postado em 20/11/2011 09:03
As mortes tem endereço fixo no Eixo Rodoviário. Elas ocorrem em maior número na parte do sul da rodovia, nos quilômetros 8, em frente ao Banco Central, e 12, na altura da 213 Sul. Os atropelamentos e as colisões com objetos fixos são as causas mais comuns. No trecho norte, os pontos críticos ficam próximos à Ponte do Bragueto, nos dois primeiros quilômetros. É o que mostra o Anuário Estatístico de Acidentes de Trânsito elaborado pelo Detran. O Correio analisou os dados de 2007 a 2009. Neste período, ocorreram 26 acidentes fatais, sendo 17 (65%) no Eixão Sul. Apesar de serem recorrentes e nos mesmos lugares, as autoridades de trânsito têm se mostrado incapazes de resolver o problema.
Via expressa com o nome oficial de DF 002 e 13,8km de extensão, o Eixão corta o Plano Piloto de uma ponta à outra. Com três pistas em cada sentido, velocidade máxima permitida de 80km/h, boas condições do asfalto, boa sinalização e nenhum semáforo, ele atrai os motoristas que gostam de correr. Os endereços da morte da via parecem ser iguais em tudo. A diferença é que onde ocorre mais colisões são pontos de maior concentração de veículos, como no fim da Asa Norte e no Km 8 do Eixão Sul, o primeiro no ranking dos acidentes fatais. O quilômetro fica próximo ao Banco Central, Setor Comercial Sul, Hospital de Base, onde o movimento é intenso em grande parte do dia.
O diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) ; órgão responsável pela rodovia ;, Fauzi Nacfur Júnior, acredita que esse seja um dos motivos das mortes. ;São áreas que tem muita travessia de pedestre. Mas a questão das batidas não têm muita explicação. Muitos fatores estão envolvidos, inclusive o da fatalidade;, argumenta.
Para ele, a solução seria a população usar as passagens subterrâneas. ;O Eixão é uma via de fluidez, é complicado falar em reduzir o limite de velocidade. Além disso, o DER não tem pessoal suficiente para coibir pedestres de atravessarem no asfalto;, afirma. Fauzi garante que o órgão faz o possível para inibir o excesso de velocidade dos motoristas. ;São 12 pontos de fiscalização eletrônica (pardais). A pessoa não consegue evoluir sem encontrar um radar a cada quilômetro;, justifica. Os radares do DER aplicam, em média, 3 mil multas por mês no Eixão.
Nove acidentes fatais foram registrados no Eixão em 2010, enquanto neste ano, até o momento, houve seis ; incluindo a morte da jovem motorista na última quinta-feira, na altura da 206 Norte, em uma colisão frontal ;, mas o Detran ainda não fechou os dados. O motorista do Fox preto envolvido na mais recente tragédia do Eixão, Alan Neiva Freitas, 32 anos, continua internado em situação estável. Ele foi transferido na sexta-feira para um hospital particular da Asa Sul. De acordo com o sogro, Susumu Gushiken, ele aguarda exames necessários para cirurgias de reabilitação dos braços e as pernas quebradas no acidente. Depois da colisão frontal no Eixão Norte, Alan ficou preso nas ferragens por cerca de uma hora e foi retirado pelos bombeiros que o levaram ao hospital de helicóptero.
Alta velocidade
Dentre os acidentes avaliados com base nos dados do Detran, 18 foram atropelamentos, ou seja, 69,2% total. A alta velocidade é uma das hipóteses da população para justificar os acidentes. Poucos motoristas admitem ultrapassar o limite da via, mas a sensação de quem passa os dias próximo ao Eixão é que aqueles que ficam abaixo dos 80km/h são minoria.
Gerente de um posto de combustíveis na 115 Norte, Aurélio Araújo Ferreira não pensa duas vezes antes de afirmar: ;O pessoal só passa aqui correndo igual doido;. Ele conta ter presenciado algumas batidas. ;Acredito que como é saída para o Lago Norte, Sobradinho, retorno para a W3, o fluxo é muito grande e as pessoas não reduzem a velocidade. No fim da tarde todo mundo voa pra evitar o engarrafamento;, avalia.
O Correio Braziliense percorreu todo o Eixão no sentido Sul-Norte, o de menor fluxo no momento. Entre 12h15 e 12h29 de ontem, o carro da equipe de reportagem ; sempre a 80km/h ; foi ultrapassado por 35 veículos, enquanto só passou por dois automóveis. Na volta, somente entre o trecho da Ponte do Bragueto e o Km 2, no Eixão Norte, a reportagem foi ultrapassada por 10 veículos.
Mesmo com os motoristas insistindo em correr, os pedestres mantêm a preferência por arriscar a travessia por cima. ;Muita gente vem me pedir dinheiro pra chegar em casa porque foi assaltada na passagem. Tem muita droga, é escuro, tem um cheiro insuportável. O pessoal se arrisca a morrer por cima porque ainda tem chance de sair ileso do outro lado;, diz a comerciante Cláudia Araújo, 32 anos, que vende salgados perto do Banco Central.