Adriana Bernardes
postado em 23/11/2011 06:45
O rompimento da rede de esgoto em um canteiro de obras da Construtora Brasal, no Noroeste, formou uma piscina cheia de água contaminada com fezes. O mau cheiro é sentido de longe e o líquido pode transbordar se chover forte ou se houver o entupimento da rede por terra, galhos ou pedras. Caso isso ocorra, a água contaminada descerá pelo terreno, em uma área de cerrado, podendo chegar a outros canteiros de obras. O buraco fica na mesma área onde índios e seguranças das construtoras entraram em confronto pela disputa da terra.
Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que o lençol freático no local já está contaminado e os danos só não serão maiores porque a região não é habitada e, até onde se sabe, não tem poço artesiano para o consumo humano. Explicam ainda que parte do nitrogênio presente no esgoto fatalmente chegará ao Lago Paranoá por meio do lençol freático.
Trabalhadores com quem a reportagem conversou na tarde de ontem informaram que o esgoto começou a vazar na manhã de segunda-feira. Não havia nenhum funcionário da Brasal no local por volta das 14h30, quando o Correio esteve lá. Alunos da Universidade de Brasília (UnB) que apoiam o grupo de índios que vive no local registravam a situação em fotos e vídeo. O estudante de letras Diogo Ramalho garantiu que o caso foi denunciado na segunda ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e ontem, à Polícia Militar Ambiental. Nenhum dos órgãos confirmou a informação. ;Ninguém fez nada. E não se sabe se isso foi de propósito, para conseguirem a inviabilização da área para os indígenas. O buraco hoje está maior do que ontem. Não sei se porque o barranco cedeu por conta da chuva ou se foi aberto;, especulou.
Lago
Professor e pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, Marco Antonio Almeida de Souza avalia que já houve a contaminação do lençol freático. ;É 100% certo que o nitrogênio vai chegar ao Lago Paranoá. Só não causará problema porque lá é a concentração de fósforo que compromete a qualidade das águas;, esclarece.
Para o especialista, os danos seriam maiores se a região fosse habitada e se houvesse poço artesiano para o abastecimento de água das moradias. A possibilidade de transbordamento do líquido precisa ser avaliada e monitorada. ;Se chover muito, pode transbordar e, nesse caso, a situação fica mais preocupante. Isso pode chegar até a pista, onde circulam veículos e pedestres;, disse.
Procurados pelo Correio, o Ibram e a Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb) ainda não sabiam do rompimento da rede por volta das 15h. Primeiro, o instituto respondeu por meio de nota que um ;auditor fiscal do Ibram realizará uma visita ao local amanhã (hoje) para avaliação da denúncia. Após análise da situação, serão tomadas as providências necessárias;. Horas depois, informou que o órgão mandou um técnico ontem mesmo ao Noroeste e isentou a construtora de culpa.
Sem contaminação
De acordo com a nota, a Diretoria de Fiscalização do Ibram afirmou que a forte chuva entre domingo e segunda-feira provocou o deslocamento de uma parte da rede de esgoto próxima a uma projeção da construtora Brasal. ;Em decorrência da movimentação de terra, ocorreu a ruptura de uma manilha que resultou no vazamento de esgoto e, portanto, a construtora não teve nenhuma responsabilidade sobre o problema;. O órgão ambiental garantiu ainda que não houve contaminação no local, uma vez que o esgoto ficou concentrado nas proximidades da manilha.
Em nota, a Brasal Incorporações lamentou o problema e informou que ;o incidente no Noroeste é decorrência da interrupção da obra no terreno, por decisão judicial. Com a chuva do último domingo, a escavação que havia sido feita cedeu, ocasionando o rompimento da tubulação.; De acordo com a construtora, o buraco tem três metros de profundidade e 150 metros quadrados de área.
Técnicos da Caesb estiveram no local. Segundo a assessoria de imprensa, hoje a companhia vai começar o esgotamento da área e o reparo na rede. É possível que os custos do serviço sejam cobrados da construtura. Professor do Instituto de Geociências da UnB, Geraldo Boaventura alertou para a necessidade de se resolver logo o problema. ;Apesar de no momento não haver danos significantes, é necessário bombear o excesso e reparar a rede;, disse.
Obras paradas
A confusão começou em 6 de outubro, quando as construtoras começaram a cercar algumas regiões para dar início às obras. Os índios afirmam que o local é um santuário e que uma área de 50 hectares deve ser respeitada. O terreno está sob avaliação judicial e tem sido palco de conflitos e disputas por parte de empresas e manifestantes que defendem os índios. No momento, uma decisão da Justiça impede a continuação das obras no local.