Adriana Bernardes
postado em 15/11/2011 11:00
As tragédias no trânsito do Distrito Federal se estabilizaram. Entre janeiro e 30 de outubro, houve 14 acidentes fatais a menos e uma morte a mais na comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, o balanço parcial do Departamento de Trânsito (Detran) reúne 356 batidas com registro de óbitos e 397 vítimas em todo o DF (veja quadro). Os dados podem sofrer alteração, pois a autarquia acompanha o estado de saúde dos envolvidos após 30 dias.
Os números só não estão maiores do que os de 2010 porque menos motociclistas se envolveram em colisôes com morte. Até agora, 99 motoqueiros perderam a vida, 32 a menos do que no mesmo período do ano passado. A quantidade de fatalidades poderia ser menor se o total de ocorrências nas rodovias federais tivesse se mantido em relação a 2010. Nesses trechos, houve 14 acidentes e 23 mortes a mais do que de janeiro a outubro do ano anterior. Nas estradas distritais ; sob a jurisdição do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) ; e nas vias urbanas, sob a responsabilidade do Detran, as estatísticas estão em queda.
Na avaliação do diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, a estabilização se deve, em parte, ao investimento em melhorias na sinalização de trânsito no DF. Ao todo, foram gastos cerca de R$ 3,4 milhões em pinturas de faixas de pedestres, colocação de tachas luminosas (olho de gato) e instalação de placas. ;Um exemplo claro para nós é a Avenida Alagados, em Santa Maria. No começo do ano, havia muitas mortes no local. Depois das melhorias, não teve mais. A última foi em maio;, citou. Em 2010, cinco pessoas morreram no local e, até maio, outras quatro tinham perdido a vida.
Bezerra garante que as operações de fiscalização estão presentes nas ruas e também contribuem para reduzir as mortes. ;Apreendemos 70 carteiras de motorista por semana. É um absurdo, por exemplo, a quantidade de motos levadas para o depósito por conta de irregularidades. Não tenho a mesma quantidade de agentes, porque muitos saíram ou se aposentaram. Mas a fiscalização está na rua;, assegurou.
Grave
Por muito pouco, um acidente na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) não acabou em tragédia na manhã de ontem. Por volta das 7h30, a Fiorino dirigida por Adelson Barbosa de Oliveira, 27 anos, bateu em um poste de iluminação pública perto do viaduto do Guará. A vítima ficou presa às ferragens e o poste, destruído e com a fiação exposta.
O motorista está internado no Hospital de Base do DF, onde passou por uma cirurgia, na tarde de ontem. O vendedor Amilton Barbosa de Oliveira, 36 anos, contou que o irmão sofreu três fraturas, duas no fêmur e uma na clavícula direita. ;Ele tinha saído para fazer uma entrega. Está consciente, mas disse que não se lembra de nada;, contou. ;Quem vê o estado que o carro ficou, não acredita que ele saiu vivo;, completou o pai de Adelson, o vigilante Manoel Bezerra de Oliveira, 60 anos.
A família informou ao Correio que uma mulher viu um carro colidir na traseira da Fiorino. O motorista teria parado alguns metros à frente, mas seguiu viagem em seguida, sem prestar socorro.
Dicas para pedestres
; Atenção redobrada. Olhe para todos os lados. Em um semáforo, o pedestre não deve andar pela via em ziguezague. Mesmo com o sinal vermelho, a travessia deve ser feita na faixa, em linha reta.
; Caso seja necessário atravessar entre os carros parados, devem-se observar os corredores. O motociclista passa entre os veículos até chegar ao semáforo.
; Espere na calçada até ter certeza de que a travessia será segura. Motoqueiros desviam dos quebra-molas passando rente ao meio-fio e também dos traços de pardais no asfalto.
; Ao optar pela faixa de pedestre, é importante observar se todos os carros e as motos estão parados.
; Ao caminhar pela rua durante a noite, o pedestre deve optar por roupas claras e lugares iluminados. Ele precisa ser visto pelos condutores.
; Não use o celular na hora da travessia. Ele tira a atenção.
Risco sobre duas rodas
O Departamento de Trânsito (Detran) promove fiscalizações diárias com foco nos motociclistas. Segundo o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do órgão, Nelson Leite, coibir esse tipo de ocorrência é uma das prioridades. A ênfase só perde para a fiscalização da alcoolemia. As imprudências mais frequentes sobre duas rodas são dirigir sem habilitação e em alta velocidade, além de trafegar pelos corredores formados pelos veículos.
Embora não exista proibição legal para circular entre os carros, os agentes usam o artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que fixa a distância de segurança para aplicar as penalidades. ;A legislação é falha. Temos que analisar caso a caso. A maioria das mortes causadas por motociclistas têm a imprudência como pano de fundo. Procuramos artigos diferenciados para punir os infratores;, informou Leite. O erro é facilmente identificado nas ruas.
Esse tipo de comportamento causou, no último dia 12, cinco atropelamentos em menos de uma hora na capital do país. As ocorrências tiveram início às 7h, quando um motociclista atingiu três pessoas em Taguatinga Sul. Cinquenta minutos depois, houve outras duas vítimas no Setor Central do Gama e na Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig), no sentido Área Octogonal Sul. Por conta da greve, policiais civis se recusaram a registrar as ocorrências, porque os acidentes não resultaram em mortes.
Educação
O perito criminal e especialista em acidentes de trânsito Rodrigo Kleinübing alerta que as mudanças no CTB deveriam acontecer com urgência. ;O artigo 156, que dava às motos os mesmos deveres que os carros, foi vetado ainda em 1997, quando o código foi concebido. Os problemas começaram aí. Andar no corredor virou um hábito. É necessário um trabalho de educação muito maior para mudar esse comportamento irresponsável dos motociclistas;, afirmou.
Para ele, uma maior atenção por parte dos pedestres na hora de atravessar a rua também pode ajudar na redução dos atropelamentos. ;As motos contribuem para aumentar as estatísticas de pessoas atingidas por veículos nas ruas. O respeito mútuo mudaria a situação.; Entre os requisitos para quem está a pé aparece a travessia em locais específicos para pedestres (leia quadro acima).