 15/11/2011 07:37

Engana-se quem imagina que o Arapoanga é um bairro de Planaltina conflagrado pela violência, onde nada brota, exceto os crimes contra o patrimônio e contra a vida. Considerada uma das regiões de mais altos índices de criminalidade do Distrito Federal, a cidade de estimados 50 mil habitantes tem um comércio vigoroso, supermercados amplos, extensas casas de material de construção e dezenas de lojas de roupas femininas.
Uma das mais movimentadas avenidas comerciais do Arapoanga atende pelo simpático nome de Água de Coco, denominação de uma loja de materiais elétricos. Ao longo da pista estreita e extensa, sucedem-se papelarias, lan houses, pet shops, oficinas mecânicas, brechós de roupas e móveis, lojas de materiais elétricos e salões de beleza, como o Gêmeos Coiffeur, dos irmãos Patrícia, Edineida, Ricardo e Reinaldo Silva. A loja é arejada, espaçosa, colorida e os preços acompanham o perfil econômico da cidade: corte com máquina é R$ 4, com máquina e tesoura é R$ 6 e só com tesoura é R$ 7. No meio da manhã de uma segunda-feira quase feriado, o Gêmeos era o salão mais movimentado da cidade: três cadeiras ocupadas e uma cliente esperando sua vez.

A carioca Elizabeth Cardoso Celino também não tinha do que reclamar. Havia clientes na sua loja, a São Luís Material de Construção, que também vende objetos para o lar e tira fotocópias. Atrás do balcão, um berço anunciava a presença de um bebê. Até dias atrás, Elizabeth levava a filha de 10 meses para a loja, mas, depois de dois assaltos sucessivos, ela tem evitado deixar a criança na área de comércio. ;Nos 15 anos que temos a loja, só houve um assalto. Mas, de repente, aconteceram dois;, conta. O primeiro deles foi o que mais surpreendeu e entristeceu Elizabeth: ;Eram duas crianças, mais ou menos da idade do meu filho (12 anos). Um ficou na bicicleta e o outro entrou com uma arma;.
Salvo esses dois episódios recentes, a comerciante não conhecia a violência de Arapoanga. Nem o tapeceiro Edi Araújo, dono de uma pequena tapeçaria que faz estofamento de sofás na cidade e nas redondezas. ;Tem sim, mas é lá pra baixo;, ele diz, apontando com o queixo para o fim da avenida. Edi faz propaganda de seu serviço: ;Tenho mais de 500 tipos de tecido. Minha mulher é quem faz a costura e eu faço o estofamento;. O tapeceiro alagoano só reclama de ainda não ter conseguido comprar a casa própria: ;Há 17 anos moro no Distrito Federal e de aluguel;.

A seu lado, o potiguar João Maria Peixoto conseguiu montar sua própria oficina mecânica, a Auto Mecânica e Elétrica do João, que tem uniforme com logotipo para os funcionários e que ontem pela manhã consertava seis carros, entre eles uma Caravan, um Chevette, um Jipe e um Fusca vermelho 1974. O dono da relíquia, o pedreiro José Leite Rodrigues, mora no Arapoanga desde 1990 e não vende o possante ;por dinheiro nenhum;.
Os portões de ferro, os muros pintados em cores fortes e os prédios de dois e três pavimentos indicam que o Arapoanga também respira os ares da prosperidade, apesar de tudo.